21/04/2014
às 6:33
José
Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, concedeu uma entrevista ao
Estadão de domingo e afirmou que Dilma não pode fugir à sua
responsabilidade na compra da refinaria de Pasadena. O que isso quer
dizer?
Quer dizer
que os grupos lulista e dilmista do PT estão em guerra nessa história,
como já escrevi aqui. O lulista Gabrielli disse duas coisas na
entrevista ao Estadão. A primeira: o conselho de administração, de fato,
desconhecia as cláusulas “Put Option” e “Marlim” quando aprovou a
compra da refinaria de Pasadena. A primeira obrigava a Petrobras a
adquirir os outros 50% da empresa no caso de desentendimento entre os
sócios. A segunda garantia à Astra Oil uma rentabilidade anual de 6,9%,
independentemente das condições de mercado. Muito bem! Dilma poderia ter
ficado contente: afinal, ela afirmou que, de fato, não sabia da
existência das ditas-cujas.
Ocorre que
Gabrielli não parou por aí. Ele afirmou uma segunda coisa: que Dilma,
apesar disso, não deve “fugir a sua responsabilidade”. Atenção! Ele
empregou essa expressão mesmo! E isso quer dizer que o ex-presidente da
Petrobras, hoje secretário do Planejamento da Bahia — cujo governador é
Jaques Wagner, petista como ele e um dos conselheiros da Petrobras
quando Pasadena foi comprada —, está acusando Dilma de tentar tirar o
corpo da reta. Gabrielli sustenta, a exemplo do que fez Nestor Cerveró, o
tal diretor que fez o memorial executivo, que as cláusulas eram
irrelevantes.
Isso
traduz uma luta interna, intestina mesmo — para usar um termo com uma
significação mais ampla e adequada ao caso. A Petrobras hoje divide em
dois grupos o petismo: há os lulistas, que acham que a presidente Dilma
fez uma grande besteira ao censurar publicamente a compra de Pasadena e
afirmar que só concordou porque estava mal informada. E há os dilmistas,
que acreditam que ela não é obrigada a arcar com erros evidentes do
passado. Gabrielli, como todo mundo sabe, joga no time de Lula. É mais
um, diga-se, que já afirmou que não aceita ser usado como boi de piranha
do partido.
Eu já
escrevi aqui algumas vezes que Gabrielli sempre soube de tudo, desde o
princípio. Era o manda-chuva inconteste da empresa. Mas é preciso que
fique evidente também — e há vários posts meus a respeito — que não
tardou para que Dilma tivesse ciência plena do que estava em curso. Ela,
de fato, liderou a rejeição à compra da segunda metade da empresa, mas,
derrotada na Justiça americana, não tomou providência nenhuma para
punir os faltosos: nem como ministra da Casa Civil e presidente do
Conselho nem como presidente da República.
É claro
que Gabrielli está puxando a faca. O Planalto, por enquanto, preferiu
ficar calado. Também, convenham: vai dizer o quê? A oposição cumpre o
seu papel, que é o óbvio e o lógico. Se o petista Gabrielli está dizendo
que Dilma não pode fugir às suas responsabilidades, só resta afirmar
que aí está mais um motivo para que se instale a CPI da Petrobras. A
ministra Rosa Weber, do Supremo, pode decidir nesta terça o destino do
pedido de liminar da oposição.
Uma coisa
vocês devem ter em mente: Gabrielli não é um franco-atirador. Quando
joga Dilma no centro da fogueira, está agindo a serviço do grupo que
quer Lula candidato à Presidência da República pelo PT. Para isso, eles
leiloam a própria mãe. Por que não leiloariam Dilma Rousseff?
Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário