terça-feira, 17 de junho de 2014

Após gastar R$ 8.000 com coiote, economista do Haiti vira pedreiro no Brasil



Especialista diz que leis de migração são burocráticas e não atendem necessidades 

 R7
Após gastar cerca de R$ 8.000 para viajar do Haiti até o Brasil, o economista David Josopsu não conseguiu encontrar aqui o que queria. 

Seu diploma teve que ser colocado de lado para dar espaço ao uso das mãos na construção civil. Ele virou pedreiro e lamenta não conseguir atuar na sua área.

— Eu tinha o sonho de fazer pós-graduação e vim para o Brasil com esse objetivo. A única coisa que consegui até agora foi traduzir o meu diploma, mas ele não é válido. 

Eu procuro emprego e falo da minha experiência, mas acredito que os empresários também têm preconceito em contratar um haitiano que não seja para um serviço considerado inferior. Com essas dificuldades, está complicado continuar a sonhar.

David chegou ao País por meio dos coiotes que atuam nas fronteiras. Ele pagou tudo em dólar, economizado durante mais de um ano de trabalho no Haiti. 

A passagem aérea de Porto Príncipe até o Equador custou cerca de R$ 4.000. Do país vizinho até Brasileia, no Acre, passou dias viajando de ônibus disponibilizados pelos coiotes. 

Mais dinheiro gasto com transporte e alimentação.

O economista, de 30 anos, deixou para trás toda a família. Além de estudar, a esperança era mandar um pouco de dinheiro, o que David não consegue. 

Ele saiu de Brasileia para buscar abrigo na Casa do Migrante, em São Paulo. O que ganha na capital paulista trabalhando na construção civil, pouco mais de R$ 1.000, é usado para se sustentar.

— Eu ganho aqui menos que no Haiti. O aluguel é caro, a vida é difícil. Penso em voltar para o Haiti, mas nem dinheiro consigo guardar para isso. Eu não sabia que seria assim, tinha esperança que tudo seria diferente.

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A advogada Gabriela Ferraz, especialista em leis de migração, reconhece as dificuldades de se validar o diploma aqui no Brasil.


— O Brasil tem leis de migração burocráticas. 

É muito caro e difícil validar um diploma aqui. Eu mesma fiz mestrado na França e nunca consegui validar meu certificado, não existe nenhum tipo de integração. 

Os haitianos vêm porque estão em uma situação difícil por lá, ficam nas mãos de coiote para chegar ao Brasil, cobram o que querem deles, não sobra dinheiro para pensar em diploma.

David está no Brasil há um ano. A decisão de mudar veio após o terremoto de janeiro de 2010 que deixou um saldo de mais de 220 mil mortos. Desde então, mais de 20 mil haitianos já vieram morar no País, segundo dados do Ministério da Justiça. 

O governo concede visto de permanência, o que dá direito a carteira de trabalho e CPF. A medida humanitária foi tomada após o terremoto como forma de ajuda.   

Mais de 482 empresas procuraram a Casa do Migrante em Sâo Paulo para recrutar trabalhadores haitianos. São mais de 400 ofertas de trabalho por semana, a maioria para a construção civil ou frigoríficos. 

Muitos haitianos são levados para trabalhar em outros Estados, como Paraná e Santa Catarina. 

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