quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Seis notas de Carlos Brickmann

25/09/2014
às 10:35 \ Opinião


Publicado na coluna de Carlos Brickmann

CARLOS BRICKMANN

Quem senta no trono? 
Temos uma presidente, Dilma Rousseff. Como viajou a Nova York, teve de ser substituída, como se estivéssemos na época em que as comunicações eram feitas via marítima, por carta. Temos um vice-presidente, Michel Temer. Tem palácio bem abastecido, carros, empregados, seguranças, jardineiros, passagens, e uma única obrigação em troca do salário: substituir a presidente em suas ausências. Como agora. Mas não pode assumir: candidato a vice de Dilma, se assumir perde o direito a candidatar-se. Arrumou-se então uma viagenzinha ao Exterior, para que o vice não tenha de cumprir sua única obrigação legal.

O presidente da Câmara seria o terceiro da lista, mas se assumir não pode ser candidato ao Governo do Rio Grande do Norte. O presidente do Senado seria o quarto, mas não pode assumir porque seu filho é candidato ao Governo alagoano.

Temos quatro, não temos nenhum. Quem ocupa a Presidência até amanhã, quinta, é o quinto: o presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski. Qual sua função? Não pode tomar iniciativas, não pode demitir, não pode nomear. Está lá só para manter a cadeira quentinha à espera da volta da presidente Dilma.

Exemplo externo
Quem substitui Barack Obama quando ele viaja? Ninguém: onde quer que esteja, é o presidente em exercício. Tem um vice, que só assume em emergências.

Questão de princípios
Em seu discurso na ONU, Dilma repudiou o bombardeio americano aos terroristas do ISIS, ou Estado Islâmico (a França também os bombardeou, mas foi poupada, por algum motivo, da feroz indignação presidencial). O Estado Islâmico já degolou alguns jornalistas, com o assassínio gravado em vídeo; persegue cristãos, yazidis (próximos à antiga religião do zoroastrismo), muçulmanos que não sejam sunitas. Todos são obrigados a converter-se, ou a pagar altas taxas para manter-se em sua religião. Os que resistem são fuzilados sem julgamento.

Mas Dilma não os repudiou. Para os terroristas do Estado Islâmico, Dilma é clementa.

O nome é “gratuito” 
O horário eleitoral apelidado de gratuito custa neste ano R$ 839,5 milhões, em isenção de impostos concedida às emissoras de rádio e TV. O cálculo é da Receita Federal. Fora isso, a União paga o Fundo Partidário (o candidato Levy Fidelix se queixou da quantia que seu PRTB recebe – R$ 100 mil por mês. Os grandes partidos recebem bem mais do que isso). E há quem defenda o financiamento público de campanha como se fosse novidade.
Olhando os números, quem dirá que o financiamento público de campanha atualmente não existe?

Moderníssimo
Por falar em horário gratuito, a Câmara dos Deputados decidiu comprar 60 televisores de 32 polegadas, com tela de cristal líquido ou LED, modelo full HD. Custo da compra, segundo a ONG Contas Abertas, que acompanha os gastos públicos: R$ 51.200.

Agora Suas Excelências, finalmente, terão melhor imagem.

Política divertida
Um bom programa: assistir à peça República das Calcinhas, de James Akel, com Andressa Urach. Akel criou um espetáculo divertido, descompromissado, puro entretenimento – e que, no entanto, mostra direitinho como funcionam os bastidores de nossa política. Aliás, nossa não: a política da República de Banânia, onde se passa a ação.

No Teatro Maria Della Costa, SP, nas sextas às 21h30, nos sábados às 19h30 – uma ideia que vem fazendo sucesso e ampliando o público: dá para ver a peça e voltar a tempo de assistir à novela.
Detalhe: o Maria Della Costa é a primeira obra de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa em São Paulo.

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