Pois é,
pois é… Que coisa, hein, Fernando Haddad? O negócio tá feio. Vejam bem:
há dois dias, Lula afirmou que ele deveria entrar de cabeça na campanha
do petista Alexandre Padilha ao governo de São Paulo. Padilha já está
com 4% dos votos… Atendendo sei lá a que chamado da (i)lógica, o partido
teria decidido que a campanha na TV vai tentar recuperar a imagem do
prefeito para, então, o prefeito alavancar o candidato. Então tá. Acho
que não funciona, mas dou o maior apoio, se é que me entendem.
Está no
ar, saibam os leitores que não são da capital paulista, uma campanha
publicitária exaltando a suposta competência da Prefeitura na gestão da
cidade durante a Copa. Sabem como é: todos eles tentaram pegar uma
carona no evento. Leiam o noticiário sobre a Vila Madalena. Cada morador
de São Paulo certamente temeu uma Sodoma e Gomorra na porta de sua
casa… A propaganda pode muito, sim. Quando, no entanto, ela afronta a
realidade de maneira tão cabal, aí pode ser contraproducente.
O
Datafolha foi a campo para saber o que a população da cidade acha da
administração Haddad. O resultado é devastador pra ele: a rejeição à sua
administração subiu de 36% para 47% em três semanas. No mesmo período, o
índice de ótimo e bom oscilou para baixo: de 17% para 15%. Caiu até os
que consideram a sua gestão regular: de 44% para 37%. Vejam quadros
publicados pela Folha Online.
Só
Jânio Quadros e Celso Pitta, com um ano e meio de gestão, tinham
rejeição maior: 66% e 54%, respectivamente. O tucano José Serra,
derrotado por Haddad, nesse mesmo período, tinha a reprovação mais baixa
desde a gestão Jânio: só 8%. À diferença de Haddad, e como!, era
aprovado por 56%.
É uma avaliação justa?
Justíssima! Haddad não governa a cidade
para o conjunto da população. Sua administração é um mero balcão de
demandas de supostos “movimentos sociais” e de grupos organizados que
gritam mais — inclusive aquela “subintelectuália” de esquerda que o leva
a adotar medidas destrambelhadas, que prejudicam a vida também dos mais
pobres.
Desde quando, no entanto, esses esquerdistas de universidade
& boteco sabem o que quer o povo? Como diria Monteiro Lobato, da
pobreza, não conhecem nem o trinco da porta.
Vamos lá. A
Prefeitura de São Paulo tem hoje um troço chamado “Braços Abertos”, um
programa que, sob o pretexto de reduzir os danos decorrentes do consumo
de crack, na prática, o financia. Um secretário do prefeito admitiu que,
na Cracolândia, a droga está legalizada. Vários países do mundo têm
programas de assistência a dependentes.
Só no Brasil existe algo como
esse “Braços Abertos”, que financia o consumo. E tentem me provar que
não é assim. É a realidade dos fatos. Diante das críticas, Haddad fez o
quê? Está criando mais um núcleo na cidade para abrigar os drogados em
hotéis. Vai dobrar a dose do remédio ruim.
O prefeito
também decidiu espalhar faixas de ônibus, já escrevi aqui, onde elas
são e onde não são necessárias. Sim, quando o ônibus transita com mais
velocidade nesses lugares, o usuário aprova. Quando, no entanto, fica
mais tempo à espera do ônibus — e fica! — reprova.
Ao esmagar os carros
particulares — em que pobres também circulam — e criar dificuldades
homéricas em certas áreas da cidade, aumenta o caos urbano em vez de
resolvê-lo.
Basta analisar os dados sobre congestionamentos. Não estão
contentes nem os usuários de ônibus nem os de carros particulares. A “má
boa consciência”, no entanto, pode trair o administrador.
As pessoas,
em sua maioria, se dizem favoráveis às faixas com receio de serem
acusadas de defensoras dos ricos…
Haddad
passou a flertar abertamente com os movimentos do sem-isso e sem-aquilo,
que ajudaram a elegê-lo, sim. Sobretudo, foram muito úteis na
demonização de seus então adversários: Celso Russomanno e José Serra.
O
prefeito subiu no palanque do MTST, que hoje manda na distribuição de
casas de São Paulo e para a cidade quando lhe dá na telha. Não adianta:
isso vai parar na conta do prefeito. E com razão. Ou não foi a sua turma
que, na prática, convidou Guilherme Boulos e seus sequazes a cercar a
Câmara dos Vereadores. Os que já têm casa, na média, não devem gostar
disso. Mas será que os que não têm gostam? Para quem governa Haddad?
Para os “mobilizados”?
Ele se
tornou uma agência de despachos de micromovimentos. Outra grande ideia
será acabar com estacionamentos para aumentar as ciclovias.
Por quê?
Ora, porque algum subintelectual soprou aos ouvidos do companheiro que
esse negócio de carro é um atraso, entendem? Assim, Dilma prorroga
isenção de impostos para aumentar a venda de carros — comprados
majoritariamente por São Paulo —, e Haddad transforma a vida dos
motoristas num inferno.
Vamos mais
longe. A Prefeitura, hoje, em vez de coibir os “batidões de periferia”,
que destroem a tranquilidade de milhares de moradores pobres, decidiu
regulamentá-los, porque, afinal, seus interlocutores são os promotores
desses eventos, supostos representantes da “cultura da periferia” —
coisa dos coxinhas vermelhos de classe média do complexo Pucusp.
Eis aí o homem que nos prometia o Arco do Futuro.
Supercoxinha
Nunca vi um prefeito eleito e em começo de
mandato tão incensado pela imprensa paulistana como Haddad. De certo
modo, ele era a cara e a expressão da esmagadora maioria dos
jornalistas: esquerdista; oriundo da classe média alta; absolutamente
ignorante sobre o que é a pobreza, vendo a periferia como um lugar de
experimentações antropológicas. A gente lia as reportagens, e lá estava o
homem prometendo que resolveria isso e aquilo…
Por isso eu o apelidei de “Supercoxinha”. Leitores chegaram a fazer charges, a meu convite, retratando a personagem. Numa entrevista concedida
em abril do ano passado à jornalista Joyce Pascowitch, da revista
“Poder”, ainda superpoderoso, travou-se o seguinte diálogo:
Joyce
– Notório por suas críticas ao PT, o colunista da Veja, Reinaldo
Azevedo, tem chamado você de Supercoxinha, como um sujeito bom moço que
quer ser super-herói. Que acha disso?
Haddad - Ah, você não vai me perguntar dele, vai? [Irritado.] Não frequento o ambiente virtual dele. Ele é uma caricatura de jornalista, né? Mas acho que para a esquerda é funcional a existência dessa figura. Faz muito bem pro nosso projeto! As pessoas veem o quão patética é a alternativa nesse momento. É como o pastor Silas Malafaia. Os ataques dele à minha campanha foram tão ridículos que acabaram me ajudando.
Retomo
Em relação a mim, Haddad deveria ter feito
como Santo Agostinho, preferindo a crítica que o corrige ao elogio que o
corrompe (no sentido agostiniano, que não é corriqueiro na política).
Mas ele fez o contrário.
Haddad, um ano e três meses depois dessa entrevista, é uma caricatura de prefeito.
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