sexta-feira, 16 de maio de 2014

“Patriotismo econômico”: o fantasma de Colbert


Colbert, ministro das Finanças de Luiz XIV


De olho na proposta de compra da gigante Alston pela GE, o governo da França baixou um decreto de “patriotismo econômico” que permite o bloqueio de compras de empresas do país por estrangeiras. A medida engloba setores considerados estratégicos, como água, energia, saúde, transporte, telecomunicação e defesa. O ministro da Economia, Arnaud Montebourg, sai fortalecido, pois tem combatido a compra da Alston. Ao “Le Monde”, ele afirmou: “É o fim do laissez-faire”.


Pausa para respirar. Então quer dizer que a França, país dos mais dirigistas e com um dos estados mais intervencionistas na economia, tinha até agora um modelo de laissez-faire? Incrível! Eu poderia jurar que era um modelo estatizante, com várias empresas grandes ainda sob o controle, direto ou indireto, do estado. Mas vamos em frente.


O ministro disse em entrevista se tratar de um “patriotismo econômico”. Montebourg, que é admirador de Colbert, o poderoso ministro de Luiz XIV e quem acabou contribuindo para o surgimento do conceito laissez-faire, pois os empresários franceses não aguentavam mais tanta “ajuda” estatal em sua gestão, Montebourg, dizia eu, afirmou que “não se pode pedir aos países que abram mão de seus interesses estratégicos”.


Mas quem foi que pediu isso? E aqui vale fazer essa importante, diria fundamental distinção: não é porque um serviço ou um setor é estratégico para o país que ele deve ser dominado pelo estado ou só contar com empresas nacionais. Isso não passa de uma falácia. Uma falácia adorada pelos estatólatras, que sempre usaram e abusaram desse termo – estratégico – para impor uma agenda de avanço estatal sobre tudo (basta pensar em nossas privatizações, que a esquerda sempre condenou com base nesse mesmo conceito).


Então se a Portugal Telecom, a italiana TIM e a mexicana Claro competem para oferecer serviços de telecomunicação, isso afeta o nosso interesse nacional? De que forma mesmo? Como exatamente seria melhor ter a volta da Telebras sob o controle estatal e monopolista? Será que a fusão da Oi com a Brasil Telecom, que levou o ex-presidente Lula a mudar a lei para recriar uma super-tele verde e amarela, era o caminho para proteger nossos interesses estratégicos, e não os de Lulinha e companhia?


Isso sem falar que hoje em dia, com grandes corporações cuja base acionária é totalmente pulverizada entre milhões de acionistas no mundo todo, fica até difícil falar em nacionalidade da empresa. De quem é a GE? Sim, é uma empresa americana, mas não tem um dono, ou nada parecido com aquela velha imagem de um capitalista com bengala e chapéu. Seu controle é diluído entre vários acionistas de várias nacionalidades.


Colbert era o ícone da mentalidade mercantilista destroçada por Adam Smith em seu magistral Riqueza das Nações, em que derruba vários mitos até hoje endossados pelos dirigistas. Aprendemos com a história que poucos aprendem com a história. É impressionante como nações inteiras caem nas mesmas armadilhas do passado.


No Brasil, temos em Luciano Coutinho, presidente do inflado BNDES, que escolhe os “campeões nacionais”, um dos maiores representantes dessa mentalidade. Tudo isso significa mais intervenção estatal, mais corrupção, menos “destruição criadora” capitalista, menos riqueza. Em nome do nacionalismo e dos interesses estratégicos, governos impedem o livre funcionamento dos mercados, força espontânea responsável pelo avanço da prosperidade.


Rodrigo Constantino

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