Documento oficial da Petrobras põe em xeque o discurso adotado pela
presidente Dilma Rousseff, nos últimos dias, sobre as circunstâncias em
que o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa deixou o
cargo. Ao declarar que combate os malfeitos, Dilma sustenta que demitiu
Costa em 2012. Ata da reunião que escolheu o sucessor de Paulo Roberto
Costa na Diretoria de Abastecimento traz, no entanto, uma versão
diferente.
No documento, os representantes do governo no Conselho de
Administração da Petrobras não só registram que foi o diretor quem
renunciou ao cargo como ainda fazem questão de elogiar a atuação de
Costa na cúpula da estatal.
A ata resume a reunião do Conselho de Administração do dia 2 de maio
de 2012, presidida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Registrado
na Junta Comercial do Rio no dia 16 do mesmo mês e publicado no Diário
Oficial do estado no dia 28, o documento diz que todo o conselho
concordou em registrar em ata elogios ao desempenho do mesmo diretor
que, agora, a presidente diz ter demitido.
“O presidente do Conselho de Administração, Guido Mantega, em face da
renúncia do diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, submeteu o
nome do senhor José Carlos Cosenza, indicado pela presidente da
Petrobras, Maria
das Graças Silva Foster, para substituí-lo”, informa a ata. Aprovado o
novo nome para a direção da Petrobras, a ata registra: “Outrossim,
determinou o registro dos agradecimentos do colegiado ao diretor que
deixa o cargo, pelos relevantes serviços prestados à companhia no
desempenho de suas funções”.
CORRUPÇÃO REVELADA EM DETALHES
Preso na Operação Lava-Jato, Paulo Roberto Costa fechou um acordo de
delação premiada com o Ministério Público Federal, homologado pela
Justiça. No acordo, Costa se comprometeu a revelar detalhes sobre
esquema de corrupção na Petrobras. Ele já prestou cerca de cem
depoimentos. Não só apontou o envolvimento de empreiteiras como indicou
partidos e políticos que eram beneficiados pelo pagamento de propina a
partir de contratos com a Petrobras.
Num dos depoimentos, como revelou O GLOBO, o ex-diretor contou que
recebeu US$ 23 milhões, em contas na Suíça, de apenas uma empreiteira. O
dinheiro era de propinas que ele recebeu sem que o doleiro Alberto
Youssef, outro acusado no esquema de corrupção, ficasse sabendo.
No último domingo, durante o debate na TV Record, para rebater os
ataques de Aécio Neves (PSDB) em um pedido de resposta, Dilma declarou
que demitira Costa e que, em seu governo, a Polícia Federal fez as
investigações que culminaram na prisão dos envolvidos na Operação
Lava-Jato. Os adversários não chegaram a questionar a presidente Dilma
sobre o fato de que não cabe ao presidente da República nomear ou
demitir diretores da Petrobras.
— Na verdade, uma coisa tem que ficar bem clara! Quem demitiu o Paulo
Roberto fui eu. E a Polícia Federal, do meu governo, foi quem
investigou todos esses malfeitos, esses crimes e ilícitos. Eu sou a
única candidata que apresentou propostas concretas de combate à
corrupção, principalmente contra a impunidade, como, por exemplo, tornar
o crime de caixa dois crime eleitoral — disse Dilma, durante o debate,
sem fazer menção aos agradecimentos que o Conselho de Administração fez a
Costa.
Participaram da reunião do Conselho de Administração, além de
Mantega, os conselheiros Francisco Roberto de Albuquerque, Jorge Gerdau
Johannpeter, Sergio Franklin Quintella, Silvio Sinedino Pinheiro, Josué
Christiano Gomes da Silva — candidato ao Senado em Minas Gerais pelo
PMDB —, a presidente Graça Foster, e a ministra do Planejamento, Miriam
Belchior.
CAMPANHA REAFIRMA QUE DECISÃO FOI DE DILMA
Nos últimos dias, a presidente Dilma tem atacado a candidata do PSB,
Marina Silva, taxando-a de “mentirosa” por ter declarado que votou a
favor da aprovação da CPMF. Mostrando checagem feita pelo GLOBO e que
desmentem Marina, Dilma tem colado na adversária a pecha de mentirosa.
“É muito importante que as pessoas assumam o que fazem. Errar é humano,
mas mentir é desvio de caráter”, atacou Dilma anteontem. ( O Globo )
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