quinta-feira, março 13, 2014
O GLOBO - 13/03
Para PSDB, apagão cairia como bênção dos céus. Para PT, falta de água em São Paulo poderia ser o golpe final no reinado tucano
Demorou, mas hoje petistas e tucanos depositam a mesma esperança — e fé — numa mesma pessoa: São Pedro. Todos, unidos, rezando pela chuva.
Um racionamento de água em São Paulo, estado dominado pelo PSDB, seria um desastre não apenas para o governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, mas para as pretensões nacionais de Aécio Neves.
Reparem a importância da coisa. Nas últimas presidenciais, o PT, com Lula e Dilma, ganhou fácil em Minas e ali acumulou boa vantagem.
Para PSDB, apagão cairia como bênção dos céus. Para PT, falta de água em São Paulo poderia ser o golpe final no reinado tucano
Demorou, mas hoje petistas e tucanos depositam a mesma esperança — e fé — numa mesma pessoa: São Pedro. Todos, unidos, rezando pela chuva.
Um racionamento de água em São Paulo, estado dominado pelo PSDB, seria um desastre não apenas para o governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, mas para as pretensões nacionais de Aécio Neves.
Reparem a importância da coisa. Nas últimas presidenciais, o PT, com Lula e Dilma, ganhou fácil em Minas e ali acumulou boa vantagem.
Em
compensação, o PSDB ganhou direto em São Paulo, com FH, Serra e Alckmin.
Neste ano, Aécio vai dar uma lavada em Minas. Se os tucanos mantiverem a
vantagem em São Paulo, a coisa fica boa para eles.
Ou seja, a chuva na Cantareira, principal reserva de água da região metropolitana de São Paulo, é um fator eleitoral crucial.
Do mesmo modo, se Dilma for obrigada a promover um racionamento de energia elétrica, cairá nos reservatórios secos um dos seus discursos mais fortes: o de criadora e gerente de um novo e eficiente setor elétrico. Aquela que reduziu as tarifas.
A coisa é tão dramática para os dois lados que, com algum realismo político — cinismo, vá lá —, PT e PSDB poderiam fechar um negócio: um raciona a energia; outro, a água paulista; e todos colocam a culpa em São Pedro.
Assim: sabe, o sistema físico é bom nos dois casos, mas o que se pode fazer contra as forças divinas?
Ou seja, a chuva na Cantareira, principal reserva de água da região metropolitana de São Paulo, é um fator eleitoral crucial.
Do mesmo modo, se Dilma for obrigada a promover um racionamento de energia elétrica, cairá nos reservatórios secos um dos seus discursos mais fortes: o de criadora e gerente de um novo e eficiente setor elétrico. Aquela que reduziu as tarifas.
A coisa é tão dramática para os dois lados que, com algum realismo político — cinismo, vá lá —, PT e PSDB poderiam fechar um negócio: um raciona a energia; outro, a água paulista; e todos colocam a culpa em São Pedro.
Assim: sabe, o sistema físico é bom nos dois casos, mas o que se pode fazer contra as forças divinas?
Ou, para os não crentes, o que se pode fazer diante de
uma aberrante alteração climática? Aliás, viajando mais um pouco, os
dois lados poderiam anunciar algumas medidas ambientalistas.
As duas providências — os racionamentos e as políticas ambientais — seriam do interesse da nação.
As duas providências — os racionamentos e as políticas ambientais — seriam do interesse da nação.
Técnicos do setor, informalmente, se não em
público, dizem que, nas circunstâncias meteorológicas atuais, já seria o
caso de ao menos ter preparado e anunciado tanto o racionamento de
energia quanto o de água.
No mínimo, um consumo seletivo deveria estar
em curso. Por exemplo: restrições negociadas com os maiores
consumidores.
Seria um caso em que interesses de dois partidos divergentes coincidiriam entre si e com os do país — que, certamente, não precisa de um racionamento descontrolado de água em São Paulo e de energia em alguns estados.
