Peço
aos leitores que prestem atenção à forma como vai se desenhando a
campanha eleitoral. Entendo que há mostras de que ela se dá contra os
interesses do conjunto dos eleitores. Por que afirmo isso? Não vou aqui
fazer juízo de valor, mas apenas lidar com os fatos.
O PT
resolveu apelar ao Ministério Público Eleitoral, que acatou a
reclamação, contra um link que está na página oficial do senador Aloysio
Nunes Ferreira, candidato a vice-presidente na chapa do PSDB. Segundo
os petistas, esse link caracteriza uso da máquina pública em favor de
uma candidatura. O vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão,
concordou com o reclamante e pede multa para o senador.
Muito bem!
Na sabatina de que participou, promovida pela Jovem Pan, Folha, UOL e
SBT, o presidenciável tucano Aécio Neves afirmou que pretende promover
mudanças no programa “Mais Médicos”. Basicamente, se eleito, ele quer
que os médicos cubanos recebam integralmente os vencimentos a que têm
direito — os R$ 10 mil — e que lhes seja facultado fazer o exame
“Revalida”, o que lhes permitira o exercício pleno da medicina no país.
Hoje, os cubanos são médicos pela metade porque só podem atuar no âmbito
do programa. Como é sabido, os doutores oriundos da ilha ficam com algo
em torno de R$ 3 mil do salário apenas. O restante vai para os cofres
da ditadura cubana. Em um ano, isso soma quase R$ 1 bilhão.
Muito bem!
Um candidato de oposição tem mais do que o direito de propor mudanças.
Ele tem o dever. A sociedade é que vai dizer, por meio do voto, se
concorda ou não com ele. Atenção! Arthur Chioro, ministro da Saúde — e
ele é ministro tanto de eleitores da situação como de oposição —, veio a
público não para contestar as críticas de Aécio, não para dizer que
discorda por esse ou por aquele motivo, não para tentar provar que o
governo está certo. Nada disso! Ele veio a público para acusar o
candidato de oposição de querer “acabar com o programa”. O mesmo fez o
ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, que nem é da área.
Ora,
quando os dois ministros falam, eles o fazem pelo governo; eles o fazem
no comando das máquinas de suas respectivas pastas, financiadas pelo
estado brasileiro. Se um mero link numa página oficial do Senado — que
quase ninguém visita — caracteriza uso indevido de dinheiro público, o
que fazem os dois ministros é, então, o quê?
É preciso
que se estabeleça a devida distinção, acho eu, entre contestar uma
crítica — e isso é absolutamente legítimo — e praticar terrorismo
eleitoral. Acusar um candidato de querer extinguir um programa quando,
na verdade, faz propostas para corrigi-lo, parece-me caracterizar óbvio
exercício de má-fé. Fosse assim, não haveria oposição nas democracias.
Afinal, o contraditório seria sempre considerado sabotagem. E, pois, por
uma questão lógica, tal regime uma democracia não seria, mas tirania.
O eleitor
brasileiro tem direito a um pouco mais do que isso. Tem direito a
debater saídas para o país. Hoje, infelizmente, e não entro no mérito
das responsabilidades, o Brasil consegue conjugar os piores indicadores
econômicos da América Latina: baixo crescimento, inflação alta e juros
escandalosos. Os que se dispõem a governar o país — Dilma, Aécio ou
Campos, entre outros — têm de oferecer, antes de mais nada, respostas
para sair dessa encalacrada. Em vez disso, vemos a disputa tomar outro
rumo, a quilômetros de distância dos interesses do povo brasileiro.
Se a coisa continuar assim, este será um país só com passado — e um passado não muito bom. E sem futuro.
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