O PTB
rompeu com a candidatura da presidente Dilma Rousseff e anunciou, neste
sábado, seu apoio ao tucano Aécio Neves. É claro que se trata de um
fato importante — e por várias razões.
Começo pela básica: o partido tem
1min15s no horário eleitoral gratuito. Isso significa que a
desproporção ainda brutal entre os tempos do PT e do PSDB diminuiu em
2min30s — o tempo que ela não terá será dele.
Há pouco mais de um ano, a
impressão que se tinha era a de que haveria um candidato do PSDB, com
apoio do DEM e do PPS, contra o resto. O cenário mudou bastante.
Em segundo
lugar, mas não em ordem de importância, estamos diante de mais uma
fratura da base — e já há muitas. Vejam o caso do PMDB: o tempo acabou
ficando com a petista, mas é certo que o partido não caminha unido para a
disputa. O apoio a Dilma contou com a adesão de apenas 59% dos
convencionais — em 2010, de 84%.
O PSC, que
terá como candidato Pastor Everaldo, também já integrou a base
governista. Não apoiará Aécio no primeiro turno; vai de candidatura
própria — e, até agora ao menos, fala uma linguagem francamente de
oposição.
Aliás, se levarmos em conta o discurso da legenda, é o mais
abertamente oposicionista porque faz uma contestação também ideológica
do regime. Everaldo está longe de ser o brucutu que muitos gostariam que
fosse.
Ao contrário: tem um discurso articulado, coerente,
fundamentado. Tem entre 3% e 4% dos votos. Se ficar só nisso, estamos
falando de um potencial de mais de 5,5 milhões de eleitores. Mas acho
que ainda deve crescer. Pode ter uma importância fundamental num segundo
turno. E não vejo como o eleitorado de Everaldo migraria para Dilma no
segundo turno.
O PSD
também estará com Dilma na coligação federal, mas não é segredo para
ninguém que o partido não marcha unido com a candidata porque existem as
realidades regionais.
Em São Paulo, por exemplo, o mais provável ainda é
um acordo com o PSDB. Aliás, no estado do maior eleitorado do país, o
PMDB terá um candidato a governador, Paulo Skaf, que vai terçar armas
com um petista e que não mobiliza um eleitorado exatamente favorável a
Dilma.
No chamado
“presidencialismo de coalizão”, como há no Brasil, a menos que governos
façam gestões catastróficas (é evidente que catástrofe não temos nem
corremos o risco de ter até outubro), a troca de guarda só se dá quando
há divisões no bloco do poder e quando algumas forças se desgarram do
grupo hegemônico. Tomemos 2002 como referência.
É claro que houve
circunstâncias derivadas da gestão propriamente que levaram à vitória do
PT. Mas teve peso decisivo o fato de o então poderoso PFL ter decidido
romper com o PSDB. Hoje, seria o correspondente de o PMDB cair fora da
aliança com o PT.
Como
reconhecem os próprios petistas (post anterior), o rompimento não é bom
para o governo. Quando menos, estimula outros a fazerem o mesmo, oficial
ou extraoficialmente. De 2002 para cá, esta será a eleição mais difícil
para o PT. Parte do desespero e da violência retórica que tomam conta
do partido deriva daí.
Pior: a
direção do partido, hoje, deve estar ouvindo menos um João Santana, que
sabe que a estridência doidivanas atrapalha, do que um Franklin Martins,
que continua com sangue nos olhos e ainda não desistiu de se vingar da
demissão da Globo — daí a obsessão de controlar a mídia. Transformou em
política uma questão pessoal.
Não sei se
Dilma ganha ou perde; sei que não será fácil. E sei também que o PT
está velho e não percebeu que o país mudou bastante nos últimos tempos. A
velha guerra do “nós” contra “eles” encontra hoje uma população bem
mais desconfiada, que já percebeu que, quando o partido fala “nós”, isso
não a inclui. O “nós”, de fato, para o homem comum, soa cada vez mais
como “eles”.
Arremato
Viram? Será que eles não gostam de mim
porque espalho o “ódio”? Mentira!! Eles não gostam de mim porque escrevo
textos como este.
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