segunda-feira, 21 de abril de 2014

INFLAÇÃO E PREÇOS ARTIFICIAIS









Controlar preços para maquiar a inflação, é criar um monstro com tentáculos assustadores. É questão de tempo a conta chegar e a grande vítima será a sociedade, com efeito devastador para as classes trabalhadoras. Com a inflação reprimida pela irresponsabilidade de um governo, ao ser atualizada pela irrevogável lei da economia, a perda de poder aquisitivo será massacrante para os assalariados. Uma economia séria e saudável se alicerça nos binômio “preços livres + preços administrados”.

 

Desde a milenar Mesopotânia, a lei da oferta e da procura é fundamento inegociável para quantificar valores de bens e serviços. Preços livres são aqueles definidos pelo marcado, se a inflação cresce eles são automaticamente atualizados. Preços administrados  são controlados pelo governo. Quando a mágica contábil é praticada por governos, a falsificação  das expectativas inflacionárias torna-se realidade. A racionalidade econômica é atropelada com objetivos populistas e eleitoristas. 


Autêntico estelionatarismo econômico. O economista Armínio Fraga é objetivo: “O custo de tomar medidas impopulares é muito menor do que a de não tomar.”

“Dilma fará discurso de que segurar preço é melhor para o trabalhador”, era a manchete da página B3, do jornal “Folha de S.Paulo” (6-4-2014). Relatava a reunião reservada no Palácio da Alvorada, com vários ministros, “a presidente da República, discutiu estratégia para desconstruir discurso da oposição de que o governo segura artificialmente os preços administrados, empurrando para 2015 reajustes da gasolina e da energia”.

 

Na reunião, pontificou o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações: “Ao criticar o governo por segurar os preços administrados, o que Aécio e Dudu Campos defendem é o aumento da gasolina e da conta de luz. Os investidores aplaudem esse discurso, ficam excitados, mas, quando o povo souber o que isso significa, não vai gostar nem um  pouco”. Fica claramente comprovado que o achatamento artificial dos preços administrados é uma política oficial de curto prazo. No médio e longo prazo fadada a gerar situação insustentável e dramática para a população.



As “mães e tutores” da representação popular chegam ao surrealismo de advertir os candidatos da oposição de, supostamente, o povo não gostar nem um pouco, eles falarem a verdade. O ministro da Fazenda amplia o irrealismo afirmando que “a inflação está estável, sob controle e não preocupa”. É contestado pela escalada dos preços, penetrando agressivamente no bolso dos trabalhadores.

 

Do quitandeiro às redes de supermercado. Sinaliza permanentes reajustes, fruto da inflação reprimida, em vários segmentos econômicos. A última pesquisa Datafolha aponta que a população em 65% acredita que a inflação vai aumentar e 45% consideram que o desemprego vai crescer nos próximos meses. Nesse cenário adverso não será surpresa se o governo optar por aumento de impostos, numa escalada de desespero, para financiar a gastança pública.

 

Naquela reunião do Palácio da Alvorada, a presidente da República, deveria ter convidado o fundador do PT, economista sério e independente Amir Khair. Em “O Estado de S.Paulo” (6-4-2014), o antigo militante petista é objetivo: “Este ano vão piorar ainda mais os fundamentos macroeconômicos do País. Além de piora nos fundamentos, deverá continuar o desgaste nas duas maiores empresas estatais: Petrobrás e Eletrobrás entupidas de dívidas, que continuam em ascensão  por serem obrigadas a praticar preços e tarifas artificiais e funcionar como biombos da inflação, em vez de cumprir objetivos de expansão estratégicos ao País.”


E sentencia: “O represamento dos preços administrados parece já estar atuando no sentido oposto do que o governo deseja, ou seja, os agentes econômicos prevendo os reajustes que virão já estão se antecipando no reajuste de bens e serviços dos combustíveis e da energia elétrica há o risco de rompimento da meta de inflação neste ano. É o feitiço virando contra o feiticeiro”.

 

O fato determinante é indiscutível: o governo Dilma Rousseff herdou do antecessor uma sucessão de erros e equívocos que foram aperfeiçoados na sua administração. Com isso atingiu no coração a estabilidade econômica, onde a manipulação dos preços administrados afetou a sua própria credibilidade de gestora. As contas públicas foram desestruturadas, fruto de submissão distribuída a mancheia a bancos públicos e setores privados, é outro indicativo.

 

Igualmente a irresponsável mexida na taxa de juros, reduzindo para 7,25%, acreditando que estimularia o crescimento econômico. Hoje a taxa Selic está em 11%, a inflação indomesticada agregada a baixo crescimento da economia. O agravamento das contas externas, de acordo com o Banco Central, em 2013, gerou um déficit de US$ 82 bilhões. E para 2014, a performance deve se repetir. Vale dizer o Brasil é hoje vulnerabilíssimo aos capitais internacionais especulativos. A sucessão de erros, equívocos e notável autossuficiência na condução da política econômica, vai cobrar terrível preço da sociedade brasileira.

 

O ano de 2015 não será fácil. Preparem os cintos, o vôo vai ser muito turbulento.



20 de abril de 2014


Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991).

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