Manifestantes dizem que reintegração foi feita de forma arbitrária.
Área foi cercada com tapumes e PM continua vigiando o local.
Policiais
Militares do Batalhão de Choque jogam spray de pimenta em manifestantes
sentados no chão
Quatro manifestantes foram detidos e vários outros ficaram feridos
durante a reintegração de posse do terreno do Cais José Estelita, área
central do Recife,
na manhã desta terça-feira (17). Pelo menos três pessoas foram socorridas para hospitais do Grande Recife. Entre os detidos há dois estrangeiros - um peruano e outro argentino. Foram instalados tapumes na entrada do terreno. De acordo com a PM, que permanece na área, o local está desocupado
Todos os detidos foram levados para a Central de Flagrantes da Polícia Civil, no bairro de Campo Grande. Segundo o capitão Júlio Aragão, eles serão investigados por "desobediência, por ameaça e incitação de violência".
Os quatro já prestaram depoimento e contra eles foi registrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por desacato e resistência, contravenções de menor potencial ofensivo.
O Corpo de Bombeiros informou que três pessoas precisaram ser removidas para unidades de saúde.
Duas delas foram levadas ao Hospital Tricentenário de Olinda: uma mulher que desmaiou e um rapaz de 18 anos que foi atingido por estilhaços de bomba de efeito moral.
De acordo com o Tricentenário, o manifestante sofreu arranhões leves no peito e no braço, mas já teve alta. Conforme a unidade, a outra manifestante inalou muito gás lacrimogêneo e segue em observação, sem previsão de alta.
Um outro homem foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Imbiribeira, na Zona Sul do Recife. Não há informações sobre o estado de saúde dele.
Segundo ela, os advogados dos manifestantes foram impedidos de entrar no terreno pelos policiais. “Fui empurrada pela polícia para fora e inclusive fui vítima de violência [...] Quando a própria advogada é vítima de agressão policial como eu fui, apanhei com cassetete do policial do Gati [Grupamento de Apoio Tático Itinerante da PM] sem nenhuma necessidade, acho que isso é ilustrativo do que aconteceu com os ativistas pacíficos. Ficou notória a intenção de cumprir o mandado com o máximo de violência”, afirmou Liana Cirne.
Segundo ela, uma das ativistas tinha asma e desmaiou após ser atingida por spray de pimenta.
“O Batalhão de Choque esteve presente para garantir o cumprimento do mandado de reintegração de posse, por ordem da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Pernambuco. A negociação começou a partir das 5h15 e por volta das 6h17 a Polícia Militar teve que dar cumprimento ao mandado porque havia uma resistência e uma clara ameaça ao cumprimento”, afirmou o capitão Júlio Aragão, assessor de comunicação da PM.
Batalhão
de Choque da Polícia Militar fica no Estelita para a instalação de
tapumes na entrada do terreno
Segundo o PM, os policiais devem permanecer no local. "Vai ser
necessário fazer a segurança para que os manifestantes não retornem. É
uma área privada e vai ser entregue ao dono do terreno. A gente alerta
os manifestantes e outros interessados que a ocupação desse terreno,
tendo uma medida judicial em vigência, é um ato criminoso, um delito, e
se assim for feito, se invadir, e houver determinação novamente da
Justiça, a PM vai cumprir aquilo que estiver estabelecido em lei",
completou.De acordo com a Secretaria de Defesa Social, foi tentada uma negociação para a saída dos manifestantes ao longo de 15 dias, após a reunião feita com a Secretaria de Direitos Humanos e representante do grupo Direitos Urbanos.
Segundo a SDS, na reunião desta segunda (16), na Prefeitura do Recife, os manifestantes voltaram a afirmar que não sairiam do terreno, o que teria impossibilitado a negociação. Deste modo, conforme a SDS, a PM cumpriu a ordem judicial porque não houve acordo.
