quinta-feira, 13 de março de 2014

UM GRITO OU UMA TEMPORADA DE REVOLTA? Carlos Chagas

 
 
 
Carlos Chagas 
 

Publicado: 13 de março de 2014 às 7:48
 
Mais valem as imagens do que as palavras e os números. 
A presidente Dilma deveria preocupar-se com as fotografias estampadas nas primeiras páginas dos jornais de ontem, mostrando a euforia com que 267 deputados, dos quais 158 da base oficial, saudaram a derrota do governo na criação de uma comissão destinada a investigar mal-feitos da Petrobras.

Pareciam estar possuídos, não se sabe bem se pelo Diabo ou por Jesus. Quem assistiu as comemorações pela televisão teve direito a escutar os gritos e urros de satisfação por haverem imposto à presidente inesquecível humilhação. 

Dá o que pensar tamanha manifestação carnavalesca em plena quaresma. 

Os deputados estavam se vingando dos maus tratos e do desprezo que recebem do palácio do Planalto ou, no reverso da medalha, mostrando presas e garras para conquistar mais favores, benesses e sinecuras? 

Com ou sem motivos, marcaram uma rebelião capaz de desdobrar-se neste perigoso ano eleitoral.

Registrou-se um daqueles momentos que a ninguém será dado esquecer, marcando mais do que a independência das bancadas de apoio ao governo. 

Tratou-se de uma declaração de guerra, que se não for superada pelo armistício, logo conflagrará a Praça dos Três Poderes.

O governo só conseguiu 28 votos contrários à investigação, com 15 abstenções e o PT sem votar, entrando em obstrução com 89 parlamentares. 

Dos 75 deputados do PMDB, 61 se insurgiram. Do PP, 18. 

Do PR, 24. Do PSD, 21. Foi uma goleada para ninguém botar defeito.

Fazer o quê, no caso de Dilma, para evitar a repetição do motim? Desconsiderá-lo será bobagem. 

Começar a nomear desbragadamente, um risco, já que como o velho tigre da Índia, depois que a fera prova carne humana, não quer saber de outra refeição. 

Retomar o diálogo, inclusive com o líder insurgente, Eduardo Cunha, demandará paciência e humildade, mercadoria não propriamente sobrando nas prateleiras do palácio do Planalto. 

Evitar novo malogro torna-se necessidade premente. 

Menos por conta da eleição presidencial, já que o povão não tomou conhecimento da votação. 

Mais porque nova desmoralização do poder central estimulará os pequenos partidos da base governista para a debandada.

Em suma, a constituição da Comissão Externa de Investigação, na Câmara, não estava nos planos da presidente. Ideli Salvatti e Aloísio Mercadante, como coordenadores políticos, devem ter ouvido poucas e boas, ontem. 

Precisarão recompor os cacos, tanto quanto, se tiverem coragem, repartir com Dilma as causas da rebelião. 

E dando-lhe a maior parte, porque dúvidas inexistem de ter sido a tempestade desencadeada graças à arrogante postura dela diante dos aliados.

Pouco depois da votação os mesmos bicões de sempre já rodeavam o presidente Henrique Eduardo Alves, aliás, felicíssimo. 

São os candidatos a integrar o privilegiado grupo que viajará para a Holanda, certamente com passagem por Paris. 

Uma visita em Amsterdan à SBMoffshore, acusada de ter comprado funcionários da Petrobras para o aluguel de plataformas de extração de petróleo, mas outras, mais alegres e extensas, no Champs Elisées…

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