sábado, 14 de junho de 2014

Randolfe Rodrigues desiste da candidatura a presidente pelo PSOL





Senador disse ao G1 que sai da disputa porque seu nome não uniu partido.


Segundo PSOL, Luciana Genro deve ser escolhida em convenção do partido.

 Do G1, em Brasília
 
O PSOL anunciou nesta sexta-feira (13) que o senador Randolfe Rodrigues (AP) desistiu da candidatura a presidente pelo partido. A legenda afirma que ele deve ser substituído pela ex-deputada Luciana Genro (PSOL-RS).

Randolfe disse ao G1 que deixou a disputa porque não foi capaz de unir o partido e que vai estudar a possibilidade de se candidatar a governador do Amapá - veja abaixo a carta divulgada pelo senador.


O parlamentar sugere que o partido indique para disputar a Presidência o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), mas disse que também apoiará uma eventual candidatura de Luciana Genro.


Na nota em que divulgou a desistência de Randolfe, o PSOL afirma que o senador saiu da disputa para "construir uma alternativa política contra o retorno das forças conservadoras no estado do Amapá", mas que a opção "representa um prejuízo na construção de uma alternativa de esquerda nestas eleições".

O PSOL afirma que, diante da desistência, deve aprovar na convenção do partido que será realizada nos dias 21 e 22 de junho o nome de Luciana Genro.

Ao G1, o senador afirmou que as "forças de esquerda", incluindo o PSOL, precisam reavaliar sua atuação contra "a grave ofensiva do conservadorismo".

"Na carta que divulguei sobre os motivos [da desistência], digo que minha candidatura não uniu o partido ou as forças de esquerda. Falo que lamentavelmente o ódio e a intolerância são a matéria-prima da caça ao voto e que falta ao processo eleitoral lideranças capazes de falar em nome da sociedade. Faço crítica à esquerda, não somente ao PSOL. E também uma autocrítica", disse o senador.

Dentro do PSOL, o nome de Randolfe não era unanimidade. Um grupo defendia que ele não fosse candidato, mas sim Luciana Genro.

O senador afirmou, porém, que considera que Marcelo Freixo é "a principal figura" do partido e que deveria assumir a candidatura "nesse momento histórico". "Se o PSOL achar que o nome é o da Luciana, acho um ótimo nome e terá todo o meu apoio", frisou.

Randolfe Rodrigues disse que ainda conversará com correligionários sobre o que fará a partir de agora. "Eu vou para o Amapá discutir com os companheiros. Estarei à disposição, mas não retiro a candidatura pensando em ser governador do Amapá. Vou conversar com meus companheiros, mas não saio obcecado por isso, pelo governo."

Veja abaixo a íntegra da carta divulgada por Randolfe Rodrigues:

Carta aos Militantes do Psol e à Direção do Partido

O Brasil vive uma grave ofensiva conservadora. Cada vez mais forças sociais unificadas em torno de personalidades e discursos estão empenhadas em fazer retroceder direitos e colocar o Brasil na via expressa do neoliberalismo, agora com um viés abertamente de direita, sem o verniz social-democrata de antes.


As forças sociais progressistas, divididas em diferentes plataformas e organizações, sem uma liderança comum e agregadora e sem uma compreensão compartilhada do contexto e das tarefas necessárias para fazer o Brasil avançar, mostram-se frágeis frente ao avanço conservador. 


A sociedade se divide entre a justa indignação pela ampliação de conquistas e uma agenda de demandas difusas à procura de uma bandeira que as unifique.

A atual Presidente da República se demonstrou incapaz de estar à altura da tarefa de unificar o país em torno de uma proposta de avanços sociais combinados com desenvolvimento econômico, ousadia na conquista dos direitos civis, reforma urbana nas cidades, ganhar corações e mentes da nação brasileira e recuperar a credibilidade do país diante do mundo.

A candidatura de Aécio Neves se tornou herdeira da pauta conservadora, alijada do poder desde a saída de Fernando Henrique, o que o tornou incapaz de apresentar ao país nada mais do que as proposições oposicionistas requentadas do passado. 

É um novo ecoando as velhas propostas elitistas, incapazes de responder aos novos dilemas nacionais e de alçar a condição de amálgama nacional que o momento exige.

A candidatura de Eduardo Campos, que despontava como terceira via em uma disputa tensionada entre PT e PSDB, frustra o país, mostrando-se claudicante em palavras e atos contraditórios em declarações cada vez mais desencontradas, não dando à população a segurança necessária para ser identificada como uma efetiva quebra na bipolarização entre petistas e tucanos.

Num contexto de acirrado debate não em torno de ideias, mas em torno de vitupérios e acusações mútuas cumulativas, o país se prepara para uma campanha eleitoral sem líderes e sem ideias.

Percebendo o vazio, a nação vai se sentindo órfã, e essa orfandade vai aprofundando um sentimento de abandono que dá acolhida ao desespero e com ele, a propostas de corte fascista, como da pena de morte, panaceia direitista para a violência, que se alastra não apenas na falta de políticas públicas voltadas a minimizar o choque de interesses entre ricos e pobres, mas sobretudo na falta de autoridade, que não é dada pelas armas e pelos blindados do choque que violenta os jovens que protestam por direitos nas ruas, mas pela condução moral e intelectual que só uma liderança legítima pode oferecer a nação brasileira.

Lamentavelmente o ódio e a intolerância estão se tornando a matéria prima na caça ao voto em 2014. Por que isso acontece? Porque falta ao processo eleitoral lideranças capazes de falarem nome da nação, e falta à esquerda a capacidade de se renovar e estar a altura das tarefas que o Brasil exige.

A leitura incorreta do sentimento das massas e da indignação que explodiu nas jornadas de junho de 2013, levou a esquerda programática a acreditar que estávamos diante de uma “avenida de oportunidades”. É necessário neste momento ter humildade para fazer a autocrítica. 

Os modelos tradicionais da política estão em xeque, como também estão em xeque as direções, partidos e movimentos que não conseguiram se atualizar e abriram espaço para a pauta conservadora.

O Psol tem que estar a altura dos seus grandes desafios. Acredito que a principal figura de nosso partido neste momento, o Deputado Estadual Marcelo Freixo, deveria assumir a responsabilidade de liderar um processo de renovação da política brasileira em 2014.

Saio da pré-campanha presidencial para retomar em plenitude minhas tarefas como Senador e a importante função de representante do Amapá, empenhando-me em melhorar cada vez mais as condições de vida do meu povo e a qualidade da política em meu estado.


Quero agradecer o carinho de militantes que defenderam a nossa candidatura durante o 3º. Congresso Nacional do Psol no último 1º de dezembro em Luziânia em Goiás, e da mesma forma agradecer o esforço de companheiros por todo o país na construção não somente desta candidatura, mas também no sonho de uma sociedade livre, democrática e socialista.

Agradeço de igual forma a companheira Luciana Genro e acredito que se for à vontade do Partido a definição do nome dela como candidata, ela estará a altura do ponto de vista intelectual, político e moral. E para isso contará com o meu engajamento. 

Desejo à Luciana, minha companheira destes últimos meses, uma boa luta.

Tenho Fé e Esperança no Psol e no seu Destino! Acredito em um partido que esteja  à altura do Brasil e do desafio geracional de construir uma esquerda para as novas gerações neste século XXI.

Senador Randolfe Rodrigues

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