A
investigação da Polícia Civil sobre a participação de manifestantes em
atos de vandalismo revelou indícios do envolvimento de sindicatos no
financiamento de protestos. As evidências foram levantadas a partir do
monitoramento, autorizado pela Justiça, de telefonemas e e-mails, além
de depoimentos ouvidos no inquérito da Delegacia de Repressão a Crimes
de Informática (DRCI) que resultou na Operação Fire Wall.
Como a
investigação era voltada apenas para a apuração de atos de violência, os
indícios foram usados para abrir um novo inquérito, com o objetivo de
chegar aos financiadores. Entre as entidades de classe citadas, figuram o
Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), o Sindprev e o
Sindpetro. Este último, segundo a polícia, teria fornecido dinheiro,
transporte, carros de som e alimentação para ativistas participarem de
ocupações e manifestações violentas. Em contrapartida, integrantes do
sindicato teriam cobrado o recolhimento de assinaturas contra o leilão
do Campo de Libra — maior reserva do pré-sal do país.
De
acordo com as investigações, Jair Seixas Rodrigues, o Baiano, atuaria
como elo entre o Sindpetro e os manifestantes. Ligado à Frente
Internacionalista dos Sem Teto (Fist), Baiano teria recebido dinheiro do
sindicato para mobilizar ativistas para invadir e ocupar prédios, além
de dar transporte a grupos que realizaram um protesto violento contra o
leilão, em outubro passado, na Barra da Tijuca.
COQUETÉIS MOLOTOV CONTRA POLICIAIS
Na
ocasião, dezenas de adeptos da tática black bloc (de confronto) entraram
em choque com homens da Força Nacional de Segurança e do Exército no
entorno da Praça do Ó. Apesar do forte aparato de segurança, os
manifestantes conseguiram por duas vezes furar o bloqueio, lançando
coquetéis molotov nos homens da FNS.
Antes
dos confrontos, muitos dos ativistas violentos carregavam bandeiras do
Sindpetro, que manteve um carro de som no local. Há indícios de que
Baiano teria sido o responsável pela mobilização. “Financiado pela Fist e
pelo Sindpetro, Baiano teria pago a pessoas para praticar vandalismo
durante o protesto contra o leilão de Libra”, diz o inquérito. “O mesmo
teria acontecido nos atos Ocupa Cabral e Ocupa Câmara. Além das
refeições, os financiadores teriam fornecido os materiais para confecção
de cartazes e as passagens dos ativistas”.
Baiano
não é o único apontado na investigação como suspeito de receber recursos
de sindicatos. Elisa Quadros Pinto Sanzi, a Sininho, aparece num
telefonema pedindo a um integrante do Sepe cem quentinhas para um ato.
Na escuta, contudo, não fica claro se ela conseguiu. O elo da ativista
com o Sepe é Filipe Proença de Carvalho Moraes, conhecido como Ratão.
Ele figura entre os 23 manifestantes que tiveram as prisões preventivas
decretadas na sexta-feira e permanece foragido (juntamente com mais 17).
Filipe
encabeça um grupo formado por professores das redes estadual e municipal
que dissemina a adoção de ações diretas, com depredações de patrimônios
público e privados, enfrentamento de policiais, pichações e resistência
em ocupações.
Sininho
também recorreu a outros sindicatos, como revelam conversas captadas em
9 de junho passado. A ativista fez contato com pessoas ligadas a
entidades como o Sindpetro e o Sindiprev, para pedir quentinhas para
índios que participavam de uma assembleia organizada por ela referente à
Aldeia Maracanã.
Nesse
mesmo dia, Sininho disse que a assembleia seria na Uerj e que a reserva
do auditório estava em nome de Camila Jourdan, professora de filosofia
da universidade. Logo em seguida, Sininho manteve contato com a namorada
de Rafael Rêgo Barros Caruso, que está foragido, dizendo que as
quentinhas seriam para indígenas que participavam de um evento na
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
DINHEIRO PARA COMIDA, BEBIDA E CIGARRO
Em
depoimento, uma ex-integrante do grupo de manifestantes disse na DRCI
que Sininho “sempre tinha dinheiro e costumava pagar comida, bebida e
até cigarro para quem aceitava participar da linha de frente das
manifestações”. A jovem, que passou a colaborar com a polícia, relatou
que Sininho e seu ex-namorado Luiz Carlos Rendeiro Júnior, o Game Over,
recolheram dinheiro para custear a alimentação de manifestantes que
atuaram em vários atos, inclusive fora do estado.
A
ativista teria custeado a viagem de Fábio Raposo Barbosa, o Fox, e outra
manifestante ainda não identificada pela polícia. A dupla viajou para
São Paulo logo após o fim do Ocupa Cabral para organizar o Ocupa Alesp,
movimento à frente da Assembleia Legislativa de São Paulo.
Numa
agenda apreendida durante a Operação Fire Wall na casa de Sininho,
policiais encontraram uma espécie de contabilidade do grupo. Ao lado das
cifras, aparecia a rubrica de Game Over com a destinação do dinheiro. A
descoberta reforçou o depoimento da testemunha, que atribuiu a Sininho e
Game Over a responsabilidade por recolher e distribuir os recursos.
O
inquérito da DRCI revela ainda que o advogado Marino D’Icarahy, pai do
foragido Igor D’Icaray, impediu um dos presos detidos na Fire Wall de
assinar um depoimento onde admitia que alguns manifestantes recebiam
para participar de atos violentos. O advogado teria dito: “Ele não vai
assinar p. nenhuma. Ele tem direito a falar só em juízo”.
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