sexta-feira, 25 de julho de 2014

Terras públicas: TCU questiona venda no SAN

7:39:55


O Tribunal de Contas da União determinou a suspensão do negócio que resultou na compra de um terreno no Setor de Autarquias Norte por R$ 51 milhões. A área do BNDES, no entanto, é avaliada em pelo menos R$ 285 milhões por estar localizada no Plano Piloto.
 
O BNDES, dono do terreno de 9 mil metros quadrados na área central de Brasília, informou que suspenderá o negócio até que todos os detalhes da transação sejam esclarecidos. ...
 
O Setor de Autarquias Norte é um dos últimos rincões de crescimento para construções institucionais e empresariais na valorizada região central de Brasília. Ainda assim, um cobiçado terreno de 9 mil metros quadrados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi arrematado por R$ 51,5 milhões por uma empresa privada, preço cinco vezes menor do que o valor de mercado. A licitação, realizada em abril, é questionada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que determinou a suspensão da transação até o julgamento do mérito.
 
A denúncia chegou à Corte por meio de uma representação do escritório Jacoby Fernandes & Reolon Advogados Associados. Os advogados listaram vários indícios de irregularidades na transação. A principal delas seria a subvalorização do imóvel. A consultoria S4A, contratada pelo banco, avaliou o imóvel em R$ 45,9 milhões, e a AJS Empreendimentos e Participações deu lance de R$ 51,5 milhões, superior aos das outras duas concorrentes no certame.
 
Mas as aferições anexadas ao processo do TCU estimam que a área, localizada na Quadra 4, vale entre R$ 285 milhões e R$ 291 milhões. Se confirmadas as cifras, o prejuízo aos cofres públicos com a finalização da venda poderia variar entre R$ 234 milhões e R$ 240 milhões, dinheiro suficiente para construir 23 Unidades de Pronto Atendimentos (UPAs) como a instalada em Ceilândia, considerada a maior do país.
 
No despacho que determinou a suspensão da transação, o ministro Augusto Sherman reproduz diversos detalhamentos técnicos presentes na representação, que levam a crer que o método e as referências levadas em conta para determinar o preço do imóvel são inconsistentes e irregulares, desvalorizando o terreno. “Há indícios de que o laudo de avaliação elaborado pela empresa S4A Avaliações Patrimoniais foi elaborado contendo inconsistências que permitiram a subavaliação do imóvel”, cita o despacho.
 
Suspeita
O integrante do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-DF), José Geraldo da Silva, explica que, por não existirem imóveis semelhantes ao terreno do BNDES, a avaliação pode ser um pouco mais complicada. Ele ressalta que, por se tratar da área central da cidade, requer muito cuidado. “Há fatores importantes que devemos considerar nesta avaliação, pois trata-se de área central, das últimas de Brasília, uma cidade atípica. Avaliar um bem desse porte não é simplesmente dar uma opinião e pronto, trata-se de um trabalho técnico, exige conhecimento e, principalmente, imparcialidade”, alerta. 
 
A segunda suspeita diz respeito ao valor pago à consultoria S4A para aferir o valor do imóvel. De acordo com o TCU, o BNDES contratou o serviço por R$ 2.420. Mas a tabela definida pelo Conselho Regional de Corretores de Imóveis da 8ª Região estabelece que o custo dos pareceres emitidos para comercializar imóveis corresponde a 1% do valor total da avaliação. Ou seja, nesse caso, a S4A deveria receber R$ 459 mil, uma vez que orçou o terreno em R$ 45,9 milhões.
 
Defesa 
Por meio de nota, o BNDES informou que “mesmo convicto da lisura do processo, suspenderá a transação até que todos os pontos sejam esclarecidos e não pairem dúvida em relação à venda do lote”. A instituição acrescentou que buscará outras avaliações independentes do terreno. Quanto às suspeitas relacionadas à S4A, justificou que seguiu a legislação sobre licitações e que essa empresa foi escolhida por apresentar o menor preço para a realização do serviço.
 
Por meio da assessoria de Comunicação, a Jacoby Fernandes & Reolon Advogados Associados informou que o escritório não representa nenhum interessado no imóvel e agiu motivado por “informação sobre ato possivelmente em desconformidade com o direito”, reiterando que “não tem interesse jurídico ou econômico no caso”.
 
Por fim, o tribunal terá de apurar informações duvidosas sobre a AJS Empreendimentos. A empresa, relata o despacho, foi fundada em 2013, não funciona no endereço indicado no cadastro da licitação e declarou ter um capital social de apenas R$ 1 mil, incompatível para lastrear a aquisição de um terreno de alto valor como o ofertado pelo BNDES. O Correio entrou em contato com a S4A, mas, até o fechamento desta edição, não havia recebido resposta. Nenhum representante da AJS Empreendimentos foi localizado para comentar o processo.
 
Entenda os questionamentos 
 
» O terreno de 9 mil metros quadrados foi avaliado pela S4A em R$ 45,9 milhões e arrematado pela AJS Empreendimentos e Participações por R$ 51,5 milhões 
 
» Duas avaliações independentes mostram, no entanto, que o valor de mercado do imóvel no Setor de Autarquias Norte varia entre R$ 285 milhões e R$ 291 milhões
 
» Com isso, o negócio representaria, no mínimo, um prejuízo de R$ 234 milhões aos cofres públicos
 
» Haveria indícios de diversas irregularidades na maneira como a S4A avaliou o terreno e suas potencialidades
 
» O certame foi realizado três dias antes do feriado de Páscoa, em abril, o que comprometeria a ampla competitividade
 
» Para fazer a aferição de valor, a consultoria cobrou R$ 2.420, quando o padrão é que se cobre 1% do valor do imóvel. Ou seja, para um terreno de R$ 45 milhões, a avaliação custaria quase R$ 460 mil 
 
» A AJS declarou um capital social de apenas R$ 1 mil, incompatível com a capacidade necessária para adquirir o terreno. Além disso, a empresa não funcionaria no endereço declarado.

Fonte: Por ARIADNE SAKKIS e ADRIANA BERNARDES - 25/07/2014 - - 07:39:55
 
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