quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Centro-Oeste é região propícia para formação de tornados, diz especialista


02/10/2014 06h00 - Atualizado em 02/10/2014 06h00


Fenômeno ocorreu nesta quarta-feira nas proximidades de Brasília.
Segundo meteorologistas, pode haver mais tornados até o outono.

Eduardo Carvalho Do G1, em São Paulo
Em uma semana, dois tornados atingiram o Centro-Oeste do país, com ventos que provocaram um acidente que levou a mortes em Mato Grosso do Sul e assustaram moradores de Brasília. Apesar de raros no país, meteorologistas explicam que esse tipo de fenômeno é mais frequente do que as pessoas pensam, e que os estados que compõem o Centro-Sul do Brasil formam a segunda região do mundo que mais registra condições climáticas propícias para a formação deles.

Nesta quarta-feira (1º), um tornado foi registrado nas proximidades do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, resultante de uma forte tempestade. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), foi a primeira vez que este fenômeno foi documentado e confirmado no Distrito Federal. No último dia 24, um barco-hotel afundou no Rio Paraguai com 26 pessoas a bordo ao ser atingido por outro redemoinho momentos antes de sua atracagem. Ao menos 11 pessoas morreram e há três desaparecidos.
Arte explica tornado (Foto: G1)
De acordo com Ernani de Lima Nascimento, professor de meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (RS), a formação de tempestades intensas nesta época do ano no Centro-Sul do Brasil (que engloba o Sul, Sudeste e Centro-Oeste) pode culminar em tornados.
“Estamos saindo do período seco, e as primeiras tempestades estão surgindo. Não podemos dizer que é algo raro”, explica Nascimento.

Brasil na rota
Ele cita um estudo publicado pelo americano Harold E. Brooks, do Laboratório Nacional de Tempestades Severas, ligado à Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês).

De acordo com a pesquisa, depois dos Estados Unidos, a região Centro-Sul do Brasil é a segunda que mais registra condições favoráveis para a formação de tornados. São entre 15 e 20 dias ao longo de um ano.

Segundo a escala Fujita-Pearson o tornado tem sua intensidade medida entre F-0 e F-5, sendo a mais fraca com ventos entre 60 km/h e 117 km/h, e a mais forte com velocidade entre 420 km/h e 510 km/h – o suficiente para arrastar tudo o que houver pela frente e considerado o tipo mais mortal.
No Brasil, é comum o surgimento de tornados F-1, com ventos entre 117 km/h e 181 km/h.


O de Brasília, desta quarta, pode ser considerado um exemplar deste tipo. Mas no país já ocorreram tornados do tipo F-3 (em Indaiatuba, em maio de 2005, e Taquarituba, em setembro de 2013). Segundo Nascimento, há suspeita de que um F-4, com velocidade entre 320 km/h e 420 km/h, tenha tocado o solo em Itu, no interior de São Paulo, em 1991.

Imagens mostram formação de tornado na região de Taquarituba (SP) (Foto: Reprodução / TV TEM)Imagens mostram formação de tornado na região deTaquarituba (SP) 
 
Ingredientes
Para a formação de um fenômeno climático como esse, são necessários alguns “ingredientes”: atmosfera instável (quando qualquer movimento permite que o ar quente suba rapidamente), alto nível de umidade do ar e ventos intensos nos primeiros mil metros de altura. Esses três fatores, ao mesmo tempo, permitem a formação de um tornado.

Não há uma estimativa de quantos redemoinhos surgem ao longo de um ano, mas, segundo o especialista, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul são estados em que podem haver mais ocorrências – muitas delas não percebidas pela população.

O meteorologista afirma que novos tornados podem surgir no país até o início do outono, em março de 2015. "Durante a primavera e o verão, as tempestades ficam mais comuns. Nenhum estado está livre".

Como se proteger?
De acordo com o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), caso você seja surpreendido por um tornado enquanto dirige por uma estrada em local descampado, basta alterar a sua direção de forma a desviar do local onde se observa o redemoinho.

Como ele pode mudar de direção e de velocidade instantaneamente, o instituto recomenda ainda que o desvio lateral no sentido transversal (90 graus) ao de deslocamento do redemoinho é a medida mais indicada. Mas, se as condições da estrada não permitirem escapar, é preciso abandonar o veículo e procurar um abrigo mais seguro em edificações resistentes. Pequenos cômodos, como um banheiro, podem oferecer melhor resistência aos ventos ou desabamentos.

Em último caso, deitar-se em valeta ou depressão do terreno pode ajudar. É preciso cobrir a cabeça com as mãos, já que há perigo de a pessoa ser atingida por detritos.

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