Extratos bancários do governador do DF e
ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz provam que ele pagou R$ 7.500 ao
PM João Dias Ferreira na mesma época em que Ferreira ameaçava delatar
esquema de corrupção no Ministério.
Reportagem da Folha de S. Paulo:
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), pagou R$ 7.500 para o policial militar João Dias Ferreira na mesma época em que o PM ameaçava delatar um esquema de desvio de recursos em convênios do Ministério do Esporte, quando o órgão era comandado por Agnelo (2003-2006).
As transferências – três depósitos de R$ 2.500, com intervalo de cerca de 30 dias entre cada um – constam dos extratos bancários de Agnelo remetidos pelo BRB (Banco de Brasília) à CPI do Cachoeira esta semana, e aos quais a Folha teve acesso.
A assessoria do governador, procurada na manhã desta quinta-feira (23), ainda não se manifestou sobre o caso.
Os pagamentos ocorreram nos 1º de fevereiro, 4 de março e 31 de março de 2008. Na época, Agnelo, então no PC do B, era diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Em dezembro de 2007, dois meses antes do início dos pagamentos, uma auditoria do ministério identificou fraudes em convênios firmados com ONGs de João Dias.
Com a auditoria, a Polícia Militar do DF abriu uma sindicância para investigar João Dias, que passou, então, a pressionar o ministério a recuar e, segundo o próprio, ameaçou revelar à imprensa as irregularidades ocorridas na gestão Agnelo.
Em abril daquele ano, o ministério, já comandado por Orlando Silva (à época, do mesmo partido de Agnelo Queiroz), esvaziou a apuração contra a ONG de João Dias.
Na ocasião, o ministério havia enviado um ofício em resposta à Polícia Militar relatando irregularidades nos convênios e afirmando que eles estavam inadimplentes.
No entanto, cinco dias depois, o ministério enviou um novo ofício pedindo que o parecer anterior fosse desconsiderado.
Em outubro passado, o policial afirmou à Folha que o recuo ocorreu “pouco depois de fazer ameaças de denunciar à imprensa irregularidades no ministério”.
O sigilo bancário de Agnelo só foi enviado à CPI do Cachoeira pelo BRB, controlado pelo governo do DF, quase dois meses depois do prazo estipulado e gerou reclamação formal da comissão ao banco.
OPERAÇÃO SHAOLIN
O policial João Dias Ferreira chegou a ser preso em abril de 2010, numa operação da Polícia Civil do DF, batizada de Operação Shaolin – uma referência às ONGs do policial, ligadas à prática de artes marciais.
A acusação era relativa aos desvios ocorridos, segundo a polícia, no Programa Segundo Tempo, na época em que Agnelo Queiroz era o Ministro do Esporte.
Operação Shaolin
01/04/2010
às 21:38NOVO ESCÂNDALO DO DF, COM PRISÕES, CHEGA PERTO DO PT E DO PC DO B
Por Rodrigo Rangel, da Agência Estado:
Ainda escaldada pela crise que arrebatou o
ex-governador José Roberto Arruda, a Polícia Civil do Distrito Federal
deflagrou hoje uma operação com potencial para desarrumar ainda mais o
já complicado tabuleiro político local.
A Operação Shaolin, que levou à prisão
cinco pessoas, teve como alvo duas organizações não-governamentais que
receberam R$ 2,9 milhões do Programa Segundo Tempo, do Ministério dos
Esportes. Até 2006, a pasta era comandada por Agnelo Queiroz,
pré-candidato do PT ao governo do DF.
Dirigente das duas ONGs investigadas, o
policial militar João Dias Ferreira, um dos presos hoje, foi candidato a
deputado em 2006 pelo PCdoB, partido ao qual Agnelo era filiado à
época.
Um dos delegados encarregados do caso,
Giancarlos Zuliani, admitiu que investiga a suspeita de que o esquema
tenha servido para financiar campanhas eleitorais. Ele afirmou, no
entanto, que os dados referentes a essa vertente da investigação ainda
estão sendo mantidos em sigilo.
A Polícia Civil nega que a operação,
deflagrada num dia em que não havia expediente na corporação, tenha por
objetivo atingir a possível candidatura de Agnelo Queiroz.
Durante a sucessão de denúncias contra o
governo do DF, a Polícia Civil foi acusada de ter agido politicamente
em favor do então governador, José Roberto Arruda, atualmente preso. Em
depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público, delegados
afirmaram ter sido pressionados a impedir investigações contra aliados
de Arruda.
Com a operação deflagrada hoje, a Polícia
Civil afirma ter descoberto fortes indícios da existência de uma rede
de ONGs, quase todas com ligações partidárias, criadas para desviar
dinheiro de convênios com o governo federal. Contratos de pelo menos
quatro dessas entidades já foram mapeados pelos investigadores. Uma
delas possui convênio também com o Ministério da Ciência e Tecnologia.
Do valor repassado pelo Ministério às
ONGs, a Polícia Civil diz ter detectado o desvio de R$ 1,9 milhão. O
delegado Giancarlos Zuliani disse que a investigação começou em julho
de 2008, após ação de busca e apreensão numa empresa de Brasília
investigada exatamente por vender notas fiscais frias a entidades
não-governamentais.
Na operação foram presos ainda um
assessor e um suposto “laranja” do policial João Dias, o administrador
de suas ONGs e o responsável pela empresa que fornecia as notas frias
incluídas na prestação de contas apresentada ao Ministério dos
Esportes. Bens de João Dias, dentre eles um carro de luxo, a casa e uma
das academias supostamente construídas com o dinheiro desviado, foram
sequestrados por ordem judicial.
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