Manifestante é agredido durante reintegração de posse no Cais José Estelita
Início da desocupaçãoO Batalhão de Choque, o Regimento da Polícia Montada e a Companhia Independente de Policiamento com Cães (CIP-Cães) da Polícia Militar fizeram um bloqueio no terreno para cumprir o mandado.
Quem passou pelo local pela manhã ouviu o barulho de bombas de efeito moral e fumaça perto das barracas da ocupação. Um bloqueio policial foi montado na altura do Cabanga e nenhum carro pôde entrar na avenida do Cais.
No local, a Polícia Militar apresentou um documento onde afirma que a intenção é apoiar a oficial de justiça designada para cumprir a decisão do juiz.
Apesar do mandado de reintegração de posse do terreno ter sido emitido no dia 29 de maio, havia um acordo entre os manifestantes e a PM de que seria feito um levantamento sobre o tipo de ocupação no Cais antes da retirada do grupo.
Segundo o advogado Alexandre da Maia, integrante do Direitos Urbanos, a PM informou que seria montado um esquema de desocupação junto com os envolvidos na situação.
A data da reintegração de posse não ficou definida durante a reunião realizada no dia 2 de junho, que envolveu as secretarias de Defesa Social (SDS), de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SEDSDH) e representantes do Direitos Urbanos (DU).
Em nota, o Consórcio Novo Recife, responsável pela obra, disse que "a ilegalidade da ocupação ocorrida no dia 21 de maio foi reconhecida pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco, ao determinar a imediata desocupação do referido imóvel.
O não acatamento pelos ocupantes da ordem judicial resultou na determinação de uso da força policial para o cumprimento do mandato de reintegração expedido pelo Tribunal de Justiça". Veja mais abaixo a íntegra do comunicado das construtoras.
Também em nota, a Prefeitura do Recife informou que está conduzindo o diálogo e a negociação sobre o projeto Novo Recife com a participação de órgãos como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Observatório do Recife, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE) e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU).
Até o momento, foram realizadas quatro reuniões em que houve a escuta dos representantes do Movimento Ocupe Estelita, Consórcio Novo Recife e Ministério Público Estadual e Federal. Para a prefeitura, “o melhor caminho para a desocupação do terreno seria através de uma solução negociada e pacífica”.
Na segunda-feira (16), em uma reunião na Prefeitura do Recife, foi fixado um prazo de 30 dias para serem estabelecidas as novas diretrizes urbanísticas para a área do Cais José Estelita.
Participaram entidades como o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Uma proposta de procedimentos foi assinada e será encaminhada ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Ministério Pública Federal (MPF), Consórcio Novo Recife e movimento Ocupe Estelita, que devem participar do processo de elaboração do novo projeto imobiliário para a área.
Na ocasião, foi combinada a convocação de uma audiência pública pela Prefeitura do Recife após o estabelecimento dessas diretrizes. O Consórcio Novo Recife terá, então, mais trinta dias para realizar o redesenho do projeto.
Depois disso, o acordo é realizar uma nova audiência pública para que novas contribuições sejam feitas pelos envolvidos, mediante aprovação da Prefeitura.
Em relação à reintegração de posse do terreno, o prefeito Geraldo Julio disse que o assunto não foi tratado na reunião, mas que deve ser realizado em um acordo entre o movimento e as construtoras.
Assinaram o documento representantes do CAU, IAB, Crea, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), UFPE, Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec), Observatório do Recife e Fórum Estadual de Reforma Urbana (Feru).
Por telefone, a assessoria de imprensa do Consórcio Novo Recife informou ao G1 que ainda não foi comunicada oficialmente sobre os novos prazos.
Entenda o caso
A área do cais foi ocupada em 21 de maio por manifestantes contrários ao projeto Novo Recife, plano imobiliário de um grupo de construtoras que prevê a construção de torres residenciais e comerciais num terreno de 10 hectares, no Centro Histórico do Recife.
Eles pedem a nulidade do processo administrativo que aprovou o projeto, que hoje é objeto de ações judiciais questionando sua legalidade.
