O lançamento da pedra fundamental, em 15 de janeiro de 2010. Só faltou Paulo Roberto Costa na foto.
BACABEIRA (MA) - No início de 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a governadora Roseana Sarney, o pai dela, senador José Sarney (PMDB-AP) e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, fizeram festa, com direito a discurso, para o lançamento da pedra fundamental da Refinaria Premium I em Bacabeira, a 60 km de São Luis. Seria a maior refinaria do Brasil, com capacidade de produzir 600 mil barris/dia, empregaria 25 mil pessoas no ápice das obras e deveria entrar em pleno funcionamento em 2016.
Quatro anos depois,
o que se vê é a paralisação da obra, que somente em terraplanagem, consumiu R$
583 milhões, além de mais R$ 1 bilhão em projetos, treinamentos, transporte,
estudos ambientais. Todo o montante foi pago pela Petrobras.
O custo total da refinaria está
estimado em R$ 38 bilhões, mas a própria empresa afirmou, em nota enviada ao
GLOBO, que “somente após a conclusão da etapa de consulta ao mercado será
possível mensurar o custo total da refinaria”. A previsão, agora, é que ela
entre em operação em 2018.
Apesar da festa no lançamento da
pedra fundamental, nem projeto básico havia na ocasião. De prioritária, a
futura refinaria entrou num limbo. No Plano de Negócios para o quadriênio
2013/2017, o empreendimento consta apenas na carteira de fase de projeto. Um
relatório de fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU), de abril do ano
passado, apontou indícios graves de irregularidade na terraplanagem — a única
obra que teve início, mas que foi paralisada sem ser concluída, conforme
relatório do tribunal. De acordo com os fiscais do TCU, somente em 1º de
novembro de 2010 — oito meses depois da festa com Lula e companhia — e já com a
terraplanagem em andamento, é que foi assinado um contrato para elaboração do
projeto básico da Refinaria.
A pressa da Petrobras em dar
visibilidade a uma refinaria que não tinha nem projeto básico ocasionou, de
acordo com relatório do TCU, um dano de R$ 84,9 milhões. Diz um trecho do
documento: “Entende-se que o contrato não poderia ter sido assinado sem a
liberação das áreas para o consórcio construtor. A consequência disso foi um
dano de R$ 84,9 milhões”. No entendimento dos técnicos do tribunal, a
petroleira foi responsável pelo atraso na liberação do terreno e demorou a
emitir ordens de serviço para que a terraplanagem começasse. O valor do dano
contempla uma ação extrajudicial e um aditivo.
Os auditores do TCU apontaram que
houve mudanças no leiaute do projeto e, com isso, toda a obra foi comprometida.
“A gênese de todo o problema parece estar na decisão de iniciar-se uma obra
desse porte sem um planejamento adequado, passível de toda sorte de
modificações. Até esta data (3 de abril de 2013), passados cinco anos dos
primeiros estudos, ainda não se tem um projeto completamente definido para a
Premium I”, anotaram os auditores.
Profusão de aditivos
Segundo a vistoria do TCU, foram
feitas alterações que transformaram completamente o projeto. “Uma importante
alteração foi o aumento considerável do número de tanques. Ao que consta, a
tancagem planejada inicialmente para situar-se na zona portuária, por
restrições de espaço ou mesmo por mudança de concepção do projeto,
localizar-se-á na área da refinaria”, observaram os técnicos, que apontaram
outras mudanças significativas no plano original. “Essas modificações
impactaram o contrato de terraplanagem, contribuindo, certamente, para a
profusão de aditivos”, escreveram os auditores.
A terraplanagem foi contratada em
14 de julho de 2010 com o Consórcio GSF, formado pelas empresas Galvão
Engenharia, Serveng Civilsan e Fidens Engenharia, com valor inicial de R$ 711
milhões. Em abril do ano passado, o contrato foi interrompido, com 80% das
obras concluídas e o pagamento de R$ 583 milhões. Os auditores verificaram que,
entre esses aditivos, haviam vários que cancelavam determinado valor, com
mudanças no quantitativo dos trabalhos, mas, em seguida, um novo aditivo
aumentava o mesmo valor, inclusive com centavos, em outro tipo de serviço.
Os 13 aditivos feitos ao contrato
da terraplanagem acarretaram um acréscimo de R$ 14,2 milhões na obra. No total,
foram realizadas 14 modificações de valores e mais uma transação extrajudicial
entre as partes no valor de R$ 73,9 milhões. A terraplanagem também precisou
contar com um trabalho extra por causa de erosão no solo e, para tratar do
problema, a Petrobras contratou outra empresa a Cristal Engenharia, por mais R$
7,5 milhões. A auditoria anotou: “ou seja, a Petrobras celebrou outro contrato,
destinado a manter parte dos trabalhos de terraplanagem já desenvolvidos.
Todavia, foi constatado que este novo ajuste não prevê a conclusão de algumas
estruturas inacabadas.”
Oito dos aditivos realizados pela
Petrobras no contrato modificavam, e muito, o tipo de serviço a ser realizado,
mas, no final, os valores cancelados e acrescidos acabaram praticamente os
mesmos. Os técnicos demonstraram que “embora se compreenda que uma obra de
terraplanagem necessite de ajustes nas quantidades estimadas inicialmente, a
dimensão desses ajustes reflete a má qualidade do projeto. Não se pode aceitar,
por exemplo, uma redução da ordem de 96% em um quantitativo”.
A Petrobras informou que os
aditivos ocorreram “em consequência do elevado grau de detalhamento adotado
pela empresa na contratação, com mais de 144 itens na planilha de preços
unitários”. Sobre a concorrência para a construção da refinaria, a assessoria
da petroleira declarou que “os pacotes de contratação estão em ajustes finais
para serem lançados no mercado. Em março já foram emitidos convites para
terceirização dos serviços de geração de hidrogênio e de tratamento de água e
efluentes. Os projetos passaram por adequações e estão aderentes às métricas
internacionais”. ( O Globo )
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