Neymar Jr.
é, sem dúvida, talentoso, como reconhece o mundo. É um garoto
sorridente, alegre, meio largadão, mas sempre com grife, é claro!, já
que o Neymar pai não é do tipo que brinca em serviço.
O rapaz pode tirar
a cueca de graça, mas recebe sei lá quanto para vestir uma. Transporte
de helicóptero, de ambulância, tudo é devidamente patrocinado — e, se
querem saber, não vejo mal nenhum nisso. Se o rapaz não vendesse, não
haveria tanta gente querendo patrociná-lo. O negócio não para nem quando
um troglodita lhe acerta uma joelhada nas costas. Felizmente, nada de
muito grave aconteceu.
O show e os negócios têm de continuar. Reitero:
não escrevo este texto em tom de censura. Eu gostava daquele Caetano que
cantava “a força da grana que ergue e destrói coisas belas”… Depois o
compositor baiano resolveu embrulhar os próprios pensamentos num pano
preto e mergulhar no obscurantismo. Mas sigamos com Neymar.
Ele está,
ou estava, e isto também me parecia saudável, mais para o herói
picaresco: ardiloso, serelepe, esperto, ladino… Não tinha, felizmente, a
têmpera do herói dramático, que convoca o povo para a resistência e
para a guerra — porque, afinal, por mais que o esporte seja uma metáfora
da luta, trata-se de exercício lúdico.
E assim tem de ser encarado. Mas
aí veio Zúñiga e acertou aquela joelhada criminosa nas costas do menino
sorridente — que já vinha sendo caçado em campo de maneira meio
covarde, sob o olhar complacente de juízes, que pareciam querer dizer:
“Não vamos cair de novo no conto do pênalti cavado por Fred no jogo
contra a Croácia”. Sim, aí veio Zúñiga, que já havia acertado um chute
doloso no joelho de Hulk, e tirou da Copa o melhor jogador brasileiro —
que nos fazia esquecer o péssimo futebol jogado pela Seleção até então,
excetuando-se o primeiro tempo contra a própria Colômbia.
E pronto! O
nosso herói saudavelmente picaresco se foi. E tomou o seu lugar o herói
de apelo dramático, quase trágico. A brutalidade impune de Zúñiga está
sendo encarada como um agravo ao país. Agora, sim! Feriram o nosso
“homem”! É preciso que seus companheiros e toda a nação se unam para
mostrar que, na adversidade, este povo cresce ainda mais. Neymar está a
um passo de virar suco nacionalista, quase tão verde-e-amarelo como a
sua nova cueca, pronto a ser digerido como símbolo de um povo que não se
entrega e que cresce na adversidade.
Se tudo sair pelo melhor, e a
Seleção sagrar-se campeã, será a hora de anunciar ao mundo que “ninguém
segura este país”. Caso não consigamos passar pela Alemanha ou pelo
vitorioso do confronto entre Holanda e Argentina, já se tem a desculpa
perfeita: “Não fosse Neymar estar fora…”.
O gesto
criminoso de Zúñiga forneceu tanto a causa para a gesta como,
eventualmente, a explicação para a derrota. Ainda que a Seleção e o
futebol percam muito sem Neymar, há uma possibilidade razoável de ele
ser mais útil machucado do que em plenas condições de jogo. Apareceu,
finalmente, um bom motivo para vencer, com sangue, suor e lágrimas, e
uma justificativa verossímil caso o pior aconteça, apesar do sangue,
suor e lágrimas… Já há uma explicação honrada para a vitória e para a
derrota.
Vamos ver qual será o saldo político da apropriação do herói que virou suco. E que resposta dará a plateia de eleitores.
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