Publicado: 7 de julho de 2014 às 10:06
A grande maioria da população está ausente da
discussão e da preocupação quanto à relação entre a Copa do Mundo de
Futebol e as eleições deste ano. Mas alguns milhares de brasileiros que
acompanham e vivem a vida política do país se digladiam em uma
discussão acaciana: a vitória do Brasil ajudará a eleição de Dilma
Rousseff? A derrota do Brasil aumenta as possibilidades da oposição?
É fato que a questão da Copa não se resume ao resultado
futebolístico. Como o Brasil é a sede do evento, a discussão é sobre a
sua organização. Se boa, ponto para governo. Se má, ponto contra. E
por quê? Porque o Lula resolveu bancar que a sua realização fosse no
Brasil, evidentemente com intenções políticas. É incrível que com tanta
experiência que já tivemos no Brasil muitos ainda acham que o futebol
aliena. Vale dizer, que o povo é alienado. Não é, nem nunca foi. Pelo
contrário, é muito pragmático, ainda que esse pragmatismo não
signifique plena consciência do que deve ser feito a curto prazo para
que não tenhamos de lamentar os resultados a longo prazo.
A FIFA, a real responsável pela Copa, é uma entidade privada. Ela é
hábil em misturar as coisas, fazendo parecer que o evento esplendoroso é
um inocente evento público. Mas não é. O poder público, diante de um
espetáculo que atrai grande público tem a obrigação ( ou melhor, acaba
tendo a obrigação) de dar as condições de estrutura da cidade e do
país, no que respeita à mobilidade, à segurança, e à tudo que pode
resultar em bem estar da população.
A FIFA ( assim como o COI – Comitê Olímpico Internacional ) como
entidade privada, “dona” da marca Copa do Mundo de Futebol, tem como
objetivo maior o seu negócio, que realiza possibilitando que centenas de
empresas ampliem também os seus negócios, inclusive usufruindo da
publicidade inerente para obterem mais lucros. E seus dirigentes, por
diversas vias, legais ou não, se beneficiam deles. Essa Copa das Copas é
uma fonte de riquezas para muitos.
Nenhuma objeção teríamos se a Copa não envolvesse bilhões de reais em
recursos públicos. Quando Governador do Estado de São Paulo fiz
questão de destacar esse fato e não autorizei nenhum gasto específico
nos estádios, públicos ou pertencentes ao clubes de futebol, nem
qualquer subsídio estatal. E o mesmo fez o governo do Estado na atual
administração Mas o governo federal não se comportou da mesma forma.
Além das formas que ainda não contabilizamos – mas haveremos de
conhecer – usou bancos estatais para financiar os gastos da Copa. Esses
financiamentos são feitos a juros subsidiados, isto é, o poder público
banca os custos de captação desse dinheiro e os investimentos deixam de
ser dirigidos para áreas que são carentes dos recursos do poder público.
Também o governo municipal de São Paulo, apesar das juras em
contrário, possibilitou operações em que ele se responsabiliza por parte
dos investimentos. O mesmo acontece em todos os Estados e Municípios
em que os jogos se realizam.
Portanto, o sucesso da Copa é o sucesso das disputas de organizações
privadas, a FIFA e as Confederações de cada país, em cima de um esporte
que é um dos mais populares do mundo, no qual o brasileiro, no caso,
deposita seu amor e carinho e torce autenticamente sem saber o que está
atrás de tudo isso.
Faço essa constatação independentemente do meu prazer em acompanhar
esse esporte, desde tenra idade, desde que vivia no bairro em que nasceu
o meu Corinthians, chegando a ser eu, até, um bravo “gavião” da Fiel.
Porém nada disso me cega.
Mas se a Copa é um sucesso no entusiasmo dos confrontos nos campos e
nos lucros das entidades internacionais de futebol – privadas, lembro
mais uma vez – é um resultado tacanho, se não criminoso, no que se
refere à herança a ser deixada pelo evento, mesmo que algumas obras que
já deveriam ter sido feitas há muitos anos, como as dos aeroportos, que
estavam em petição de miséria nas mãos da malfadada estatal Infraero,
tenham saído do papel.
A questão é: o que será dos grandes estádios - que vão se
transformar em enorme peso para os clubes e para o poder público – à
medida que os empréstimos tenham de ser pagos e a manutenção, caríssima,
tenha de ser feita?
Essa questão nunca foi olhada com a responsabilidade devida. Mas a
conta virá. Assim como os clubes são grandes devedores de contribuições
devidas à Previdência pública, aumentarão o seu passivo e sua
inadimplência. De um jeito ou outro, o povo paga.
Hoje tudo é alegria. Mesmo ganhando ou perdendo, a seleção
brasileira ( já estamos entre as 4 melhores seleções do mundo ) e os
jogos em geral são um sucesso. Hoje é a carraspana. A ressaca vem em
seguida e vai ser dolorosa, campeões ou não.
Voltando à inicial, se o Brasil ganhar, ou se o Brasil não for
campeão, isso muda alguma coisa no resultado eleitoral que teremos em
outubro? Creio que não. As competições anteriores são prova suficiente
de que não há qualquer relação entre a Copa e as eleições. A alegria
momentânea que teremos, ou a tristeza que vier, não altera a realidade
da vida, do cotidiano, de cada cidadão. Não alterará, pois, o
resultado eleitoral de outubro. Nessa disputa as questões que serão o
motivo de decisão do eleitor são as que mexem com a sua realidade e com
as suas expectativas de um futuro melhor.
Por favor, não subestimem a capacidade de pensar do brasileiro.
Alberto Goldman é um dos vice-presidentes do PSDB Nacional
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