O ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva disse num comício nesta quarta, na grande São Paulo, que “ama”
— ele empregou esse verbo — Marina Silva, candidata do PSB à
Presidência, mas emendou em seguida: “Eleição
não é questão de amor”. E fez a lista de cinco mulheres importantes em
sua gestão — a ex-ministra do Meio Ambiente ficou de fora.
A frase é
curta, mas diz muita coisa sobre o homem. Qualquer um que tenha
acompanhado a sua trajetória e a forma como se articulou o discurso do
seu partido sabe que o amor nunca esteve entre as suas prioridades.
Aliás, é pequena a economia
dos afetos nas disputas pelo poder. Já o ódio é uma força poderosa e
sempre esteve no centro das articulações. Busquem lá em “O Príncipe”, de
Maquiavel. É melhor que o soberano seja amado ou temido? A resposta é
inequívoca: se der para ser amado, muito bem! Uma coisa, no entanto, não
admite alternativa: tem de ser temido.
Maquiavel
era quem era, e a obra tinha um propósito até bastante mesquinho,
pequeno, ligado à realidade local. Os pósteros é que a converteram em
bula, e o adjetivo “maquiavélico” passou a dizer um pouco mais do que
“realista”. Ao maquiavélico se atribuem maldades, conspirações, atos
inescrupulosos, falta de limites, vale-tudo.
Dizer o quê? Maquiavel,
coitado!, não tinha nada com isso. Não ajudou a assaltar a Petrobras.
Não roubou dinheiro de ninguém na compra da Refinaria de Pasadena. Não
superfaturou obras na construção de Abreu e Lima. Não foi parceiro do PT
no desvio de dinheiro público na Bahia. Não colaborou com Delúbio
Soares no mensalão. Maquiavel, declaro aqui com todas as letra, é
inocente!
Mas
voltemos a Lula. “Eleição não é questão de amor”, diz ele. Talvez não
seja mesmo. Mas é preciso que a gente preste atenção a quem está falando
e qual é o contexto. Ao fazer tal afirmação, o poderoso chefão petista
emite o sinal para o vale-tudo. Numa democracia, ninguém é obrigado a
amar os adversários. O que pedem as leis, o decoro e os valores é que
estes sejam respeitados.
Seja como
líder da oposição, seja como presidente da República, Lula sempre tratou
seus adversários a pontapés, embora, e todo mundo sabe disto, fosse e
seja lhano e cordato com eles nas relações pessoais. Pode parecer
incrível, mas é verdade: ele está aí há 20 anos — oito na oposição e 12
no governo — exercitando a política do ódio contra o PSDB e FHC. Seria
um ódio real, daqueles que remoem as entranhas? Isso não tem a menor
importância. O que conta é a linguagem política que ele fala.
Não foi
por amor que Lula e seu partido combateram o Plano Real, as
privatizações ou a Lei de Responsabilidade Fiscal. Não foi por amor que
Lula e seu partido se reconciliaram com José Sarney, Fernando Collor, Paulo Maluf
e quem mais caísse na rede. Não é por amor que Lula e seu partido
enlameiam ou lavam reputações. Para Lula e seu partido, política é isto
mesmo: trata-se apenas da arte de sacrificar princípios e escrúpulos
num jogo em que o único resultado aceitável é vencer.
Eu até concordo que eleição não seja “questão de amor”. Mas isso não quer dizer que não deva ser uma questão de caráter.
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