O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) concedeu a reintegração de posse da área, atendendo a um pedido feito por advogados do Consórcio Novo Recife. O DU e o Ministério Público recorreram da decisão, que ainda não foi analisada pela Justiça estadual.
No dia 3, a Prefeitura do Recife anunciou a suspensão da licença que permitia a demolição de galpões da área do cais.
saiba mais
No dia 5, o engenheiro Eduardo Moura, representante da Moura Dubeux
Engenharia, afirmou que o Consórcio Novo Recife concorda em produzir um
novo projeto para o terreno.- PM cumpre mandado de reintegração de posse no Cais José Estelita
- Prefeitura fixa em 30 dias prazo para novas diretrizes do Novo Recife
- Homem armado ameaça pessoas dentro de trem no Cais José Estelita
- Otto atrai multidão para o movimento Ocupe Estelita, no Recife
- No Recife, área do Cais José Estelita terá licenciamento refeito
- Consórcio Novo Recife concorda em redesenhar projeto para área do cais
- Prefeitura do Recife suspende licença de demolição no Cais José Estelita
- Encontro termina sem definição sobre reintegração em cais do Recife
- Recife tem protesto cultural contra plano imobiliário no Cais José Estelita
- Prefeito diz que aprovação do projeto Novo Recife se deu na gestão anterior
- Após decisão do TJPE sobre Estelita, manifestantes seguem acampados
A polêmica
Em 2013, a Prefeitura do Recife aprovou novas medidas referentes ao polêmico projeto imobiliário, exigindo novas ações mitigadoras - tomadas para compensar os possíveis danos causados pela construção.
O valor da compensação subiu de R$ 32 milhões para R$ 62,7 milhões, com a inclusão de biblioteca, túnel e um parque linear, entre outros itens. Um termo de compromisso entre a gestão municipal e consórcio de construtoras responsável pelo Projeto Novo Recife foi assinado na ocasião.
Desde que foi criado, em 2012, o projeto é alvo de polêmicas. Cinco ações questionam o Novo Recife: uma civil pública do Ministério Público estadual, uma do Ministério Público federal e três ações populares.
As ações populares pedem a nulidade do ato administrativo do Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) que aprovou a proposta imobiliária no fim de 2012.
Confira a nota divulgada no final da manhã pelo Consórcio Novo Recife:
"Em razão dos acontecimentos decorrentes da ação de reintegração de posse promovida pela Polícia Militar de Pernambuco visando à desocupação do imóvel de propriedade do Consórcio Novo Recife, localizado na Avenida José Estelita, temos a informar:
1) A ilegalidade da ocupação ocorrida no dia 21 de maio foi reconhecida pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco, ao determinar a imediata desocupação do referido imóvel. O não acatamento pelos ocupantes da ordem judicial resultou na determinação de uso da força policial para o cumprimento do mandato de reintegração expedido pelo Tribunal de Justiça.
2) Esse procedimento é inerente ao estado democrático, onde o direito de propriedade deve ser protegido.
3) O Consórcio Novo Recife, através de notas publicadas nos três jornais de maior circulação do estado, em várias edições, assim como também divulgadas nas redes sociais, apontou como melhor caminho a favor do entendimento e do diálogo, a desocupação ordeira e pacífica do terreno.
4) O Consórcio registra também que durante todo o período de tramitação do processo de aprovação do Projeto Novo Recife, sempre manteve uma postura de acatamento das recomendações nas várias instâncias técnicas – municipais, estaduais e federais.
5) O Consórcio, que sempre esteve aberto ao diálogo, adere à “Proposta de Procedimentos” da Prefeitura do Recife, contemplando uma agenda de trabalho voltada para a discussão do Projeto, que desde o seu início, sempre objetivou a melhor solução para a nossa cidade.
Assim, é com a crença de que a serenidade nos levará ao encontro do entendimento que sempre buscamos, pelo Recife.
Consórcio Novo Recife"
Nenhum comentário:
Postar um comentário