FINANÇAS
ISTO È
Nº edição: 379 |
08.DEZ.04 - 10:00
|
Corrupção e prisão no TCU
Time do primeiro escalão manobrava licitações, desviava e recebia propina
Por Hugo Studart
Uma operação de guerra da Polícia
Federal tomou de assalto o órgão encarregado de combater a corrupção
dentro do governo, o Tribunal de Contas da União (TCU).
Objetivo: caçar
corruptos instalados nos mais altos escalões da sua burocracia.
Às seis
horas da manhã da quinta-feira 2, 80 agentes federais com metralhadoras e
capuzes foram mobilizados para, em meia hora de buscas e apreensões,
concluírem a chamada Operação Sentinela.
Foram presos em suas casas
quatro funcionários do alto escalão do TCU e seis empresários ligados a
esquemas de fraudes em licitações.
Na sede do tribunal foram apreendidos
computadores e 30 caixas com documentos.
O secretário-geral de
Administração do TCU, Antonio José Ferreira Trindade, foi um dos
primeiros a ser preso, acusado de interferir em compras na Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Ele ocupa o cargo há pelo menos
uma década.
Os juízes do tribunal foram os últimos a
saber da ação da polícia. Às 7h30, depois do furacão causado pela
passagem dos agentes federais, o presidente do TCU, Valmir Campelo,
convocou uma reunião com os demais seis ministros para avaliar os
estragos.
Essa reunião durou cinco horas e meia. “É lamentável”,
limitou-se a dizer ao final.
“Da mesma forma que investigamos os órgãos
externos, faremos aqui dentro.”
A surpresa ficou por conta da prisão do
empresário Enio Brant, diretor-comercial da Confederal, empresa de
prestação de serviços para diversos órgãos do governo nas áreas de
segurança e limpeza.
Ela tem como um dos sócios o ministro das
Comunicações, Eunício Oliveira.
Em nota oficial, o ministro informou
estar afastado da Confederal desde 1998.
Sua mulher, Mônica Andrade, é a
responsável pelas finanças da empresa, assinando todos os seus cheques.
DINHEIRO teve acesso, com exclusividade,
ao despacho do juiz Clovis Barbosa de Siqueira, da 10a Vara Federal, que
determinou a ação policial.
Ali fica claro quem é quem e como se dava o
esquema.
O chefe do grupo é Robério Bandeira de Negreiros, dono da
Brasfort, empresa que presta serviços de segurança e conservação para a
Aneel nos últimos cinco anos.
Seu contato no TCU era o secretário-geral
Trindade. Foi Trindade quem alterou o parecer submetido ao plenário do
TCU para favorecer o colega, que ganhou as licitações de R$ 9,7 milhões.
O despacho do juiz ainda mostra a participação de Leila Fonseca
Vasconcelos, chefe do Controle Interno do tribunal. Ela também foi
presa. Segundo o despacho, “os telefonemas demonstram grande intimidade
entre os dois”.
Outra figurona presa pela PF foi Vera Lucia de Pinho
Borges, presidente da Comissão de Licitação do TCU.
Pelo relato do juiz
Siqueira, Vera teria falado algumas vezes com Negreiros sobre a
concorrência. Pelo teor das conversas, “ela foi pressionada por Trindade
para acatar as pretensões da Brasfort”.
A empresa queria maquiar a
licitação, apresentando um falso capital social de R$ 400 mil para
impedir a participação da Juiz de Fora, sua concorrente no processo.
O
quarto servidor do TCU preso foi Fernando César Almeida.
“Ele foi
designado por Trindade para controlar as vistorias das empresas
interessadas na licitação”, afirma o despacho.
Almeida ainda teria
“fornecido a Robério Negreiros todas as informações que lhe eram
interessantes sobre as concorrentes”.
O grupo de servidores do TCU teria
levado R$ 100 mil pelo trabalho. O que se sabe até agora, porém, pode
ser apenas a ponta de um iceberg de corrupção.
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