Por Chico Sant’Anna
A notícia saiu nas editorias de
esportes. Brasília vai receber em 2015 uma etapa da Fórmula Indy. Para
tanto, vai ter que investir uma quantia – que ainda não está definida,
que pode variar de R$ 180 e R$ 400 milhões, incluindo ai as despesas
necessárias à reforma do autódromo e as taxas a serem pagas aos
detentores dos direitos do campeonato.
No Brasil o produto é do grupo Bandeirantes de Rádio e Televisão, que
detêm os direitos de organização e transmissão em TV aberta e fechada
no Brasil. A Capital federal vai receber esta prova internacional porque
a prefeitura da cidade de São Paulo não concordou em pagar aos
organizadores o cachê de R$ 30 milhões.
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Além de São Paulo, que realizou corridas entre 2010 e 2013, a fórmula
Indy já foi realizada no autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro,
entre 1996 e 2000. Entretanto, o local não está disponível, pois
receberá estruturas para abrigar provas dos jogos Olímpicos de 2016.
A
prova em Brasília foi marcada para o dia 8 de março de 2015 e pelo
contrato, a Capital Federal será anfitriã da Indy até 2019. Segundo o
portal R7, sem prova em solo brasileiro, a direção internacional da Indy
ameaçava acionar o grupo Bandeirantes na Justiça. “Agora o imbróglio
judicial deve ser extinto” – diz o portal.
Obras e projetos
O Autódromo Internacional Nelson Piquet,inaugurado em 1975 com uma
corrida de Fórmula 1, está em péssimas condições de manutenção.
Já foi usado como Sambódromo, o que lhe custou a perda das passarelas que atravessavam pelo alto a pista.
Já foi usado como Sambódromo, o que lhe custou a perda das passarelas que atravessavam pelo alto a pista.
Durante muitos anos, ele esteve arrendado ao piloto tri-campeão Nelson Piquet. Diziam os defensores da privatização que na mão de quem entende o espaço iria prosperar. Terminado o contrato de arrendamento, o autódromo foi devolvido em piores condições do que foi cedido.
Em julho de 2013, a Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM) após a morte da pilota Vanessa Daya,
interditou o autódromo alegando falta de segurança das instalações para
a realização de corridas de moto.
Vanessa, de 31 anos, disputava prova
válida pela terceira etapa do Campeonato Brasiliense de Motovelocidade,
quando sofreu uma forte queda, na volta sete.
Ela teria perdido o
controle da moto ao passar por um trecho com terra depois de tentar uma
ultrapassagem. na chamada Curva da Piscina. Ela caiu em uma espécie de
valão no Autódromo Internacional de Brasília.
Para receber a Indy, além do cachê de R$ 30 milhões, o GDF terá que
reformar o autódromo Nilson Nelson, para adequá-lo às exigências da
modalidade. Os principais pontos da reforma são a modificação do traçado
da pista, a troca da pavimentação e reforma dos boxes.
À imprensa, o governador Agnelo Queiroz disse que serão investidos R$
150 milhões e que as obras no autódromo devem começar no segundo
semestre, logo após a Copa.
Esses valores são estimados, já que o projeto ainda está em fase de
detalhamento e, segundo Maruska Lima, diretora de obras da Novacap, o
autódromo deverá ganhar dois circuitos diferenciados.
Outra versão diz que o autódromo terá três circuitos. Esta
alternativa foi apresentada em setembro de 2013, em Silverstone, por
Agnelo que se deslocou até lá, acompanhado de comitiva, para apresentar o
projeto ao presidente da Federação Internacional de Motovelocidade
(FIM), Vito Ippolito, e a Carmelo Ezpeleta, presidente da Dorna Sport,
detentora dos direitos comerciais do Mundial de Motovelocidade.
Da comitiva participaram, dentre outras pessoas, o secretário de
Esporte, Júlio Ribeiro, o secretário de Assuntos Internacionais, Odilon
Frazão, o então secretário de Comunicação, Ugo Braga, o presidente da
Confederação Brasileira de Motociclismo, Firmo Henrique Alves; e o
presidente da Federação de Motociclismo do DF, Carlos Augusto Senise.
Nesta versão, segundo informou um comunicado da Agência Brasília, órgão
de comunicação oficial do governo do Distrito Federal, “o projeto de
reforma foi elaborado pela Federação Internacional de Motociclismo.”
