quinta-feira, 13 de março de 2014

Sujeira, favelas, violencia, educação e saude sucateadas, criminalidade crescente... Ladrões trapalhões




Um tentou escapar correndo até delegacia; outro postou sua própria foto
 
Júlia Carneiro
julia.carneiro@jornaldebrasilia.com.br


Segurança pública é coisa séria, mas quando o ladrão toma decisões inesperadas e se coloca nas mãos da polícia, parece cômico. 

Alguns suspeitos atrapalhados deixaram a sua marca nas ruas do Distrito Federal. 

Um homem de 46 anos, após assaltar um micro-ônibus em Ceilândia, fugiu da cena do crime e decidiu se enconder... dentro da delegacia. 

Outro indivíduo, após roubar o celular de uma mulher, alterou a foto de perfil da conta de um aplicativo de mensagens instantâneas colocando uma imagem dele mesmo. 

José Mendes, 45 anos, trabalha como motorista de micro-ônibus  há dois  anos, em Ceilândia. 

Na sexta-feira passada, ele foi surpreendido por um assalto, mas o que ficou na memória não foi simplesmente o trauma do crime. 

“Eu escutei a muvuca e falaram que era um assalto. Abri as portas para todos descerem”, relata o motorista, que chegou a ver o ladrão ameaçar a cobradora com uma faca.

Depois de  saírem do ônibus,  todos decidiram  correr atrás do homem. 

 José   cercou o suspeito de modo   que ele não tivesse outra opção a não ser ir na direção da delegacia. 

“Ele foi para cima de mim com a faca e eu entrei na DP. Aí, ele entrou logo em seguida, colocou a mão no meu ombro e perguntou: 'O que está acontecendo?'”, conta. 


Quando José denunciou o assalto   e disse que o homem  era o suspeito, ninguém acreditou. Os agentes só se convenceram quando  as outras vítimas chegaram. “Só então algemaram ele. 

O agente falou que eles estava muito drogado, fora de si. Parece que ele é pai de família,  não tem pinta de bandido”, admite. 


O despreparo do homem e seu perfil atípico   levam a crer que o crime foi de oportunidade. 

“São ações espontâneas, sem planejamento e completamente desorganizadas”, acredita Analía Soria Batista, professora   de sociologia da UnB.

Na terça, mais um atrapalhado resolveu mostrar a cara, literalmente. 

Três homens assaltaram um salão na Asa Norte. Horas depois, a lista de contatos da dona da empresa teve uma surpresa: a foto do aplicativo  Whatsapp estava com uma foto dele. 

Até o fechamento desta edição ele continuava foragido, mas, graças à pista que ele deixou, a polícia sabe   por quem procura.

Vontade de fazer justiça

A reação  das vítimas, tomadas por uma vontade de fazer justiça com as próprias mãos, tem sido recorrente em casos similares. 

Para o professor de segurança pública  Nelson Gonçalves, da Universidade Católica , esse quadro é perigoso. “Uma sociedade civilizada tem que utilizar de suas ferramentas legais para que criminosos sejam punidos de forma severa. Se voltarmos para a lei ‘dente por dente e olho por olho’, estaremos encaminhando para uma barbárie”, alerta. 

A sensação de impotência   é o que leva a comunidade a reagir. “Nós estamos vivenciando uma situação em   que as comunidades estão com essa sensação de que estão abandonadas pelo Estado, em termos de proteção”, destaca Nelson Gonçalves. 

Para alguns, a violência já está se tornando comum. Cristina Miranda trabalha em Ceilândia,  perto do local onde ocorreu o assalto ao micro-ônibus, e conta já está ficando acostumada com a situação, de tão corriqueira. “Já houve mais de três vezes que vi assaltos dentro de ônibus nessa parada”, relata. 

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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