No DF, muitos dizem temer tragédias, mas não deixam de voar de avião
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
As imagens dos destroços do Boeing 777 da Malaysia Airlines, que caiu na quinta-feira na Ucrânia, são, no mínimo, chocantes. O fato de que todas as 298 pessoas que estavam a bordo morreram também assusta. Apesar de fatalidades ocorrerem com apenas um a cada cinco milhões de voos realizados no mundo, incidentes podem acontecer. E a cada notícia de acidente aéreo, muitos brasilienses voltam a questionar a segurança das aeronaves, e o medo de voar aflora.
Em cinco meses, duas aeronaves da companhia se envolveram em acidentes. Primeiro, um avião com 239 pessoas a bordo desapareceu no Oceano Índico. Agora, 298 pessoas morreram.
O estudante Victor Nogueira, 21 anos, já esteve a bordo de um avião da Malaysia Airlines e, mesmo assustado com o episódio recente, não deixará de viajar pela companhia.
“As causas do primeiro acidente ainda não foram descobertas e o segundo foi uma fatalidade em zona de conflito”, justifica.
Experiência
O estudante conta que a companhia é muito bem conceituada no sudeste asiático. “A viagem foi tranquila, as comissárias são muito cordiais e os aviões, muito bons”, avalia.
Ele viajou de Kuala Lumpur, na Malásia, até Cingapura em agosto do ano passado, e confessa ter medo de voar, mas a vontade de conhecer novos lugares costuma falar mais alto. “Amo viajar! Por isso dou preferência para companhias com aviões maiores e com mais estabilidade e conforto, como é a Malaysia”, considera.
Menos casos
No ano passado, o número de acidentes aéreos diminuiu 8,42%, segundo levantamento do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Foram 163 casos envolvendo aeronaves brasileiras: 140 com aviões e outros 23 com helicópteros.
Já segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), os índices de acidentes com fatalidades diminuiu 15% no ano passado, sendo que nenhum acidente fatal foi registrado na aviação regular com transporte comercial de passageiros.
Experiência pode ajudar a manter a calma
Apesar de as estatísticas mostraram que são raros os acidentes,
diante da quantidade de voos, a lembrança de tragédias e mesmo
experiências ruins deixam a população com o pé atrás na hora de
embarcar. A policial federal amapaense Jorivana Carneiro, 35 anos,
costuma pegar a ponte aérea várias vezes ao ano. Ela ficou 45 dias no
DF, em virtude da Copa do Mundo.
Aguardando o embarque, Jorivana confessou que casos como o da
última quinta impressionam. “Só neste ano fui a Minas Gerais, Rio de
Janeiro e Brasília. Fico preocupada, pois, independentemente das causas,
estamos sujeitos a acidentes”.
Turbulência
Em março, durante um voo entre Belém e Macapá, Jorivana passou por
um susto. Em plena Floresta Amazônica úmida pelo período chuvoso, a
aeronave passou por forte turbulência. Com crianças gritando, idosos
assustados e todos nervosos, ela teve de tentar se controlar. “É
difícil. Tem que rezar, se concentrar e torcer para que nada grave
aconteça”, revela.
O fato de que a policial costuma voar é um diferencial para que
mantenha a calma. É o que afirma o psicólogo Luiz Flávio Mendes, que
explica que “muito do medo é provocado pela falta de vivência e, em
alguns casos, pode ser resolvido com o hábito”.
Episódios que causam receio
Gabriela Batista, 29 anos, admite que tem muito medo de voar.
Porta-voz de um partido político, ela costuma passar muito tempo em
voos. “Eu não tinha medo, mas um dia uma turbina do avião em que eu
estava queimou”, conta.
O voo partia de Fortaleza para Brasília e teve que fazer um pouso
forçado. “A gente nem sabia o que estava acontecendo, só sentíamos o
cheiro de queimado e os pilotos e aeromoças desesperados”, lembra. Desde
então, ela teme embarcar e algo grave acontecer.
O professor Demontiê de Alencar, 58 anos, não anda mais próximo às
portas do avião. Certa vez, a aeromoça a destravou em pleno voo. “Minha
filha estava de frente para a porta. Eu, que estava atrás, me agarrei a
ela torcendo que nada acontecesse”, lembra. Aguardando o embarque para o
Ceará, relata que o local não está mais entre as opções porque “foi um
estresse muito grande”.
Pânico do ar
Há três anos, uma turbulência desencadeou uma crise de pânico na
administradora Bárbara Ferriche, 23, e, desde então, ela sofre para
embarcar. Em dois meses, teve três crises no avião. Agora, ela se
prepara para ir ao Japão – serão 32 horas de voo. Para isso, é
acompanhada por um cardiologista.
Durante as crises, ela paralisa. Sem conseguir mover um músculo,
presta atenção em todos os sons emitidos pelo avião. Mas confessa que
fica tensa até mesmo em viagens de ônibus. “Esses dois casos da Malaysia
Airlines me deixam preocupada. Tanto a aeronave que sumiu quanto esta
última me fazem pensar na viagem”, admite. Apesar disso, acredita que o
apoio dos colegas ajude a vencer o medo.
Voar ainda é mais seguro
Na condição de engenheira agrônoma, Muriel Saragoussi, 56, viaja
muito e há muito tempo, com os mais diversos tipos de aeronaves. “Já
peguei aviões comerciais, voos da Força Aérea Brasileira, ‘tecos-
tecos’. Já passei por vários problemas, mas não tenho medo”, diz.
Ela
destaca uma vez, quando sobrevoava a Amazônia em um avião de quatro
lugares sem porta. “Nós nos deparamos com uma tempestade. Demos a volta e
tentamos fugir entre as nuvens, mas o avião chacoalhava muito”,
lembra.
Apesar das experiências negativas, ela destaca que é mais perigoso
andar de avião a carros e ônibus e acredita que são problemas isolados.
“Tinha dois amigos que estavam no avião da TAM, em 2007. Conhecia o
piloto que morreu em outro acidente grave. Fico triste pelas perdas, mas
sem medo de voar porque o problema não é o meio de transporte”.
Ponto de vista
O psicólogo Luiz Flávio Mendes explica que é normal que um desastre
aéreo provoque apreensão nas pessoas.
Mas faz uma ressalva: “As
pessoas que costumam viajar de avião acabam perdendo o medo por saber
que é o meio de transporte mais seguro”. Mendes considera que as
pessoas podem desenvolver um medo exagerado mesmo sem ter passado por
uma experiência negativa, principalmente por saber a proporção de um
acidente aéreo.
Para perder o medo, o psicólogo indica que se conheça
melhor o avião, tenha contato com pessoas que trabalham na aviação ou
costumam viajar frequentemente, para que relatem suas experiências. Além
disso, é importante que se faça viagens aéreas ou procure um
profissional para perder o medo. “Para muitos o avião é sinônimo de
perigo devido à falta de convívio, conhecimento e principalmente de
informações concretas”, conclui.
Entre as dicas da companhia Gol para quem tem medo de voar estão procurar formas de se distrair, como ler ou conversar.
Um exercício simples de respiração pode ter grandes efeitos no
controle da ansiedade. Inspire, prenda o ar e expire de forma que cada
etapa tenha a duração de quatro segundos.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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