Atualizado em 30 de junho, 2014 - 17:34 (Brasília) 20:34 GMT
Quando a Fifa anunciou ter
escolhido o Fuleco, um tatu-bola, para ser o mascote da Copa do Mundo,
ambientalistas que lutam pela preservação do animal aplaudiram. Essa
seria a chance de tirá-lo do risco de extinção.
No capítulo mais recente dessa novela, a ONG explica ter feito uma nova proposta, já com a Copa em curso, sugerindo que a Fifa colaborasse com US$ 1,4 milhão - o equivalente a 15% do valor total do projeto. Até o momento, a entidade do futebol não respondeu.
"Não aceitamos a proposta de R$ 300 mil reais porque, com esse valor, a Fifa não apóia de verdade o projeto para evitar a extinção do tatu-bola", disse Rodrigo Castro, secretário-geral da Associação Caatinga.
"Fora isso, entendemos que a Fifa poderia ter envolvimento muito maior [na preservação] do tatu-bola do que explorar a imagem de animal em extinção para lucrar em cima dele."
Novela
As conversações entre a Fifa e a ONG começaram, segundo Castro, em janeiro de 2013, quando ele se reuniu com o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke. A indicação foi a de que o ambientalista procurasse Frederico Addieche, diretor de responsabilidade social corporativo da Fifa."Uma delas era a de que a cada Fuleco de pelúcia vendido, US$ 1 fosse doado para a preservação do tatu-bola", conta o ambientalista.
No site da Fifa, os bonecos de pelúcia do Fuleco estão em promoção: o menor sai por R$ 79,90 (anteriormente custava R$ 129) e o maior, por R$ 169,90 (antes era R$ 179).
Segundo a assessoria de imprensa da Fifa informou à BBC Brasil, a organização desenvolve desde 2011 uma estratégia de Sustentabilidade para a Copa que "vem implementando um plano de ação bastante ambicioso com numerosas iniciativas, tanto nos campos social quanto ambiental."
"Ao mesmo tempo, e como você pode imaginar, essa estratégia não cobre todas as questões nem apoia todas as iniciativas possíveis", afirmou a nota da Fifa. "No Brasil, a Fifa expandiu o seu apoio de 5 para um total de 26 organizações. O investimento em solo brasileiro chegará a US$ 1 milhão por ano, por no mínimo 3 anos."
Recusas
Mas, segundo Castro, todas as propostas da ONG foram recusadas pela Fifa, cuja principal contraproposta foi feita em 9 de maio, cerca de um mês antes da abertura da Copa.."O Frederico (Addieche, diretor de responsabilidade social da Fifa) sugeriu nos doar R$ 300 mil, dizendo que tinha ciência de que era pouco, mas que era tudo o que tinha a nos oferecer", afirmou.
"Mas, para nós, esse valor é incipiente e subdimensionado diante dos desafios do projeto, que engloba um período de dez anos. Isso daria R$ 3 mil por mês, o que não cobre nossos custos de pesquisa, logística, biólogos..."
Castro também cita outra questão que fez a associação recusar a proposta da ONG: o fato de que um apoio da Fifa poderia afugentar outros patrocinadores em potencial. E isso, segundo ele, seria um problema, visto que o valor oferecido pela confederação cobre apenas três meses do projeto.
"É claro que a escolha de um tatu-bola como mascote nos ajudou, já que ela acelerou um projeto do governo de proteção. Mas isso não ajudou a informar a população sobre o fato de ele estar na lista de espécies ameaçadas de extinção."
Ele conta que um dos projetos valorizava exatamente a informação, fazendo com que o Fuleco divulgasse o problema, falando para as pessoas acessarem o site com mais informações sobre o risco, sem valores envolvidos. Mas a proposta também foi recusada.
De acordo com a Fifa, pelo fato de a ONG ter recusado os recursos oferecidos, a verba foi redirecionada. "Devido ao grande número de solicitações de instituições ligadas ao desenvolvimento social e à proteção ambiental que a FIFA recebe em conexão com a Copa do Mundo, esses recursos serão destinados a um projeto diferente relacionado a mudanças climáticas no Brasil."
A federação diz ainda que "escolher o Fuleco como a mascote oficial da Copa do Mundo da FIFA 2014 tem ajudado a aumentar a conscientização no Brasil em torno do tatu-bola e seu status como uma espécie vulnerável".
No entanto, a Fifa não respondeu quando questionada como estaria ajudando nessa conscientização, visto que no site do Fuleco, por exemplo, há apenas uma menção à situação do animal: "O status da minha espécie 'Vulnerável' (antes ameaçada) faz com que eu esteja ciente dessa necessidade."