Em meio a um verdadeiro canteiro de obras, passageiros relatam desconforto ao utilizar terminal
patricia.fernandes@jornaldebrasilia.com.br
A 49 dias da Copa do Mundo, os reflexos da ampliação e modernização do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek ainda são uma perspectiva distante. Por lá, o quadro é de desorganização e desconforto.
No embarque e desembarque, passageiros dividem espaço com andaimes, tijolos e sacos de cimento. Na praça de alimentação, o cheiro de tinta e a poeira parecem ser ingredientes das refeições.
A realidade, comparada a outros países, é ainda mais desanimadora. A opinião é do empresário Paulo Rodrigues, 31 anos. Nascido em Portugal e residente na Suécia, ele relata que sempre vem a Brasília e ultimamente os transtornos no embarque e desembarque vêm aumentando.
“Hoje é um dia relativamente tranquilo, mas a cena é de bagunça. No desembarque internacional, não há informação de nada. Está tudo mal sinalizado. A sorte é que, por viajar muito, eu tenho uma noção e me viro mais facilmente”, salienta o empresário.
A falta de ar-condicionado também é criticada pelo empresário: “É um calor insuportável lá dentro. Quando há atraso, é ainda pior”, diz. Leitor assíduo da imprensa internacional, ele assegura que a preparação do Brasil para a Copa do Mundo tem sido uma preocupação mundial. “Há uma incerteza do que vai acontecer. O transporte público, o deslocamento dentro do próprio aeroporto... tudo vai ser um desafio”, pontua.
Para o fotógrafo Carlos Veras, 70 anos, no entanto, mesmo diante dos problemas atuais, há possibilidade “de as coisas tomarem prumo e tudo sair bem até a Copa”. Segundo ele, o potencial humano do brasiliense fará a diferença.
Alimentação indigesta
Ao pagar uma passagem aérea, o passageiro espera que as necessidades básicas sejam atendidas, isso inclui ter o direito de fazer uma refeição em local e condições adequados. Mas, no Aeroporto JK, ao lado da praça de alimentação há uma espécie de canteiro de obra. Ali, os usuários fazem suas refeições de forma improvisada e sem comodidade.
“Essas obras têm sido feitas de forma inconveniente, principalmente na praça de alimentação. Fui obrigado a me deslocar em função do forte cheiro de tinta e do barulho excessivo”, ressalta o empresário Jorge Maria de Araújo, 67 anos.
Segundo Jorge, a presença de elementos como poeira e cheiro de produtos químicos são um risco à saúde. “A engenharia deveria fazer uma divisão melhor entre as obras e a parte da alimentação. É um desrespeito conviver com isso”, diz.
Usuário paga caro, mas não tem retorno
O empresário Jorge Maria de Araújo nasceu em Portugal, mas mora há
40 anos no Amapá, e costuma viajar para outras cidades. O passageiro
ressalta que não existe uma contrapartida justa entre o valor pago
pelos usuários e os serviços oferecidos. “Pagamos impostos e tarifas
muito caras, não é normal passarmos por isso”, considera.
Para Araújo, o atendimento prestado aos clientes também está em
descompasso com as normas previstas. “Estou aqui desde cedo e não vi um
atendimento bom”, diz. Declaradamente apaixonado pelo Brasil, ele
garante que deseja que a capital do País tenha condições de receber a
Copa. “Mas tenho minhas dúvidas, estou preocupado”, salienta.
Na visão do empresário, a falta de planejamento pode ter sido a
responsável pela letargia das obras. “Em outros países, como Qatar, que
sediará a próxima Copa, as obras estão em estado mais adiantado do que
aqui”, argumenta, dizendo-se decepcionado.
Espaço “nem parece o Brasil (?!)”
Inaugurada na semana passada, a nova sala de embarque para voos domésticos parecia uma alternativa para minimizar os percalços sofridos pelos usuários. Com vista panorâmica para o pátio de aeronaves, o espaço deve oferecer variedade de restaurantes e pontos comerciais. Durante a inauguração, a afirmação de que o terminal nem parecia o Brasil, feita pelo ministro da Aviação Civil, Moreira Franco, causou polêmica e foi criticada pela presidente Dilma Rousseff.
