O GLOBO - 07/06
Por
que ser contra a Copa agora, quando de nada mais adianta, pois os
gastos já foram feitos, os ingressos vendidos e os times estão chegando?
Estamos
a menos de uma semana — este é o último sábado — da 20ª Copa do Mundo, a
segunda realizada no Brasil, mais de meio século após a primeira, em
1950. Tomara que daqui até o dia 12 prevaleça a vontade da maioria, não a
desconfiança e o medo estimulados por ameaças da minoria, numa total
inversão do princípio democrático. Estou com os 71% que disseram ao
Ibope que vão torcer para que tudo dê certo (só 11% de espíritos de
porco querem que o Mundial fracasse).
Concordo que a Copa não é
prioridade, que saúde e educação deveriam vir antes, que houve
desperdício de recursos, atraso nas obras, inépcia e provável
superfaturamento, entre outras críticas dos que se opõem. É tanta coisa
dando errado, e ainda querem privar o povo de uma fonte de alegria. Além
do mais, em que o cancelamento do evento esportivo nessa altura do
campeonato ajudaria a resolver as mazelas do país? E por que não houve
protestos quando o governo se empenhou tanto para sediá-la, nos
sujeitando às imposições tirânicas da Fifa? Houve comemoração.
Em
vez de palavras de ordem, gostaria de assistir a um amplo debate em que
fossem contestadas as vantagens anunciadas pelo governo de que, por
exemplo, os turistas vão gastar R$ 25 bilhões, de que o nosso PIB vai
receber um reforço de R$ 30 bilhões, três vezes mais do que na Copa das
Confederações, e de que, ao contrário do que se diz, a reforma dos
estádios não está drenando recursos que deveriam ir para a educação. A
presidente declarou que no início da administração Lula o orçamento
dessa pasta era de R$ 18 bilhões e hoje é de R$ 112 bilhões. As despesas
com os estádios vão ficar, segundo ela, em R$ 8 bilhões.
Por que
ser contra a Copa agora, quando de nada mais adianta, pois os gastos já
foram feitos, os ingressos vendidos e os times estão chegando? Não se
trata evidentemente de proibir as manifestações, mas de impedir seus
abusos e excessos, de dar um basta a uma rotina em que grupos
organizados, sob qualquer pretexto e muitas vezes com violência,
tumultuam as cidades, impedindo o trânsito, bloqueando ruas e cerceando a
prerrogativa de ir e vir da população. Por isso, foi muito oportuno o
manifesto recém-lançado por sociólogos, antropólogos, pesquisadores
universitários, exigindo respeito aos direitos constitucionais que estão
sendo “usurpados”.
Em suma, por que não seguir o exemplo dos
servidores de Goiânia em greve? Eles aproveitaram a oportunidade do jogo
amistoso lá e realizaram protesto pacífico contra o governador do
estado, sem atrapalhar a alegria de milhares de torcedores que foram
vibrar com a vitória do Brasil.
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