sexta-feira, 27 de junho de 2014

Manifestações durante a Copa viram atração turística para estrangeiros




Na calçada em frente ao Masp, na avenida Paulista, dezenas de policiais militares aguardam o início da manifestação, enquanto um grupo de turistas se aproxima.


A guia que conduz os estrangeiros quer falar do museu, símbolo da arquitetura paulistana. Mas, diante da curiosidade, muda o roteiro. 

"Como vocês podem ver, os policiais estão aqui para um protesto às 17h. Os protestos em São Paulo começam tranquilos, mas às vezes se tornam violentos", explica.

O protesto desta quinta-feira (26) –contra a prisão de dois manifestantes na segunda– e o contingente policial se converteram em ponto turístico de quem está na cidade para a Copa do Mundo. 

"Se a prisão deles foi mesmo ilegal, eu apoio o protesto", diz o indiano Raju Roychowdhury, 32, que têm nas mãos um folheto no qual se lê "Ditadura, não", distribuído no vão-livre do Masp. Ele tinha ido passear com a mulher na Paulista e, ao ver o que ocorria, quis assistir. 




Grupo de turistas passeia na avenida Paulista pouco antes de protesto nesta quinta-feira (26)
Grupo de turistas passeia na avenida Paulista pouco antes de protesto nesta quinta-feira (26)   


Enquanto jovens cantavam "são 30 anos sem ditadura e a repressão ainda continua", ele parece confuso. "É um paradoxo a alegria da Copa do Mundo e esse protesto. A maioria do povo concorda [com a manifestação]?" 

Por volta das 18h, ele e a mulher, Chaitali, 28, falavam com uma manifestante que explicava, em inglês, as razões de estar ali. Mas Raju não concordou com tudo o que ouviu. "Acho que o Brasil não vive uma ditadura. É uma democracia", disse. 

Os turistas afirmam que acharam o país seguro e só lamentaram o fato de o celular de Chaitali ter sido furtado na saída do Itaquerão, na abertura da Copa do Mundo, no dia 12 de junho. 

Com um jornal da causa operária debaixo do braço, que guardou para ler depois, a socióloga chilena Evelyn Vicioso, 33, tinha acabado de sair do Masp quando viu a multidão cantando e muita polícia. Com três amigos, parou para acompanhar o que se passava e tirar fotos. 

"Me parece justo protestar. Tem acontecido em toda a América Latina", diz ela, que não conseguiu ingresso para a Copa e tem assistido aos jogos em Fan Fests. 

"Sei que a população não está a favor dos gastos da Fifa com a Copa. Só não imaginei que tivesse um protesto hoje", afirma o publicitário chileno Diego Cuevas Espinoza, 27, que andava com uma amiga brasileira na Paulista. 

Se soubesse antes da manifestação, disse, aproveitaria para fazer um "selfie" com os policiais do local e se passar por preso na internet, em alusão aos conterrâneos detidos por invadir o Maracanã no último dia 18.

Depois, colocaria a foto nas redes sociais. Tudo por "broma" (brincadeira), diz. 


Só não colocou a ideia em prática porque não estava com a camisa da seleção chilena no momento.

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