De olho na proposta de compra da gigante Alston pela GE, o governo da França baixou um decreto
de “patriotismo econômico” que permite o bloqueio de compras de
empresas do país por estrangeiras. A medida engloba setores considerados
estratégicos, como água, energia, saúde, transporte, telecomunicação e
defesa. O ministro da Economia, Arnaud Montebourg, sai fortalecido, pois
tem combatido a compra da Alston. Ao “Le Monde”, ele afirmou: “É o fim
do laissez-faire”.
Pausa para respirar. Então quer dizer que
a França, país dos mais dirigistas e com um dos estados mais
intervencionistas na economia, tinha até agora um modelo de
laissez-faire? Incrível! Eu poderia jurar que era um modelo estatizante,
com várias empresas grandes ainda sob o controle, direto ou indireto,
do estado. Mas vamos em frente.
O ministro disse em entrevista se tratar
de um “patriotismo econômico”. Montebourg, que é admirador de Colbert, o
poderoso ministro de Luiz XIV e quem acabou contribuindo para o
surgimento do conceito laissez-faire, pois os empresários franceses não
aguentavam mais tanta “ajuda” estatal em sua gestão, Montebourg, dizia
eu, afirmou que “não se pode pedir aos países que abram mão de seus
interesses estratégicos”.
Mas quem foi que pediu isso? E aqui vale
fazer essa importante, diria fundamental distinção: não é porque um
serviço ou um setor é estratégico para o país que ele deve ser dominado
pelo estado ou só contar com empresas nacionais. Isso não passa de uma
falácia. Uma falácia adorada pelos estatólatras, que sempre usaram e
abusaram desse termo – estratégico – para impor uma agenda de avanço
estatal sobre tudo (basta pensar em nossas privatizações, que a esquerda
sempre condenou com base nesse mesmo conceito).
Então se a Portugal Telecom, a italiana
TIM e a mexicana Claro competem para oferecer serviços de
telecomunicação, isso afeta o nosso interesse nacional? De que forma
mesmo? Como exatamente seria melhor ter a volta da Telebras sob o
controle estatal e monopolista? Será que a fusão da Oi com a Brasil
Telecom, que levou o ex-presidente Lula a mudar a lei para recriar uma
super-tele verde e amarela, era o caminho para proteger nossos
interesses estratégicos, e não os de Lulinha e companhia?
Isso sem falar que hoje em dia, com
grandes corporações cuja base acionária é totalmente pulverizada entre
milhões de acionistas no mundo todo, fica até difícil falar em
nacionalidade da empresa. De quem é a GE? Sim, é uma empresa americana,
mas não tem um dono, ou nada parecido com aquela velha imagem de um
capitalista com bengala e chapéu. Seu controle é diluído entre vários
acionistas de várias nacionalidades.
Colbert era o ícone da mentalidade mercantilista destroçada por Adam Smith em seu magistral Riqueza das Nações,
em que derruba vários mitos até hoje endossados pelos dirigistas.
Aprendemos com a história que poucos aprendem com a história. É
impressionante como nações inteiras caem nas mesmas armadilhas do
passado.
No Brasil, temos em Luciano Coutinho,
presidente do inflado BNDES, que escolhe os “campeões nacionais”, um dos
maiores representantes dessa mentalidade. Tudo isso significa mais
intervenção estatal, mais corrupção, menos “destruição criadora”
capitalista, menos riqueza. Em nome do nacionalismo e dos interesses
estratégicos, governos impedem o livre funcionamento dos mercados, força
espontânea responsável pelo avanço da prosperidade.
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