Leiam editorial do Estadão desta quarta. Irretocável!
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Por ter chorado numa entrevista ao dizer que fora “injustiçada” pelo ex-presidente Lula, a candidata Marina Silva foi alvo de impiedosos comentários de sua rival Dilma Rousseff. “Um presidente da República sofre pressão 24 horas por dia”, argumentou a petista. “Se a pessoa não quer ser pressionada, não quer ser criticada, não quer que falem dela, não dá para ser presidente da República.” E, como se ainda pudesse haver dúvida sobre a sua opinião, soltou a bordoada final: “A gente tem que aguentar a barra”. Passados apenas oito dias dessa suposta lição de moral destinada a marcar a adversária perante o eleitorado como incapaz de segurar o rojão do governo do País, Dilma acabou provando do próprio veneno.
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Por ter chorado numa entrevista ao dizer que fora “injustiçada” pelo ex-presidente Lula, a candidata Marina Silva foi alvo de impiedosos comentários de sua rival Dilma Rousseff. “Um presidente da República sofre pressão 24 horas por dia”, argumentou a petista. “Se a pessoa não quer ser pressionada, não quer ser criticada, não quer que falem dela, não dá para ser presidente da República.” E, como se ainda pudesse haver dúvida sobre a sua opinião, soltou a bordoada final: “A gente tem que aguentar a barra”. Passados apenas oito dias dessa suposta lição de moral destinada a marcar a adversária perante o eleitorado como incapaz de segurar o rojão do governo do País, Dilma acabou provando do próprio veneno.
Habituada,
da cadeira presidencial, a falar o que quiser, quando quiser e para
quem quiser – e a cortar rudemente a palavra do infeliz do assessor que
tenha cometido a temeridade de contrariá-la -, a autoritária candidata à
reeleição foi incapaz de aguentar a barra de uma entrevista de meia
hora a três jornalistas da Rede Globo, no “Bom dia, Brasil”.
A sabatina foi gravada domingo no Palácio da Alvorada e levada ao ar,
na íntegra, na edição da manhã seguinte do noticioso. Os entrevistadores
capricharam na contundência das perguntas e na frequência com que
aparteavam as respostas. Se foram, ou não, além do chamamento
jornalístico do dever, cabe aos telespectadores julgar.
Já a
conduta da presidente sob estresse, em um foro público, por não ditar as
regras do jogo nem, portanto, dar as cartas como de costume entre as
quatro paredes de seu gabinete, é matéria de interesse legítimo da
sociedade. Fornece elementos novos, a menos de duas semanas das
eleições, sobre o que poderiam representar para o Brasil mais quatro
anos da “gerentona” quando desprovida do conforto dos efeitos especiais
que lustram a sua figura no horário de propaganda e, eventualmente, do
temor servil que infundiu aos seus no desastroso primeiro mandato. Isso
porque os reverentes de hoje sabem que não haverá Dilma 3.0 em 2018 nem
ela será alguém na ordem das coisas a partir de então.
A
presidente, que tão fielmente se autorretratou no Bom Dia, Brasil é, em
essência, assim: não podendo destratar os interlocutores, maltrata os
fatos; contestadas as suas versões com dados objetivos e ao alcance de
todos quantos por eles se interessem, se faz de vítima como a Marina
Silva a quem, por isso, desdenhou. Cobrada por não responder a uma
pergunta, retruca estar “fazendo a premissa para chegar na conclusão
(sic)”, ensejando a réplica de ficar na premissa “muito tempo”.
É da natureza dessas situações com hora marcada que o entrevistado
procure alongar-se nas respostas para reduzir a chance de ser atingido
por novas perguntas embaraçosas. Some-se a isso o apreço da presidente
pelo som da própria voz – e já estaria armado o cenário de confronto
entre quem quer saber e quem quer esconder.
Mas o que
ateou fogo ao embate foram menos as falsidades assacadas por Dilma do
que a compulsiva insistência da candidata, já à beira de um ataque de
nervos, em apresentá-las como cristalinas verdades. Quando repete que
não tinha a mais remota ideia da corrupção em escala industrial na diretoria de abastecimento da Petrobrás ocupada por Paulo Roberto Costa de 2004 (quando ela chefiava o Conselho de Administração
da estatal) a 2012 (quando ocupava havia mais de um ano o Planalto),
não há, por ora, como desmascarar a incrível alegação. Mas quando ela
afirma e reafirma – no mais desmoralizante de seus vexames – que a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) não mede desemprego,
mas taxa de ocupação, e não poderia, portanto, ter apurado que 13,7% dos
brasileiros de 18 a 24 anos estão sem trabalho, é o fim da linha.
Depois da
entrevista, o programa fez questão de convalidar os números da
jornalista que a contestava. De duas, uma, afinal: ou Dilma, a
economista e detalhista, desconhece o que o IBGE pesquisa numa área de
gritante interesse para o governo – o que simplesmente não é crível – ou
quis jogar areia
na verdade, atolando de vez no fiasco. De todo modo, é de dizer dela o
que ela disse de Marina: assim “não dá para ser presidente da
República”.
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