Pelo projeto levado a Silverstone, na Inglaterra, segundo o Portal Clube do Esporte DF,
o autódromo teria três e não dois circuitos e dois conjuntos de boxes.
Um deles ficando na Reta do Militar e o outro na Curva do Sol, podendo
ser utilizados simultaneamente.
Os antigos boxes seriam demolidos, dando
lugar à reta das novas arquibancadas, com o objetivo de dotar de maior
visibilidade nos circuitos que serão no sentido anti-horário.
Além das obras de adequação à Fórmula Indy, o autódromo terá que ser
adaptado às exigências do Gran Prix de MotoGP – prova internacional de
motociclismo.
Em janeiro deste ano, baseado em estimativas na Novacap e da Terracap , o Jornal de Brasília informou
que o orçamento previsto variava entre R$ 250 e R$ 370 milhões. Nesses
montantes não estavam incluídos os valores do cachê a ser pago aos
detentores dos direitos das provas a serem ali realizadas.
Não está claro que parcela das especificações técnicas exigidas pelo
motociclismo coincide com as da Fórmula Indy. Porém, pelas ilustrações
disponíveis o circuito deve ser diferente. Para a Indy comentam a
necessidade de se alongar a chamada reta dos Box e, no passado, falaram
em construir um circuito oval.
Na proposta divulgada pelo JBr, no novo projeto, o anel
externo deixa de existir e um desenho parecido com o atual toma conta do
espaço. Com a possibilidade de estabelecer dois circuitos independentes
– Norte e Sul -, os boxes (40 no total) e a largada principal seriam
transferidos para a pista lateral próxima ao kartódromo.
O autódromo, com seus 26 mil metros quadrados, passaria a contar com
estruturas capazes de comportar entre 40 e 100 mil expectadores. A
expectativa do GDF é reunir um público entre 70 mil e 100 mil
expectadores.
O prazo estimado das obras é de oito meses após a assinatura dos
contratos. Mas para receber tanto a Fórmula Indy, quanto o GP terá que
ser homologado pela Federação Internacional de Automobilismo (FIM), que
examinará as áreas de boxes, paddocks, sinalização, além do espaço para
imprensa e alimentação. Desde o GP do Rio, em 2004, o Brasil não recebe
uma corrida de MotoGP.
Atraso
No segundo semestre de 2013, o GDF se comprometeu com a Federação
Internacional de Motociclismo em realizar a prova de motociclismo em
realizar este ano, a única prova em solo brasileiro. Há cerca de dois
meses teve que abrir mão do compromisso por não ter sido ágil o
suficiente para realizar as obras necessárias.
A desistência brasiliense do MotoGP não pegou bem no cenário
internacional. Fazendo referência a tantas obras necessárias a Copa do
Mundo, na Espanha, o jornal 20 Minutos, muito popular, disse que para os
brasileiros “não é fácil cumprir com os prazos, e mostra que gerir
tantas obras não é nada fácil e passa pela renúncia a alguns projetos.
“No peligran los Juegos o el fútbol, pero en 2014 no habrá motos en
Brasil” – disse.
O atraso do GDF, e quem sabe a queda de credibilidade internacional,
motivou a cidade de Goiânia a investir R$ 30 milhões na revitalização do
circuito da capital goiana. As obras estão com conclusão prevista para
27 de abril, com a terceira etapa da temporada 2014 da Stock Car.
Em
entrevista ao portal Grande Prêmio, Jayme
Rincón, presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop),
afirmou que a reforma do Autódromo Internacional Ayrton Senna, tem como
meta transformar o espaço em uma referência e que uma das metas é atrair
o MotoGP.
Um novo Mané Garrincha?
Dotar Brasília de equipamentos que atraiam um maior volume de
turistas, inclusive internacionais, não é uma estratégia equivocada.
Esta é uma opção de desenvolvimento econômico para a Capital, que vem
patinando com um PIB que é a metade do nacional, o qual já não é muito
grande.
A dúvida que deixar o contribuinte brasiliense com a pulga atrás da
orelha é se os valores, ao final de tudo, serão estes mesmos. Será que o
Nelson Piquet não vai se transformar em um novo bilionário Mané
Garrincha?
Quando se candidatou a ser sede da Copa do Mundo, Brasília estimou em
R$ 400 milhões a construção do novo Mané Garrincha. Quando a obra
começou, já tinha pulado para R$ 700 milhões. Agora, com as obras de
revitalização do entorno da arena, poderá chegar a 2,4 bilhões, seis
vezes mais do que no início.
