Mistério no ar
VEJA
Para engenheiro que trabalha há 18 anos com a manutenção do modelo Boeing 777, o avião voou sim após sumir do radar
Parente de
passageiro a bordo do avião da Malaysia Airlines, desaparecido desde o
último sábado (7), espera por notícias no Aeroporto Internacional de
Kuala Lumpur - Damir Sagolj/Reuters
O avião desaparecido voou por mais algumas horas após sua última
localização revelada, diz Joselito Souza, engenheiro com mais de 20 anos
de experiência em manutenção de aviões e que desde 1996 trabalha com o
modelo Boeing 777, o mesmo utilizado no voo MH370 que desapareceu
no último sábado com 239 pessoas a bordo.
Em entrevista ao site de
VEJA, o especialista, que também trabalhou como consultor do Boeing 777
para o desenvolvimento do jogo Flight Simulator, esclareceu
dúvidas técnicas que surgiram no decorrer das buscas.
Afirmou também que
é “praticamente impossível o piloto desligar todas as formas de
comunicação da aeronave”, pois muitas são automáticas e independem da
ação humana.
Para que tais sistemas parassem, o avião teria de ter caído
ou explodido no ar.
O especialista salienta, contudo, que não é
possível saber o que houve de fato – uma vez que não há quaisquer
vestígios da aeronave.
Ainda segundo Souza, é praticamente impossível
que uma aeronave exploda sem deixar rastros.
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“Há apenas alguns sistemas que ficam sob controle do piloto e podem ser desligados.
O transponder [aparelho de identificação das aeronaves que emite um sinal para os radares] é
um deles.
É possível ficar invisível ao radar.
Mas não é possível o
piloto desligar o todo sistema que envia informações sobre a situação do
avião para outras fontes”.
De acordo com Souza, o envio de dados
necessariamente vai para a companhia aérea e, dependendo do contrato da
empresa com a fabricante da aeronave, as informações também são
enviadas para a Boeing e para a fabricante dos motores.
As informações
enviadas para as companhias independem da vontade do piloto.
Nesta
quinta, o Wall Street Journal revelou que o avião teria voado por cerca de quatro horas após sumir dos radares. As autoridades malaias negaram a informação.
O especialista crê que o transponder realmente possa ter sido
desligado e isso explica seu último ponto de localização captado pelos
radares, sobre o Mar do Sul da China, cerca de uma hora após a decolagem
em Kuala Lumpur.
E crê também que o avião seguiu voando após o
desligamento do aparelho. “Parece-me que não há um comando centralizado
para revelar as informações.
Então, cada autoridade do país [Malásia] fala o que quer para imprensa.
O Wall Street Journal
é um jornal extremamente confiável e não teria motivos para inventar
uma história dessa gravidade”, afirma Souza.
“Não tenho conhecimento
desse desencontro de informações na história da aviação.
Nem mesmo no
acidente da Air France [em 2009], que foi muito complicado do ponto de vista técnico, tivemos essa confusão de comunicação”, avalia.
“Eles [as autoridades malaias] negaram as informações do jornal, mas ampliaram as áreas de busca, numa ação contraditória que nos confunde ainda mais.
Está muito difícil acreditar em qualquer coisa”, lamenta.
Além do sistema de identificação pelo transponder, captado pelos
chamados radares secundários, há outro sistema de varredura dos céus
feita pelos radares primários.
De acordo com o Souza, esse tipo de radar
capta tudo o que voa, mas não identifica as imagens com precisão, pois
não recebe respostas dos objetos captados.
“Esses radares são
ultrassensíveis e podem captar até uma revoada de pássaros”, diz.
Para
diferenciar pássaros de aviões e helicópteros, esses radares calculam a
velocidade de deslocamento dos objetos captados e outros dados.
Um
desses radares primários pode ter captado o avião dirigindo-se para fora
da rota, como foi divulgado – e em seguida negado – pelas autoridades
malaias.
