segunda-feira, 19 de maio de 2014

Copa do mundo não dá voto


Terezinha Nunes
Publicado: 17 de maio de 2014 às 22:24

Desde os anos 70, quando o Brasil foi tricampeão mundial e o presidente Médici era o topo poderoso em nosso país, comandando um regime militar que vivia no auge da repressão, mas saboreava momentos de bom desempenho econômico que inebriavam a maioria da nossa população, criou-se nos meios políticos a impressão de que a conquista de uma copa seria capaz de mudar os rumos de uma disputa eleitoral.

Na época, Médici contribuiu para isso utilizando os jogadores e o título conquistado para difundir o lema dos militares de então que pregavam a existência de um Brasil grande e poderoso.

Grande parte da esquerda brasileira entrou nesse mesmo clima e torceu para o Brasil perder a copa, imaginando com isso impor uma derrota – por menor que fosse – ao regime militar.

A versão que ligou quase definitivamente o futebol à política se consolidou através dos anos e inebriou muitos candidatos a deputado que passarem a imprimir tabelinhas da copa para distribuir com os eleitores buscando ganhar visibilidade já que as copas acontecem sempre em ano de eleição parlamentar.

Ainda hoje há quem acredite nisso e, vez por outra, até analistas políticos caem na tentação de afirmar que se o Brasil vencer a copa deste ano, a presidente Dilma vai recuperar parte da popularidade perdida e até mesmo vencer a eleição no primeiro turno, hipótese cada vez mais distante de acontecer, como parece patente nas últimas pesquisas feitas por institutos de credibilidade como Ibope e Datafolha.

A análise do resultado das últimas copas – todas disputadas em plena democracia – deixa patente que toda essa celeuma em torno do assunto não passa de uma grande ilusão.

O Brasil venceu a copa de 2002 quando o presidente era o tucano Fernando Henrique Cardoso e quem ganhou a eleição presidencial naquele ano não foi o PSDB mas a oposição representada pelo PT e pelo ex-presidente Lula, que conquistava seu primeiro mandato enquanto os brasileiros ainda saboreavam o pentacampeonato mundial, num certame que teve como sedes o Japão e a Coreia do Sul.

As copas do mundo que se seguiram – 2006 e 2010 – foram de derrota para o Brasil que perdeu o título para a França e a Espanha. Quem estava no poder no Brasil nesses dois anos era o PT e nos dois quem venceu não foi a oposição mas a situação. Em 2006 Lula reelegeu-se presidente e em 2010 elegeu como sua sucessora a atual presidente Dilma.

Os deputados já compreenderam que vitórias no futebol não garantem bom desempenho nas urnas, tanto que este ano a copa é no Brasil e, nem por isso, se vêm tabelinhas por aí.

Imagina-se que o presidente Lula, mesmo tendo vencido três eleições, independente do resultado das Copas, como está demonstrado acima, acreditou que uma Copa no Brasil era capaz de mudar tudo e dar ainda mais anos de poder ao PT, tanto que acertou fazer o certame este ano no Brasil e já se preparava para comemorar o hexa quando foi surpreendido com as manifestações nas ruas.

Incontinente e no desespero porque Dilma está caindo nas pesquisas passou a culpar esta semana a oposição pelas manifestações.

Poderia ler a entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo recentemente pelo presidente do Ibope Carlos Augusto Montenegro.

Com clareza, ele afirmou que, se o Brasil ganhar a copa, Dilma pode, momentaneamente, melhorar de patamar, mas logo em seguida a tendência é piorar, a não ser que algo de monumental, além de uma Copa do Mundo, venha a ocorrer. O que não está previsto.

Diario do Poder

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