sábado, 7 de junho de 2014

Aécio Neves no Roda Vida OU Por que a direita “manda” (ou pode “mandar”) mais no PSDB do que pensa

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No início desta semana Aécio Neves foi o entrevistado do Roda Viva, da TV Cultura.


Sua entrevista me surpreendeu pelo bom número de respostas assertivas, principalmente quando ele demonstrou saber usar a combinação de esperança (em sua proposta) e medo (do oponente). Com certeza, é muito mais do que eu esperava.


Claro que ajustes precisam ser feitos, como a adição de maior emoção na linguagem, além de palavras mais fáceis no cotidiano. Mas, em termos de oposição ao governo do PT, finalmente vimos um bom papel desempenhado.


Atualmente, muitos da direita criticam o PSDB por ser de esquerda, o que é uma verdade. Mas o fato é que o PSDB, como partido de esquerda moderada, pode adotar uma agenda com muitos aspectos que interessem à direita (muito mais do que faria o PT) por pressão da opinião pública de direita.


Entre as propostas de Aécio encontram-se a liberdade de imprensa, rejeição à escravidão, redução de gastos estatais e redução do aparelhamento estatal. Todas propostas que jamais sairiam da boca de um petista.


Por que? Por que, mesmo sendo um partido de esquerda, o PSDB pode facilmente ser pressionado por uma multidão de eleitores de direita cansados de inchaço estatal. Pode até ser que muitas de suas propostas não saiam conforme sua consciência, moldada pelo socialismo fabiano.


Mas a verdade inegável é que há um público lá fora (de direita) clamando por propostas assim, e portanto, o discurso dele tem itens que agradam às pessoas de direita, assim como outros que agradam a uma esquerda moderada.


Esse tipo de discurso acaba nos revelando algo que pode ter um sabor amargo, mas que pode ser melhorado com o tempo: o fato é que o PSDB pode ser levado à direita se existir pressão suficiente da direita para que seu candidato a represente, ao menos parcialmente. Ou seja, o “mercado de ideias políticas” é alimentado mais pela pressão de atores da sociedade civil do que das intenções originais dos partidos.


É por isso que o PT é um partido de extrema-esquerda, mas tem que usar uma proposta aqui e ali que atenda aos interesses da direita. Tudo, é claro, a contragosto deles, que, se pudessem, já entrariam com uma tentativa de censura de imprensa logo no primeiro mandato de Lula. Também é fato que o PT jamais teria uma agenda com vários itens que agradariam à direita. 


No máximo um ou outro item para despistar.


Retornando ao PSDB (e especificamente ao discurso de Aécio no Roda Viva), é preciso ir muito além do que ficar reclamando que “não há um partido que nos represente”. Em vez disso, devíamos fazer uma auto-crítica com o seguinte questionamento: “Será que estamos pressionando os partidos que já existem de forma suficiente em torno das propostas que atendam à direita?”.


Sabemos que o PT não vai atender à essas demandas. O comprometimento deles com grupos socialistas (que pensam dia e noite em tomada de poder de forma totalitária) é grande demais. É uma estrada sem volta. Por outro lado, o PSDB pode ser a opção momentânea, mas tudo depende de nós. Ou melhor, de nossa pressão política.


Enfim, ao invés de reclamarmos de “ausência de partidos de direita”, devemos nos questionar pela ausência de pressão política sobre os principais partidos que podem atender a alguns itens de nossa agenda. Se esse partido vencer, e não nos atender, podemos pressionar o próprio partido que venceu, ou algum outro.


Com esse tipo de mindset, mudamos radicalmente o foco de nossas análises e deixamos de criticar a ausência daqueles que nos representem, mas passamos a nos criticar quando não estabelecemos pressão suficiente para forçar com que algum partido (que pode ser até de esquerda moderada) atenda a alguns itens de nossa agenda.


Podemos apostar que o caminho para que a direita consiga ser melhor representada está em sua capacidade de obter resultados a partir da pressão que ela possa lançar para que até partidos de esquerda (mas que fujam de extremismos como o socialismo bolivariano ou maoista) sejam forçados a representá-la, por haver demanda para isso.


É a mesma situação de dois restaurantes que não vendem carne. Mas um deles tem uma crença forte no vegetarianismo, enquanto o outro apenas não pensou em incorporar carne no cardápio. A pressão por gente querendo comer carne pode levar a este último a repensar sua opção de não ter carne no cardápio. É basicamente uma lei do mercado.


Isso vale da mesma forma para as ideias políticas. Se somos “consumidores” de ideias políticas, podemos pressionar claramente para que sejamos atendidos. Não seremos clientes do PT, naturalmente. Mas podemos sê-lo até do PSB. Mas é muito mais provável que o PSDB faça um melhor atendimento de nossas demandas.


Por isso mesmo, podemos apostar que a assertividade de Aécio em torno de verdadeiras críticas ao PT surgiu evidentemente por que hoje em dia há um pensamento de direita muito mais presente na opinião pública do que havia há quatro anos atrás, por exemplo.

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