19/07/2014 18h45
- Atualizado em
19/07/2014 19h21
Elisa Quadros, a Sininho, seria uma das lideranças dos protestos violentos.
Advogado de ativista afirma que prisões são 'políticas' e que vai recorrer.
Elisa Quadros, conhecida como Sininho, é apontada em denúncia como organizadora de protestos violentos.
Denúncia do Ministério Público contra 23 manifestantes acusados de atos violentos em protestos no Rio de Janeiro afirma que os réus, comandados por Elisa Quadros, a Sininho, se reuniram com o objetivo de incendiar o prédio da Câmara Municipal, na ocupação conhecida como Ocupa Câmara, em agosto de 2013.
De acordo com a denúncia, a que o G1 teve acesso e que foi aceita pela Justiça, tornando réus em ação penal os 23 citados, os ativistas cometeram crimes de associação criminosa, com pena maior por participação de menores, dano qualificado, resistência, lesões corporais, posse de artefatos explosivos e corrupção de menores.
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Segundo a Promotoria, Sininho, além de ter incitado os ocupantes do
Ocupa Câmara e Black Blocs a queimar um ônibus nos protestos, teria
comandado manifestantes a levarem três galões de gasolina para a Câmara
Municipal do Rio de Janeiro
e incitado os ocupantes a incendiar o prédio. Segundo testemunhas
ouvidas nas investigações, outros participantes impediram o incêndio.- PERFIL: Saiba quem são os ativistas presos pela polícia do RJ
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A denúncia foi oferecida pelo promotor Luís Otávio Figueira Lopes, especializado em crimes digitais. As investigações começaram no dia 25 de setembro de 2013.
O promotor pediu a prisão preventiva para "manter a ordem pública", alegando que os acusados estão diretamente envolvidos em “atos de violência em manifestações populares, havendo nos autos indícios claros de que, em liberdade, voltarão à prática de atos de tal natureza”.
Cinco denunciados foram presos no sábado (12), dois ativistas que não foram incluídos na denúncia foram soltos neste sábado, e outros 18 estão foragidos, segundo a Polícia Civil.
O advogado de Elisa Quadros, a Sininho, Marino D'Icarahy, afirma que as prisões são uma tentativa de criminalizar o ativismo político, e comparou a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) ao antigo DOPS, que prendeu e torturou presos políticos durante o regime militar.
“Eles são tratados como presos políticos, e todos sabem disso. Todos tem bons antecedentes, residência fixa, estão dispostos a colaborar com o processo. Vamos rebater as denúncias no momento certo”, afirmou o advogado, que tem o filho Igor Pereira D'Icarahy como um dos denunciados.
Acusações
O MP afirma que, após as manifestações de junho de 2013 e a aparição da tática Black Bloc, foi criada a Frente Independente Popular (FIP), com a intenção de reunir diversos grupos e definir uma linha para os protestos. Para o promotor, até esse momento, é direito constitucionalmente assegurado a realização de manifestações.
Mas que, além de reuniões públicas, houve também encontros fechados com objetivo diverso.
"Nestas reuniões fechadas estabeleceu-se que o protesto pacífico não seria meio hábil ao alcance dos objetivos dos grupos, tendo sido, então, definido que deveria ser incentivada a prática de ações violentas no momento das manifestações, tais como a depredação de bancos, de estabelecimentos comerciais e o ataque a ônibus e viaturas policiais", escreveu na denúncia.
Elisa Quadros Pinto Sanzi, a Sininho, que está presa, foi identificada como uma das principais lideranças da FIP, juntamente com Igor Mendes da Silva, Leonardo Fortini Baroni Pereira, Emerson Raphael Oliveira da Fonseca, Camila Aparecida Rodrigues Jourdan, Felipe Proença de Carvalho Moraes, Luiz Carlos Rendeiro Júnior e Drean Moraes de Moura Corrêa, conhecido como “DR”.
Entre os grupos que compõem a FIP, ainda conforme a denúncia, estariam a Organização Anarquista Terra e Liberdade (OATL), Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST), Anonymous Rio, Aldeia Maracanã, entre outros.
Frente Independente Popular é considerada organizadora de atos violentos em manifestações
Rebeca Martins de Souza, que teria cedido um veículo de sua propriedade para essas ações, também foi denunciada pelo Ministério Público.
Já a organização Anarquista Terra e Liberdade (OATL) seria representada na FIP pelos diretores Filipe Proença de Carvalho Moraes, Camila Aparecida Rodrigues Jourdan e Pedro Guilherme Mascarenhas Freire. Segundo a denúncia, estes seriam os responsáveis pelo planejamento dos atos violentos, bem como a preparação dos armamentos utilizados, como coquetéis molotov, fogos de artifício alterados para adquirirem potencial lesivo e até mesmo pregos em morteiros, disparados em seguida contra policiais.
Camila Jourdan é acusada, com base em escutas telefônicas autorizadas pela 27ª Vara Criminal do Rio, de elaborar tais artefatos em sua casa e, posteriormente, disponibilizá-los aos adeptos da tática Black Bloc.
O Movimento Estudantil Popular Revolucionário, na organização da FIP, seria formado por Igor Mendes da Silva, Rafael Rego Barros Caruso, Leonardo Fortini Baroni Pereira, Emerson Raphael Oliveira da Fonseca, Shirlene Feitoza da Fonseca e sua irmã, menor de idade. De acordo com as investigações, o grupo era considerado o mais violento dentro da FIP, pois dedicava-se a promover os confrontos contra policiais e as forças de segurança.
