A Petrobras afirmou ontem que considera "normal" um saque de US$ 10 milhões feito em 2010 em uma conta da refinaria de Pasadena em uma corretora. O valor foi retirado apenas com base em uma autorização verbal, sem registro contábil.
A realização do saque foi revelada pelo jornal "O Globo", na edição de ontem, com base em relatório de auditoria feita pela empresa em 2011, ao qual a publicação teve acesso.
O documento relatava "falta de autorização documental para saque em corretora". A retirada teria ocorrido em 5 de fevereiro de 2010.
Naquele período, a Astra ainda era sócia da Petrobras, a quem vendeu 50% da refinaria em 2006. Os sócios estavam em disputa judicial havia oito meses, mas os representantes da empresa belga já tinham deixado o dia a dia de Pasadena.
Segundo a reportagem, o documento não traz os nomes de quem autorizou e de quem realizou o saque, ou qual foi o destino do dinheiro. O valor estava depositado na corretora MP Global, que entrou em falência em 2011.
A auditoria, segundo "O Globo", foi realizada pela Gerência de Auditoria de Abastecimento, para verificar a gestão dos combustíveis produzidos e comercializados.
De acordo com a reportagem, foi detectada ainda diferença de US$ 2 milhões no estoque em maio de 2010, devido a lançamento incorreto.
A auditoria teria apontado, ainda, operações simultâneas de entrada e saída de combustíveis nos tanques, dificultando o controle, e falta de integração entre sistemas financeiro e de estoque.
Ao ser procurada pela Folha para falar do caso, a Petrobras emitiu nota em que diz considerar "normal" o saque autorizado verbalmente, por ser "uma atividade usual de trading (comercialização de combustíveis)". "Não foram constatadas quaisquer irregularidades no saque."
Apesar disso, a empresa diz que "foi acatada a recomendação de formalizar e arquivar a documentação de suporte relativa aos saques efetuados em contas mantidas em corretoras".
Em relação a estoques, a Petrobras diz estar providenciando a resolução dos problemas apontados.
Há duas semanas, em depoimento ao Senado, a presidente da Petrobras, Graça Foster, disse que a compra de Pasadena, entre 2006 e 2012, "não foi um bom negócio".
A aquisição custou, no total, US$ 1,25 bilhão à Petrobras. O grupo belga CNP, dono da Astra, divulgou, em 2005, ter pago US$ 42,5 milhões pela refinaria. A Petrobras contesta o valor. Diz que a Astra pagou US$ 360 milhões, considerando investimentos e estoques.
O negócio é investigado pelo TCU (Tribunal de Contas da União), pela CGU (Controladoria Geral da União), pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e por auditoria interna. Também deverá ser alvo preferencial da CPI da Petrobras no Senado.
Em março, a presidente Dilma Rousseff alegou ter se baseado em um documento "falho" como justificativa para ter aprovado a compra da refinaria, em 2006, quando presidia o conselho de administração da Petrobras.
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