É discutível, também, se esta é a principal prioridade da cidade,
neste momento que faltam professores na rede pública, que a Saúde ainda é
um pesadelo para os brasilienses que passaram a conviver com níveis
alarmantes de inseguraçã pública.
Isso, sem falar com a questão de mobilidade urbana, que apesar de
todos os recursos liberados pelo governo federal não consegue tirar do
papel as obras de expansão do metrô e implantação do VLT.
Outras dúvidas: obra tãodispendiosa estava prevista no orçamento do
Distrito Federal para 2014? De onde vem os recursos: doorçamento do DF,
da venda de lotes da Terracap, de empréstimo e financiamentos?
Especialistas em orçamento alertam que dependendo da fonte de financiamento, tais obras poderão deixar Brasília em um nível de endividamento perigoso, caso o GDF opte em pedir empréstimos para reformar o autódromo.
Por outro lado, se for se valer de recursos
obtidos na venda de terrenos e lotes da Terracap, esta perderásua
capacidade em investir nas orbras de urbanização e conservação do
Distrito Federal.
A reforma do autódromo começa com informações confusas e poucos
transparentes. Projetos contraditórios, orçamentos diferentes, muito
pouca informação para um empreendimento de tal envergadura e que só terá
retorno em médio e longo prazo. Um projeto que ultrapassa o mandato da
atual gestão do governo Agnelo/Filippelli.
No dia 12 de fevereiro, enviei os seguintes questionamentos ao GDF:
1) Quanto custariam as reformas necessárias ao GP de Motociclismo que seria realizado em Brasília?
2) Quanto o GDF pretende investir para a reforma do autódromo
3) Antes de pleitear Brasília como sede ao GP, o GDF chegou a fazer algum estudo de viabilidade técnica?
4) Que obras seriam necessárias, qual seria a fonte dos recursos,
quem pagaria a conta e o evento estaria a cargo de qual órgão do GDF?
5) Na viagem a Londres, em que o GDF foi pleitear a realização do GP
em Brasília, quem estava na comitiva oficial? Quanto foi gasto em
diárias e passagens? Quem as pagou?
6) O GDF chegou a licitar os serviços, ou os estudos técnicos antes de decidir pelo cancelamento?
7) Qual é a expectativa de atrair turistas nacionais e estrangeiros?
8) O GDF, via Secom, informa que o pleito para 2015 continua de pé. O
GDF acredita que o cancelamento da prova em Brasília em 2014 pode ter
prejudicado as chances de trazer o evento em 2015?
9) A imagem de Brasília terá ficado machucada pela decisão de
cancelamento? Que reação teve a Federação Mundial de Automobilismo?
Passado mais de um mês, não obtive nenhuma resposta pontual a nenhum
dos nove questionamentos, apenas uma resposta genérica, que transcrevo
abaixo.
O Governo do Distrito Federal (GDF) e
a empresa promotora do Campeonato Mundial de Motovelocidade firmaram
acordo para a realização de etapa do Mundial de MotoGP no ano 2015.
A
realização da etapa em setembro de 2014 seria uma previsão, caso
Brasília já contasse com as condições necessárias para receber o evento.
A confirmação da etapa dependia da homologação do Autódromo Internacional de Brasília Nelson Piquet, que só será feita após uma reforma para adequá-lo aos padrões internacionais.
Os estudos técnicos do projeto já passaram por audiência pública e revelaram que não haveria tempo hábil para a antecipação da corrida em 2014. O GDF segue com o projeto para 2015, para ter o autódromo inteiramente adequado ao perfil do megaevento.
A reforma também credenciará o espaço a receber outras
grandes competições internacionais, o que reforça o compromisso do GDF
em colocar Brasília na rota dos grandes eventos esportivos.
Por isso, o autódromo possui projeto complexo, que altera o traçado do circuito de forma significativa, além de modificar áreas de boxes, paddocks, sinalização, espaço para imprensa e alimentação, entre outras adequações.
Para 2014, a prioridade do governo é a realização da Copa do Mundo, em que Brasília receberá sete jogos, o número máximo permitido pela FIFA para uma cidade-sede da competição.
Em relação à pergunta sobre a viagem da comitiva, sugerimos procurar a Secretaria de Comunicação do GDF
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