A
presidente Dilma Rousseff certamente considerou que o ridículo a que
submeteu nesta terça o país não era o suficiente. Resolveu então dobrar a
dose. Como sabem, a nossa governanta censurou ontem, em entrevista à
imprensa, os EUA e países aliados pelos ataques às bases terroristas do
Estado Islâmico.
Dilma,
este gênio da raça, pediu diálogo. Dilma, este portento da política
externa, quer conversar com quem estupra, degola, crucifica, massacra.
Dilma, este novo umbral das relações internacionais, defende que
representantes da ONU se sentem à mesa com mascarados armados com fuzis e
lâminas afiadas. Nunca fomos submetidos a um vexame desses. Nunca!
Nesta
quarta, no discurso que abre a Assembleia Geral das Nações Unidas, uma
tradição inaugurada em 1947 por Oswaldo Aranha, Dilma insistiu nesse
ponto, para espanto dos presentes. Os que a ouviam certamente se
perguntavam: “Quem é essa que vem pregar o entendimento e o diálogo com
facinorosos que só reconhecem a língua da morte e da eliminação do
outro?”.
Houvesse
uma lei que proibisse o uso de aparelhos públicos internacionais para
fazer campanha eleitoral, Dilma teria, agora, de ser punida. Sua fala na
ONU foi a de uma candidata — mas candidata a quê, santo Deus? A
presidente do Brasil desfiou elogios em boca própria, exaltando,
acreditem, suas conquistas na economia, no combate à corrupção e na
solidez fiscal — tudo aquilo, em suma, que a realidade interna insiste
em desmentir.
Não falava
para os que a ouviam; falava para a equipe do marqueteiro João Santana,
que agora vai editar o seu pronunciamento de sorte a fazer com que os
brasucas creiam que o mundo inteiro se quedou paralisado diante de tal
portento, diante daquele impávido colosso que insistia em dar ao mundo
uma aula de boa governança. Justo ela, que preside o país que tem a pior
relação crescimento-inflação-juros entre as dez maiores economias do
mundo.
De tal
sorte fazia um pronunciamento de caráter eleitoral e eleitoreiro que,
numa peroração em que misturou dados da economia nativa com um suposto
novo ordenamento das relações internacionais, sobrou tempo para tentar
faturar com o casamento gay. Afirmou: “A Suprema Corte do meu país
reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo, assegurando-lhes
todos os direitos civis daí decorrentes”. É claro que queria dar uma
cutucadinha em Marina Silva, candidata do PSB à Presidência, que o
sindicalismo gay petista tentou transformar em homofóbica numa das
vertentes sujas da campanha.
Sem ter
mais o que pregar aos nativos; temerosa de que o eleitorado cobre nas
urnas os muitos insucessos de sua gestão; sabedora de que boa parte da
elite política que a cerca pode ser engolfada por duas delações
premiadas — a de Paulo Roberto Costa e da Alberto Youssef —, Dilma
elegeu a sede da ONU como um palanque.
Na
tribuna, bateu no peito e elogiou as próprias e supostas grandezas, como
fazem os inseguros e os mesquinhos. No discurso que abre a Assembleia
Geral das Nações Unidas, tratou de uma pauta bisonhamente doméstica — e,
ainda assim, massacrando os números. Quando lhe coube, então, cuidar da
ordem internacional, pediu, na prática, que terroristas sejam
considerados atores respeitáveis.
Desde 12
de outubro de 1960, quando o líder soviético Nikita Krushev bateu com o
próprio sapato na mesa em que estava sentado — e não na tribuna, como se
noticia às vezes — para se fazer ouvir, a ONU não presencia cena tão
patética. Nesta quarta, Dilma submeteu o Brasil a um ridículo inédito.
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