Black Blocs são acusados de protestos violentos
Os Black Blocs, representados na denúncia como Gabriel da Silva Marinho, Drean Moraes de Moura Corrêa, Karlayne Moraes da Silva Pinheiro e Luiz Carlos Rendeiro Júnior, o “Game Over”, atuariam tanto na organização como na prática de atos violentos. Gabriel, por exemplo, era o responsável por atirar coquetéis molotov, fabricados por ele e sua namorada, Karlayne.
O grupo utilizaria facas, explosivos, estilingues, rojões alterados para disparar pregos e até porretes.
A investigação apurou ainda a participação de um adolescente adepto da tática que teria comportamento extremamente agressivo e que teria declarado “ter a intenção de matar um policial nos protestos contra a Copa do Mundo”.
Já Caio Silva Rangel e Fábio Raposo, presos preventivamente desde fevereiro acusados de serem autor e coautor do homicídio do cineasta da Band Santiago Andrade, também estão citados na denúncia do Ministério Público pela sua atuação como Black Blocs. Fábio Raposo teria sido, inclusive, cogitado por Elisa Quadros para assumir a função de Luiz Carlos Rendeiro Júnior, o “Game Over”, na organização da FIP.
Informantes
Igor Pereira D'Icarahy, namorado de Camila Jourdan e filho do advogado de Sininho, Marino D'Icarahy, participaria do transporte de material usado e atuava como informante, indicando a posição das forças de segurança durante os protestos.
Eloisa Samy Santiago teria começado como advogada, mas depois ordenando o início de atos violentos e também passado a atuar como informante dos jovens, cedendo sua casa para reuniões.
O documento do Ministério Público reconhece, no entanto, que houve excessos na repressão aos protestos no Rio por parte das forças de segurança.
Defesas
O advogado de Fábio Raposo, um dos responsáveis pela morte de Santiago Andrade em fevereiro de 2014, afirmou que a denúncia envolvendo seu cliente é "ridícula". "Essa ilação beira o ridículo. Ele não fazia parte da FIP e somente protestava contra o que via nas ruas, principalmente com a mãe professora da rede pública e o pai taxista, passando por dificuldades financeiras. Ele lutava por melhorias sociais", disse.
Lucas Sada, advogado do Sindicato dos Jornalistas do Rio e do Instituto Defensores dos Direitos Humanos (DDH), representa seis clientes: Joseane Maria Araújo de Freitas, Gabriel da Silva Marinho, Karlayne Moraes da Silva Pinheiro, a "Moa", André de Castro Sanchez Basseres, Pedro Guilherme Mascarenhas e Luiz Carlos Rendeiro Júnior, o "Game Over".
Sobre o caso de Joseane, ele afirma que a denúncia é uma "peça de ficção". "Ela participou de manifestações, sim, mas nunca participou de nenhum confronto com a polícia e não possui nenhum vínculo com os Black Bloc", diz Sada, que afirmou que pretende entrar com um pedido de habeas corpus na segunda-feira (21) para seus clientes.
João Tancredo, advogado de Luiz Carlos Rendeiro Júnior, vulgo "Game Over", afirmou que vai tentar entrar com um pedido de habeas corpus ainda neste domingo (20).
O advogados de Sininho, Marino D'Icarahy, e Lucas Sada, também afirmaram que não tiveram acesso ao inquérito policial e à denúncia. "Impressiona que nós não tenhamos acesso à denúncia e a imprensa tenha", criticou Marino. "Assim fica muito difícil trabalhar", disse Sada. A assessoria de imprensa do Ministério Público informou que os advogados podem ter acesso ao documento no cartório da 27ª Vara Criminal.
Ativistas presos:
ELISA DE QUADROS PINTO SANZI, vulgo "SININHO”
CAMILA APARECIDA RODRIGUES JOURDAN
IGOR PEREIRA D’ICARAHY
FABIO RAPOSO BARBOSA (Já estava preso pela morte de Santiago)
CAIO SILVA RANGEL (Já estava preso pela morte de Santiago)
Ativistas com mandado de prisão e foragidos:
LUIZ CARLOS RENDEIRO JUNIOR, vulgo "GAME OVER”
GABRIEL DA SILVA MARINHO
KARLAYNE MORAES DA SILVA PINHEIRO, vulgo "MOA"
ELOISA SAMY SANTIAGO
IGOR MENDES DA SILVA
DREAN MORAES DE MOURA CORRÊA, vulgo "DR"
SHIRLENE FEITOZA DA FONSECA
LEONARDO FORTINI BARONI PEREIRA
EMERSON RAPHAEL OLIVEIRA DA FONSECA
RAFAEL RÊGO BARROS CARUSO
FILIPE PROENÇA DE CARVALHO MORAES, vulgo "RATÃO"
PEDRO GUILHERME MASCARENHAS FREIRE
FELIPE FRIEB DE CARVALHO
PEDRO BRANDÃO MAIA, vulgo "PEDRO PUNK"
BRUNO DE SOUSA VIEIRA MACHADO
ANDRÉ DE CASTRO SANCHEZ BASSERES
JOSEANE MARIA ARAUJO DE FREITAS
REBECA MARTINS DE SOUZA
Ativistas liberados:
GERUSA LOPES DINIZ
TIAGO TEIXEIRA NEVES DA ROCHA
EDUARDA OLIVEIRA CASTRO DE SOUZA
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