Atualizado em 22 de junho, 2014 -
O PT lançou no sábado a
candidatura de Dilma Rousseff à reeleição, na esperança de estancar a
queda na popularidade da presidente e repetir a fórmula vitoriosa de
2010.
Em convenção em Brasília, à qual compareceram caciques do PT e aliados – incluindo o padrinho político de Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –, os delegados apoiaram a repetição da dobradinha Dilma Rousseff-Michel Temer para concorrer à reeleição em outubro.
"Esse novo ciclo fará o ingresso decisivo do Brasil na sociedade do conhecimento, cujo pilar básico é a transformação da qualidade da educação", discursou, segundo a Agência Brasil.
Além disso, ela disse que, se eleita, encampará projetos de "reforma urbana", em áreas como infraestrutura de transportes, mobilidade urbana, saneamento básico e moradia.
Segundo as últimas pesquisas de intenção de voto, Dilma mantém a dianteira na disputa, mas a rejeição a seu governo tem crescido.
Num levantamento do Ibope divulgado na última quinta, o percentual de entrevistados que consideram sua gestão ruim ou péssima alcançou 33%, cinco pontos percentuais a mais que o índice medido em março.
O aumento na rejeição a Dilma não tem afetado, no entanto, as alianças governistas para a eleição.
No início do mês, o PMDB, principal aliado do PT na coalizão que ampara o governo, formalizou seu apoio à repetição da parceria do último pleito presidencial.
Também já se comprometeram a continuar na coalizão o PC do B, o PP e o PTB. Nas próximas semanas, espera-se que o PSD e o PR se unam ao grupo.
"A transformação social produzida pelos nossos governos criou as bases para a promoção de grande transformação democrática e política no Brasil. Não vejo nenhum caminho que viabilize a reforma política que não passe pela participação popular."
Dilma Rousseff, candidata a reeleição à Presidência
As parcerias devem ainda garantir a Dilma, caso se reeleja, a maioria das cadeiras no Congresso.
'Modelo desgastado'
Como contrapartida pelo apoio ao governo, os partidos da base exigem cargos em órgãos públicos.Hoje, oito ministérios ou secretarias estão nas mãos de siglas aliadas, quatro deles com o PMDB.
Para Ricardo Ismael, professor de Ciência Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), "não há dúvidas de que é necessário contar com uma maioria estável no Congresso para aprovar projetos e garantir a governabilidade".
Por outro lado, diz ele, a prática está "bastante desgastada" e passa a impressão de que o governo pensa mais em si do que nos interesses da sociedade.
"Esses ministérios (comandados por siglas aliadas) viram praticamente feudos dos partidos, que fazem com eles o que querem", afirmou Ismael à BBC Brasil.
Os efeitos da megacoalizão no Congresso também são controversos.
Para o cientista político, embora a ampla base por um lado garanta relativa tranquilidade a Dilma – que sofreu poucas derrotas relevantes no Legislativo –, por outro limita as ações do governo.
"Como a base é muito heterogênea ideologicamente, não há maioria para tirar do papel questões de fundo, como as reformas tributária e política".
Segundo o professor, enquanto caciques como os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-AP) integrarem a base governista, "é difícil imaginar que o governo apoiará uma pauta que vá contra as elites conservadoras".
Controle da máquina
Entre as vantagens de Dilma na campanha, Ismael cita o "controle da máquina".Até a eleição, diz ele, a presidente e seus programas do governo terão grande exposição por meio da publicidade oficial.
Para Maria do Socorro Braga, professora de Ciências Políticas da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Dilma também tem como trunfos os programas de distribuição de renda que se expandiram nos governos do PT, principalmente o Bolsa Família.
"Se o poder de compra dos eleitores diminuir, pioram as chances de Dilma. Se as condições se mantiverem ou até melhorarem, ela amplia suas chances."
Maria do Socorro Braga, professora de Ciências Políticas/ Ufscar
"É esse segmento que dá força para que a Dilma se mantenha no patamar de hoje (nas pesquisas)", diz Braga.
Para Ismael, outra vantagem de Dilma é contar com o apoio do ex-presidente Lula, bastante influente perante o eleitorado.
Segundo o professor, Lula e Dilma poderão dividir as tarefas na campanha. "Ele poderá ser escalado para conquistar votos no Nordeste, onde é muito popular, ou atacar adversários", exemplifica.
Por melhor que seja, porém, a campanha sozinha não bastará para garantir a vitória da atual presidente, avalia Braga.
Até a eleição, diz a professora, variações na economia que se reflitam no bolso dos eleitores terão peso maior.
"Se o poder de compra dos eleitores diminuir, pioram as chances de Dilma. Se as condições se mantiverem ou até melhorarem, ela amplia suas chances", diz a professora.
"Esses são os fatores que terão mais peso nas urnas."
* Com reportagem de João Fellet, em Brasília
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