quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Análise: Fala da presidente legitima, mesmo sem querer, grupo radical



Dilma Rousseff usou o palanque da ONU como estúdio de seu programa eleitoral, no qual aparecerá como estadista enquanto elenca o que vende como conquistas dos anos do PT no governo.

Pode-se gostar disso ou não, mas está na regra. O ponto fora da curva na viagem a Nova York foi o ataque às intervenções militares que incluiu o caso sírio.

Ainda que tenha modulado no discurso a crítica mais direta aos Estados Unidos por sua ação contra o EI (Estado Islâmico), feita na terça (23), o contexto da fala de Dilma é o de legitimação, mesmo involuntária, do grupo radical. 

A Síria, em evidência justamente pela intervenção criticada nas falas da presidente, foi citada ao lado da crise na Ucrânia e do conflito Israel-Palestina –onde há lados definidos e reconhecidos.

A ação americana, apoiada por vários países e com o beneplácito informal da ONU, é facilmente criticável por tender à inocuidade militar.

Mas nem os adversários de Washington, a começar por uma Moscou que vê ingerência na soberania de seus aliados sírios com a ação, consideram que o EI seja algo com que se possa negociar como se fosse um ente nacional.




Dilma Rousseff discursa na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York
Dilma Rousseff discursa na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York   


São radicais que, como seus reféns sabem, cortam cabeças quando não recebem resgates para financiar seu reino de terror sobre civis.

Quando dominou 90% do Afeganistão nos anos 90, os fundamentalistas do Taleban seguiam agenda política definida por rivalidades territoriais tribais. Emulavam um Estado, com instituições. Já o EI, com exuberâncias irracionais, deu um passo além.

A experiência recente desencoraja a eficácia da força, como ressalvou Dilma ao contemporizar sua fala em entrevista após o discurso, na qual adotou o pacifismo genérico fiel à tradição do Itamaraty.

Mas se diálogo é premissa para paz, é preciso existir interlocutores. A decapitação do refém francês na Argélia, por um grupo inspirado pelo EI e coincidentemente divulgada no dia da fala de Dilma, mostra que não nos encontramos neste estágio.

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