Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Ricardo Noblat
Uma vez que venceu a batalha contra o
escândalo do mensalão em 2005 e se reelegeu no ano seguinte, Lula ambicionou o
terceiro mandato consecutivo de presidente da República.
Desistiu porque não obteve apoio para a
ideia sequer entre petistas cinco estrelas. De resto, sairia muito caro o preço
político a pagar para mudar a Constituição e permitir que ele tentasse se
reeleger outra vez. Melhor, não.
Agora é Lula quem não quer concorrer ao
terceiro mandato. Quem sabe em 2018? Sozinho, Lula é mais esperto do que toda a
turma que vive ao seu redor. Com qual discurso justificaria sua candidatura à
vaga de Dilma?
Se a presidente vai bem por que abortar a
chance de ela concorrer ao segundo mandato? Se vai mal parte da culpa não
caberia a quem a escolheu? Não digo a quem votou nela, mas a quem a escolheu?
E quem a empurrou goela abaixo do PT, da
maioria dos demais partidos e de uma opinião pública satisfeita com o governo
da época? Não foi Lula? Pois é...
Não adianta o PT, partidos da chamada base
aliada e empresários assustados com Dilma suplicarem pela volta de Lula.
Descarte-se a hipótese de Dilma se
contentar com um único mandato. Quem chega ao poder – qualquer tipo de poder –
só abre mão dele obrigado.
Os demais partidos da chamada base aliada
sempre podem abandonar Dilma caso surja uma alternativa viável à sucessão dela.
O PT não pode. Gostando ou não – e ele não gosta – irá com Dilma para a galera
ou para o buraco.
Se o destino for o buraco, Dilma ficará por
lá, o PT não. Negociará seu apoio ao próximo governo. A negociação será tanto
mais fácil se Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, se eleger.
Para quem a aprecia, a política tem lá sua
graça.
Até outro dia Campos foi parceiro dos
governos Lula e Dilma. Por isso o PT teme enfrentá-lo num eventual segundo
turno.
O que dizer de ruim dele que conhece a
história do PT, seus pontos fortes e fracos, sua linguagem e seus truques? E,
no entanto...
No entanto, se for para perder é preferível
perder para Campos. Aécio Neves (PSDB) tem outros compromissos.
A mais recente pesquisa de intenção de voto
aplicada pelo IBOPE deu Dilma na frente dos seus possíveis adversários. Se a
eleição fosse hoje ela seria eleita no primeiro turno.
Ocorre que a eleição será daqui a seis
meses e pouco. Com uma Copa do Mundo pelo meio. Com uma situação econômica que
já foi melhor pelo meio. E com cerca de 60% dos brasileiro desejando mudança -
total ou parcial.
Ainda haverá pelo meio o escândalo da
compra de uma refinaria no Texas. Tendo custado US$ 42,5 milhões a uma empresa
belga, a refinaria foi vendida à Petrobras por US$ 1,2 bilhão.
O tamanho do escândalo que aflige Dilma
está longe de poder ser comparado ao tamanho do escândalo que afligiu Lula há
quatro anos. Mas cada qual tem seu escândalo.
Ricardo Noblat é Jornalista. Originalmente
publicado em O Globo em 24 de Março de 2014.
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