Apesar da enaltecerem a nova estrutura, alguns passageiros
reforçam que ajustes ainda devem ser feitos para que o espaço alcance o
nível ideal. “As esteiras deram problema e ficamos aguardando mais de
uma hora. Parece pouco, mas a gente já viaja com todo o tempo
programado”, declara o bancário Divino Antônio Alves, 33 anos. Segundo
ele, a “borracha da esteira estava nitidamente desgastada”, relata.
Bagagens
O também bancário Ronan Dias, 33 anos, faz observação parecida: “o
equipamento é novo, mas com utensílios, como a borracha, velhos”,
declara. Além disso, ele frisa que há uma desorganização na colocação
das bagagens no equipamento. “A gente fica meio perdido, pois vem
bagagem de várias localidades”, disse.
Quem também teve problemas com sistema de controle de bagagem foi o
técnico de máquinas Adriano Rodrigues, 40 anos. “Minha bagagem sumiu e
só apareceu após quase duas horas”, conta. Mas, segundo o passageiro, o
incidente não foi o maior transtorno. “Enquanto esperava, a falta de
ar-condicionado era infernal”, conta.
“Uma senhora de cerca de 90 anos passou mal, teve que se acomodar
no carrinho que transportava sua bagagem”, relata. De acordo com ele, a
falta de informação também foi um agravante. “O nível de tratamento por
parte dos funcionários precisa melhorar. Ninguém informa nada”, diz.
Estacionamento
De acordo com outra passageira do Aeroporto JK, que preferiu não
se identificar, a segurança dos aeroportos também deixa a desejar. “No
último estacionamento não tem cancela, só um guarda fica lá de vez em
quando. Chegar à noite é assustador” relata a passageira, que cobra mais
atenção da administração do terminal com a segurança dos motoristas.
Voo atrasa e passageiros ficam na mão
Após ganharem uma viagem da empresa onde trabalham, 26 pessoas
saíram de São Luís (MA) com destino à Natal (RN). No entanto, para
chegar ao destino, houve conexão no Aeroporto JK. O voo da TAM, até
Brasília, estava previsto para às 7h08, mas decolou somente às 9h44,
chegando às 11h45. Com isso, o grupo perdeu o segundo voo, agendado em
outra companhia, e foi informado de que só teria outro voo 24 horas
depois.
Os passageiros informaram que não receberam nenhum tipo de suporte
por parte da operadora. “Se atrasou, a culpa era deles. Mas eles
simplesmente falaram que não tinham nada com isso”, conta o vendedor
Euzo Hofmam, 26 anos. “Como vamos ficar aqui 24 horas com recursos
próprios? Não temos condições. Eles atrasaram e agora falam que não
podem fazer nada. É muito descaso”, declara.
Procurada pela reportagem, a TAM informou que o voo decolou com
atraso por conta de problemas meteorológicos. A empresa disse que
“lamenta o transtorno e ressalta que prestou toda a assistência
necessária”. A TAM confirmou que foi oferecida a opção de reacomodação
em um voo somente hoje. Os passageiros optaram por embarcar ontem com
recursos próprios.
Versão Oficial
Segundo o Consórcio Inframerica, algumas áreas do aeroporto
continuam em obras e as reformas e ampliações estão sendo entregues
gradativamente. A administradora do terminal destaca que a situação é
temporária. Quanto às reclamações referentes ao ar- condicionado, a
empresa afirma que “está realizando também a modernização e a reforma
completa do sistema central. O processo de substituição poderá afetar
algumas áreas pontuais”. Já em relação às esteiras, a consórcio explica
que houve “a troca das antigas esteiras de bagagem por equipamentos de
última tecnologia”. De acordo com a Inframerica, as esteiras
recentemente inauguradas estão em fase de operação assistida até final
de abril, o que pode gerar paradas para ajustes operacionais. Quanto aos
questionamentos sobre o atendimento prestado pelos funcionários, a
companhia afirmou que “a equipe foi reforçada e funciona 24h por dia.
Todos os atendentes são bilíngues e treinados para auxiliar e responder
as dúvidas dos passageiros”, concluiu. O estacionamento, criticado por
uma passageira, “ainda funciona com acompanhamento de um funcionário ao
lado da cancela, pois todo o sistema será modificado”, detalha. A
Inframerica ressalta que as obras contemplam as regras de acessibilidade
para melhor atender passageiros portadores de necessidades especiais.
Integrantes da Inframerica criaram um Comitê de Acessibilidade, para
sinalizar as mudanças que precisam ser feitas, e a equipe de
atendimento ao cliente foi treinada.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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