José
Serra escreveu no Estadão de ontem um excelente artigo sobre a
decadência do petismo e sua guinada autoritária — dentro do
autoritarismo que já está na sua origem. Explica a razão do
desarvoramento do partido e aponta como evidências do destrambelhamento o
decreto bolivariano da presidente Dilma e a lista negra de jornalistas.
Leiam trechos:
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O PT não é um partido muito tolerante já a partir de seus próprios pressupostos originais e de seu nome: quem se pretende um partido “dos” trabalhadores, não “de” trabalhadores, já ambiciona de saída a condição de monopolista de um setor da sociedade.
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O PT não é um partido muito tolerante já a partir de seus próprios pressupostos originais e de seu nome: quem se pretende um partido “dos” trabalhadores, não “de” trabalhadores, já ambiciona de saída a condição de monopolista de um setor da sociedade.
Mais ainda: reivindica o poder de determinar quem
pertence, ou não, a essa categoria em particular. Assim, um operário que
não vota no PT, por exemplo, não estará, pois, entre “os”
trabalhadores; do mesmo modo, o partido tem conferido a “carteirinha” de
operário padrão a pessoas que jamais ganharam o sustento com o fruto do
próprio trabalho.
A fórmula
petista é conhecida: a máquina partidária suja ou lava reputações a
depender de suas necessidades objetivas. Os chamados bandidos de ontem
podem ser convertidos à condição de heróis e um herói do passado pode
passar a ser tratado como bandido. A única condição para ganhar a bênção
é estabelecer com o ente partidário uma relação de subordinação. A
partir daí não há limites. Foi assim que o PT promoveu o casamento
perverso do patrimonialismo “aggiornado”, traduzido pela elite sindical,
com o patrimonialismo tradicional, de velha extração.
(…)
Não tendo mais auroras a oferecer, não sabendo por que governa nem por que pretende governar o País por mais quatro anos, e percebendo que amplos setores da sociedade desconfiam dessa eterna e falsa luta do “nós” contra “eles”, o petismo começa a adentrar terrenos perigosos. Se a prática não chega a ameaçar a democracia – tomara que não! –, é certo que gera turbulências na trajetória do País.
(…)
Não tendo mais auroras a oferecer, não sabendo por que governa nem por que pretende governar o País por mais quatro anos, e percebendo que amplos setores da sociedade desconfiam dessa eterna e falsa luta do “nós” contra “eles”, o petismo começa a adentrar terrenos perigosos. Se a prática não chega a ameaçar a democracia – tomara que não! –, é certo que gera turbulências na trajetória do País.
No apagar das luzes deste mandato, a presidente
Dilma Rousseff decide regulamentar, por decreto – quando poderia fazê-lo
por projeto de lei –, os “conselhos populares”. Não por acaso, bane o
Congresso do debate, verticalizando essa participação, num claro
mecanismo de substituição da democracia representativa pela democracia
direta.
Na Constituição elas são complementares, não excludentes. Por
incrível que pareça – mas sempre afinado com o bolchevismo sem utopia –,
o modelo previsto no Decreto 8.243 procura substituir a democracia dos
milhões pela democracia dos poucos milhares – quase sempre atrelados ao
partido.
É como se o PT pretendesse tomar o lugar da sociedade.
Ainda mais
detestável: o partido não se inibe de criar uma lista negra de
jornalistas – na primeira fornada estão Arnaldo Jabor, Augusto Nunes,
Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Guilherme Fiuza, Danilo Gentili,
Marcelo Madureira, Demétrio Magnoli e Lobão –, satanizando-os e,
evidentemente, expondo-os a riscos.
É desnecessário dizer que tenho
diferenças, às vezes severas, com vários deles. Isso é parte do jogo. É
evidente que o regime democrático não comporta listas negras, sejam
feitas pelo Estado, por partidos ou por entidades.
Mormente porque, por
mais que se possa discordar do ponto de vista de cada um, em que momento
eles ameaçaram a democracia? Igualmente falsa – porque há evidência dos
fatos – é que sejam tucanos ou “de oposição”. Não são. Mas, e se
fossem? Num país livre não se faz esse tipo de questionamento.
Acuado
pelos fatos, com receio de perder a eleição, sem oferecer uma resposta
para os graves desafios postos no presente e inexoravelmente contratados
para o futuro, o PT resolveu acionar a tecla da intolerância para
tentar resolver tudo no grito. Cumpre aos defensores da democracia
contrariar essa prática e essa perspectiva. Não foi assim que
construímos um regime de liberdades públicas no Brasil. O PT está
perdendo o eixo e tende a voltar à sua própria natureza.
Leia a íntegra aqui
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