O
PT realizou a sua convenção nacional neste sábado (post anterior) e
oficializou a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República.
Ela vai ganhar? Ela vai perder? Não sei.
Seja como for, estamos
assistindo a um capítulo do fim de um ciclo. Se o PT tiver mais um
mandato, o que espero que não aconteça, vai se arrastar no poder pelos
próximos quatro anos, como um cadáver adiado. Não tem mais nada a
oferecer ao país. Restará torcer para Dilma terminar o mandato sem uma
crise de proporções gigantescas.
Acabou! Os
petistas não têm mais futuro a oferecer. E explico o que quero dizer
com isso. Um partido não tem de estabelecer com a sociedade uma relação
de doador e donatário de benesses.
Até porque a riqueza que se distribui
tem de ser produzida por alguém — e, por certo, não é pelos partidos,
não é mesmo? Quando afirmo que o petismo não tem mais “futuro” a
oferecer, refiro-me à perspectiva de mudanças que possam efetivamente
melhorar a vida dos brasileiros no médio e no longo prazos, fazendo
deles mais do que pedintes e beneficiários de migalhas.
O
repertório do PT se esgotou. Os programas sociais estão aí, em curso,
mas a gestão não sabe como conciliar, em proporções ao menos razoáveis,
crescimento econômico, combate à inflação e juros civilizados. Ao
contrário: a realidade se tornou perversa, descompensada: inflação e
juros altos para crescimento baixo. O que restou ao PT? Justamente a
relação viciada de doador e donatário.
Para que
esse discurso convença, é preciso demonizar o outro; transformá-lo na
fonte de todos os males do Brasil e da política, a exemplo do que se
viu, mais uma vez, neste sábado.
A convenção petista, dados os discursos
que lá se fizeram — inclusive o da presidente —, oferece aos
brasileiros apenas um debate sobre o passado. Lula, ele mesmo, foi
bastante explícito a respeito. Convidou os presentes para a dialética do
obscurantismo.
Disse ser preciso convencer os eleitores que tinham 7, 8
anos quando o PT chegou ao poder e hoje estão com 19, 20. Afirmou que é
preciso lhes dizer que quão ruim era o país…
Ocorre que
só havia país em 2003 porque os tucanos haviam chegado ao poder em 1995
e porque o PT perdeu a guerra contra o Plano Real. Só havia país em
2003 porque havíamos vencido a batalha contra os fatores estruturais da
hiperinflação. Só havia país em 2003 porque havíamos vencido a batalha
em favor da privatização, que dotou o país de infraestrutura em setores
essenciais.
Quem, em 2002, votava pela primeira vez, aos 16, 17, 18,
tinha de 8 a 10 em 1994, quando o plano foi implementado. A propósito:
uma pessoa que nasceu em 1986 era uma criança no ano do Real, está hoje
com 28, é um adulto, e não sabe o que é um país com hiperinflação.
E só
não sabe porque o PT foi derrotado em 1994 e 1998 e porque teve de jogar
fora o seu programa para se eleger em 2002.
A disputa
sobre o passado, como a propõe o partido, é essencialmente desonesta; é
intelectualmente vigarista, porque define o adversário como um
monopolista do mal e se coloca como um monopolista do bem.
“E os
adversários do PT? Não fazem o contrário?” Não. Desconheço quem lastime
ou reprove a ampliação de programas sociais que o partido levou adiante
no poder. Podem não ser, e não são, a resposta para todos os males, mas
se trata de um ativo que a legenda tem — e reconhecido por todos.
O PT,
no entanto, é incapaz de admitir que é uma realidade derivada da
estabilidade econômica contra a qual lutou. “Fez isso porque era mau?”
Não! Porque, em razão de preconceitos ideológicos, não reconhecia seus
instrumentos como válidos. E estava, obviamente, errado.
Agora o
país chegou a um nó que requer mais do que o tatibitate
redistributivista do PT. E a turma não sabe o que fazer. Está ilhada em
seus próprios preconceitos e sua falta de alternativa. Daí que pretenda
fortalecer essa fachada de grande doador de benesses, acusando o
adversário de verdugo das causas sociais. Como resta pouco a oferecer no
terreno da doação, os petistas repetem a sua propaganda de TV, inventam
um passado que não existiu e o colocam como uma sombra a ameaçar o
futuro.
Na
convenção, em suma, o PT apelou a um passado que não houve para capturar
as pessoas para um futuro que, com o PT no poder, jamais haverá. Não
sei se vai funcionar. Caso seja bem-sucedido, depois de uma luta difícil
— o que o obrigará a multiplicar o “promessismo” —, uma coisa é certa:
será a última vez. O PT está por pouco: na hipótese otimista, seis
meses.
Na pessimista, quatro anos e meio. E aí o país se liberta de uma
formidável teia de mistificação. Até poderia se cobrir de glórias. Mas,
para tanto, teria de ser um defensor incondicional da democracia. O
partido que faz lista negra de jornalistas, no entanto, gosta mesmo é de
ditadura. “Ah, mas não é um ditador!” É só porque não pode, não porque
não queira.
PS: Será que aquele comentador de peladas acha este um texto que “espalha o ódio”, escrito para “leitores fanáticos”?
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