Artigo
no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por
Nelson Motta
Desde que foi fundido à força pela ditadura com o Estado do Rio, em 1975, o Rio de Janeiro tem sido um cemitério de governantes, como Brizola, Moreira Franco, Garotinho, Rosinha e Sérgio Cabral, que saíram do governo como zumbis políticos. Mas o tal espírito carioca, sempre celebrado por sua irreverência, criatividade e independência, na política estadual tem produzido mais desastres do que avanços.
O espetáculo
constrangedor da recente orgia partidária, protagonizado por arqui-inimigos que
param de se acusar das piores baixezas e vilanias para se unir na busca do
poder a qualquer preço, escancara a sem-vergonhice da cena política carioca,
com a contribuição do paraibano Lindbergh Farias e do pernambucano Eduardo
Campos, cuja união desmoraliza as duas candidaturas.
Uma coisa eles
estão provando: têm estômago e não temem o ridículo.
O Rio de Janeiro é
tão peculiar que o PT e o PSDB, que protagonizam a grande polarização nacional,
aqui têm mínima expressão e reduzido poder de fogo. Além do “brizolismo de
resultados” do PDT, as siglas menores se misturam e se confundem, só mudam os
nomes dos candidatos. É como se essa geleia fluminense fosse um grande PMDB,
como nos tempos de Chagas Freitas, ao mesmo tempo governo e oposição, marcado
pelo populismo, o oportunismo e a cafajestice, mas agora com expressivo
eleitorado evangélico, disputado por Garotinho e Crivella. É mole?
Apesar de toda sua
importância cultural, empresarial e política, falar de partidos políticos no
Rio de Janeiro nos aproxima de Alagoas e Maranhão: são bandos de interesse guiados
pela melhor oportunidade, digamos que não necessariamente desonestos, mas sem
nenhuma qualificação profissional ou representatividade popular.
Nesse festival de
pornopolítica fluminense, que envergonha até quem apenas o testemunha, o grande
vencedor é o voto branco ou nulo. Pelo menos está servindo para o eleitorado
saber com quem está lidando, se é que ainda tinha alguma ilusão, e se conformar
em escolher o menos pior, com os aliados menos nefastos.
Pensando melhor: em
que estado o quadro é muito diferente disso?
Nelson
Motta é Jornalista e Crítico Musical. Originalmente publicado em O Globo em 27
de junho de 2014.
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