Verdade que há aí um desequilíbrio político. O racionamento de água seria estadual. O de energia, nacional.
Seria um caso em que interesses de dois partidos divergentes coincidiriam entre si e com os do país — que, certamente, não precisa de um racionamento descontrolado de água em São Paulo e de energia em alguns estados.
Verdade que há aí um desequilíbrio político. O racionamento de água seria estadual. O de energia, nacional.
Por outro lado, também é verdade que um desastre em São Paulo, maior
colégio eleitoral, não seria um fato apenas estadual.
Tudo considerado,
tucanos poderiam oferecer alguma compensação aos petistas — tipo parar
de colocar fogo na briga PMDB/Dilma ou esquecer a investigação sobre a
Petrobras.
Enfim, jeito tem, na brincadeira ou a sério.
Mas isso fica mais para especulação divertida porque o clima de divisão do país está mais pesado que a seca. Os dois lados continuam rezando para São Pedro, mas com pedidos trocados: que chova nos meus reservatórios, mas não nos deles.
Sem negócio, ficamos assim: se houver duplo racionamento, talvez os prejuízos partidários se equilibrem.
Enfim, jeito tem, na brincadeira ou a sério.
Mas isso fica mais para especulação divertida porque o clima de divisão do país está mais pesado que a seca. Os dois lados continuam rezando para São Pedro, mas com pedidos trocados: que chova nos meus reservatórios, mas não nos deles.
Sem negócio, ficamos assim: se houver duplo racionamento, talvez os prejuízos partidários se equilibrem.
E parece
ser esta a expectativa comum, não confessada, de cada lado: se a seca
determinar um duplo racionamento, dá empate no desastre; se chover e
acabar o problema, empate de novo, no alívio.
Só haverá prejuízo
partidário individual se apenas um lado for obrigado a fazer o
racionamento.
Para o país, é claro, o melhor seria o empate no alívio. Para o PSDB, um apagão cairia como bênção dos céus.
Para o país, é claro, o melhor seria o empate no alívio. Para o PSDB, um apagão cairia como bênção dos céus.
Para o PT, a
falta de água em São Paulo poderia ser o golpe final no reinado tucano e
nas pretensões de Aécio.
Não parece que essa seja uma estratégia pensada e montada por cada partido. Na verdade, os dois estão agindo mais no improviso, na torcida e no medo — o que fala mal a respeito dos dois.
E, por falar nisso, o governador Eduardo Campos observa tudo de um cenário privilegiado: ele não terá culpa de nada.
Não parece que essa seja uma estratégia pensada e montada por cada partido. Na verdade, os dois estão agindo mais no improviso, na torcida e no medo — o que fala mal a respeito dos dois.
E, por falar nisso, o governador Eduardo Campos observa tudo de um cenário privilegiado: ele não terá culpa de nada.
Se houver
duplo racionamento, ele poderá reforçar seu discurso de administrador
mais eficiente e com olhos no futuro, contra os dois adversários.
Sem
contar que terá a seu lado Marina Silva, que deixou o PT e o governo
Lula porque não topava suas políticas ambientais.
Campos poderá aparecer
na TV, ao lado dela, ouvindo da vice: “Eu não dizia?” E Campos: “Pois
agora vamos fazer.”
Assim, eis o caderno de questões:
a) a falta de chuva e um racionamento duplo derrubam Dilma e Aécio;
b) chuvas boas, mas localizadas, derrubam uma ou outro;
c) chuvas para todos deixam o cenário como está.
Eduardo Campos ganha na primeira e na segunda, fica na mesma na terceira.
Engraçado, não? Há muito mais que água nesse clima.
Assim, eis o caderno de questões:
a) a falta de chuva e um racionamento duplo derrubam Dilma e Aécio;
b) chuvas boas, mas localizadas, derrubam uma ou outro;
c) chuvas para todos deixam o cenário como está.
Eduardo Campos ganha na primeira e na segunda, fica na mesma na terceira.
Engraçado, não? Há muito mais que água nesse clima.
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