Explosão no ar e outras hipóteses – O modelo 777 é
uma aeronave considerada muito segura, com diversos sistemas redundantes
– ou seja, sistemas que se repetem para o caso de algum deles falhar.
“Já tivemos um caso de um modelo anterior, um 737, que perdeu parte da
cobertura do corpo da aeronave durante o voo.
O avião ficou como um
carro conversível, mas não caiu e o piloto conseguiu pousar”, diz Souza.
“É tudo tão redundante que é difícil acreditar que um 777 cairia por
uma falha técnica ou estrutural”, completa.
Ele foi o primeiro avião com
tamanho similar ao do Jumbo, mas que voa apenas com dois motores.
Por
isso, de acordo com o especialista, a Boieng teve de reforçar os
sistemas de segurança no modelo para que ele fosse aprovado e homologado
para a aviação civil.
“Não dá para o 777 perder todos os sistemas de segurança, a menos que
haja uma ação ilícita”.
Aí entram as hipóteses de uma bomba detonada a
bordo, sequestro da aeronave ou ação intencional dos pilotos.
“Porém, o
que chama a atenção é que não foi encontrado nenhum vestígio e as aeronaves têm vários componentes que boiam, é praticamente impossível explodir no ar e não deixar rastros”, explica.
A última mensagem – A tranquilidade da última mensagem de rádio
registrada – “Está tudo bem, entendido” – e a ausência de pedidos de
socorro não chegam a ser um mistério, diz Souza.
“Se houve algum
problema que causou um colapso na aeronave, a primeira preocupação dos
pilotos é mantê-la no ar e não falar no rádio”.
Para exemplificar, Souza
lembrou que a caixa preta do avião Boeing 737 da Gol, que caiu em 2006
no Mato Grosso após ser atingido por um jato Legacy da Embraer, revelou
que os pilotos não conversaram com a torre de comando durante a queda.
Souza afirma que para haver um acidente com um 777 sem um fator
externo – terrorismo, sequestro ou ação deliberada dos pilotos – é
preciso três fatores: uma falha humana, uma falha técnica e uma
coincidência.
“Só uma falha técnica não derruba o avião, pois há vários
sistemas redundantes. Só uma falha humana também não á capaz de fazer
isso, pois o piloto nunca está sozinho, ele tem ao menos um co-piloto”,
diz.
“Está difícil acreditar nas autoridades malaias.
Segundo eles, o
avião não foi para o chão. Também não foi para o mar no local próximo da
última localização.
Não se desintegrou porque não acharam pedaços.
Para
eles o avião realmente desapareceu!”, exclama.
“Com as informações que
eles passaram até agora está muito difícil tirar qualquer conclusão
sobre o destino do voo”, finaliza.
O desaparecimento do Boeing 777
Fonte: agência Reuters
Cronologia do desaparecimento do voo MH370
Desaparecimento
Mulher chora enquanto fala ao celular em busca de informações de um parente que estava no avião da Malaysia Airlines
No dia 7 de março, a companhia aérea Malaysia Airlines comunicou que havia perdido o contato com o voo MH370,
que decolou do aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia, com destino à
capital chinesa Pequim.
O anúncio foi feito após as autoridades do Vietnã confirmarem que o avião não se encontrava mais em seu espaço aéreo, onde o piloto trocou a última mensagem com os controladores.
Segundo o relato inicial da empresa, o Boeing B777-200 transportava 239 pessoas de treze nacionalidades, sendo 227 passageiros, incluindo dois menores de idade, e doze tripulantes.
O anúncio foi feito após as autoridades do Vietnã confirmarem que o avião não se encontrava mais em seu espaço aéreo, onde o piloto trocou a última mensagem com os controladores.
Segundo o relato inicial da empresa, o Boeing B777-200 transportava 239 pessoas de treze nacionalidades, sendo 227 passageiros, incluindo dois menores de idade, e doze tripulantes.
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