segunda-feira, 12 de maio de 2014

O LADO B DAS PESQUISAS ELEITORAIS--Vinicius Torres Freire, Folha de SP


Economia importa menos do que se julga, indecisão é grande e eleitor ainda 'está em outra'

A SITUAÇÃO ECONÔMICA do país tem muita, pouca ou nenhuma influência no voto para presidente? "Muita" para menos da metade do eleitorado, 49%, segundo o Datafolha da semana que passou. "Nenhuma" ou "não sabe" (o que dá quase no mesmo) para 23%.

Mas o que quer dizer a resposta? Que a economia "em geral" não tem tanta influência ou que a economia não está influenciando tanto agora?

Para os "mais ricos" da pesquisa, famílias com renda superior a dez salários mínimos, a situação econômica tem "muita influência" no voto para 70% dos entrevistados. Entre os mais pobres, os de renda inferior a dois mínimos, para 41%.

Isso quer dizer que os mais pobres estão mais satisfeitos com a situação econômica ou que dão menos importância ao assunto? Os indicadores de ânimo com a economia não diferem de modo relevante entre as categorias de renda.

Interessante ainda é a reação a uma piora da situação econômica até a eleição. Para 50%, a piora teria pequena ou nenhuma probabilidade de provocar mudança de voto.

Mas, de qualquer modo, para 41%, a situação econômica do país vai ficar como está; para 26%, vai melhorar. Ou seja, a econo- mia não piora para dois terços do eleitorado.

A reviravolta de junho de 2013 deveria ter sido suficiente para fazer picadinho de explicações economicistas da política do voto. Se não foi o bastante, os dados do Datafolha picam tais argumentos.

Outra história comumente ouvida em campanhas eleitorais é aquela que relaciona a obscuridade de um candidato a suas possibilidades de vir a ganhar mais votos. Isto é, se o candidato ainda é pouco conhecido do eleitorado, pode vir a crescer. Pode. Pode também vir a ser objeto de ojeriza.

Um argumento semelhante pode ser empregado até para avaliar as possibilidades de candidatos muito conhecidos, como Dilma Rousseff. Sua imagem piorou estrepitosamente no junho de 2013. Mas o que vai ser quando a campanha esquentar?

O eleitorado, em especial o mais pobre e/ou menos informado, relaciona Dilma e seu governo a programas sociais benquistos?

Considere-se o caso de programas que, quando chegam ao cidadão, podem não parecer obra do governo federal, tais como o Pronatec e o Minha Casa, Minha Vida.

O Pronatec oferece formação profissional para pessoas em geral pobres. Segundo o governo, teve até agora 6,9 milhões de matrículas. O Minha Casa, Minha Vida entregou 1,65 milhão de casas (afeta uns 5 milhões de pessoas, pois) e encomendou outro 1,7 milhão. Muita gente.

O que dirá esse eleitorado que fez escola profissionalizante ou conseguiu comprar casa? Vai gostar mais de Dilma? Ou vai dizer "muito obrigado, mas não bastou"?

Dilma está apanhando, mas está de pé, ainda que trema nas bases. Num segundo turno, a distância entre os votos da presidente e os de Aécio Neves caiu de 27 pontos em fevereiro para 11, em maio. No caso de Eduardo Campos, de 32 para 17.

Mas ainda há muito eleitor fulo ou indeciso. A porcentagem de votos brancos, nulos, nenhum ou não sabe anda entre 23% e 25% desde outubro de 2013.

A eleição está perto, no calendário, mas ainda longe, na cabeça da massa do eleitor.


12 de maio de 2014


 

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