quinta-feira, 3 de julho de 2014

Dois pontos fora da curva: resposta a Miriam Leitão



Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Luiz Eduardo da Rocha Paiva

A jornalista Miriam Leitão move uma permanente campanha pela punição dos agentes do Estado que derrotaram a luta armada, sendo seu alvo principal os militares. No momento, ela procura ampliar os horizontes da campanha, de modo a motivar a interferência do governo no ensino das escolas militares, impondo-lhes a revisão facciosa da História do Brasil, particularmente a dos anos 1960 e 1970.

Em sua visão distorcida e embotada pelo preconceito contra as Forças Armadas, jamais procurou conhecer o sistema de ensino militar, que prepara jovens para o exercício da cidadania cívica e patriótica. Pretende, ainda, que as Forças Armadas peçam perdão por excessos eventualmente cometidos contra os grupos armados socialistas revolucionários e totalitários nos anos 1960-1970.  

Em recente entrevista com o Ministro da Defesa, Miriam Leitão propôs a imposição da bibliografia oficial do Ministério da Educação (MEC) no ensino da História do Brasil nas escolas militares. Mas desde quando a versão chapa branca da história da luta armada no País, transmitida em escolas civis com aval do MEC dominado por socialistas, corresponde à verdade?

O Ministro da Defesa concordou com a proposta pelo simples fato de ser filiado ao PT, partido integrante do Foro de São Paulo, pois ela contribuirá para a disseminação da ideologia socialista na juventude militar.

Ou seja, a campanha vai ao encontro da estratégia de imobilização das Forças Armadas, promovida pelo segmento majoritário do PT, que dita a pauta política do governo e cujo propósito é implantar o socialismo no Brasil, ideologia assumida publicamente pela Presidente da República[1].

Seria falta de bom-senso, se não fosse proposital, transformar o ensino militar tomando como base um sistema público falido em termos de organização, disciplina, eficiência e valores, que vive em greve em grande parte do ano letivo, e cuja cabeça é exatamente o MEC.

Um sistema onde a cola é tolerada e o professor, desprestigiado, ameaçado e agredido por alunos, não tem autoridade moral, seja por não ter respaldo de seus superiores para exercê-la seja por não dar exemplos de cidadania.

São escolas onde não há segurança física para os alunos, pois eles se agridem, se ferem e, às vezes, se matam ou são assediados livremente por drogados e traficantes. Um sistema onde as escolas são imundas, pichadas e os equipamentos estão danificados e sem manutenção, pela falta de cuidado gerencial e de educação de uma juventude sem freios.

No ensino superior, vândalos travestidos de estudantes invadem e depredam instalações, violam direitos humanos e intimidam a docência e a direção das universidades e faculdades. Com essas credenciais, organizados em grupos ideológicos, pretendem impor as condições de gestão do meio acadêmico, bem como tornar campus universitários territórios livres para drogas, abusos e outros desvios de conduta. Estudantes que violam a dignidade de calouros em trotes violentos e desmoralizantes, sendo seus responsáveis, via de regra, perdoados quando o tema sai da mídia.

É essa matriz de falta de civismo, de ética e de valores, é esse modelo de indisciplina, de desrespeito aos direitos humanos e de reconhecida ineficácia como sistema de ensino que Miriam Leitão, cega pelo ódio revanchista, e certas autoridades, como estratégia gramcista para implantação do socialismo no País, pretendem transportar para o ensino militar. Logo o ensino militar, referência nacional e internacional, onde não ocorre nenhuma das mazelas que ponteiam o meio estudantil subordinado ou ligado ao MEC.

As escolas militares dignificam o ser humano e preparam uma juventude sadia de corpo e espírito, ciente de suas responsabilidades, direitos e deveres na construção do futuro do Brasil. Ora, dona Miriam Leitão, seu discurso não convence a ninguém que tenha um número mínimo de neurônios funcionando normalmente.

Quanto às Forças Armadas de hoje não serem como as dos anos 1960 e 1970 e, assim, deverem pedir perdão por abusos cometidos na repressão à luta armada, a resposta do Ministro não considerou a secular cultura organizacional das Instituições castrenses e o perfil psicológico do militar brasileiro. Por outro lado, a autoridade pode ter preferido não manifestar claramente sua opinião por outros motivos.

Foi o Brasil que evoluiu e as Forças Armadas evoluíram com ele, o que não as obriga a sepultar princípios, ideais, crenças e valores fundamentais. Portanto, se ainda forem fiéis aos anseios e interesses da Nação, esta sim senhora absoluta de sua lealdade, elas a defenderão contra ameaças sejam quais forem e venham de onde vierem. Além disso, se ainda prezam o sagrado compromisso com sua história, tradições, companheiros e chefes do passado, sem ferir preceitos legais, não abandonarão os que “na hora da agressão e da adversidade, cumpriram o duro dever de se opor a agitadores e terroristas de armas na mão, para que a Nação não fosse levada à anarquia”[2], diante da injustiça contra eles em andamento, a partir das investigações unilaterais da Comissão da Verdade, ao arrepio da lei que a instituiu.

Quanto ao pedido de perdão, para não haver hipocrisia, falsidade e facciosismo, sugiro cobrá-lo do PCB, PCdoB e dos membros dos antigos grupos armados revolucionários, isto é, dos ex-guerrilheiros, hoje anistiados e em importantes posições na sociedade.

Eis os que deveriam pedir perdão pela tentativa violenta de implantar um Estado totalitário socialista; pelo terrorismo, sequestros, torturas e execuções que, direta ou indiretamente, resultaram em centenas de vítimas entre agentes da lei e cidadãos comuns; bem como pelo atraso na redemocratização do Brasil, fruto de sua aventura irresponsável, liberticida e deletéria.

Eles não têm legitimidade para fazer essa cobrança de quem os derrotou e anistiou ao invés de promover um banho de sangue como eles fariam, pois assim foi o desfecho dos conflitos onde o socialismo venceu, a exemplo de suas matrizes diretoras soviética, chinesa e cubana.

[1]
 Consultar www.brasillivreedemocrata.blogspot.com.br/2010/10/dilma-e-socialista.html (entrevista de Dilma Rousseff à Folha de São Paulo de São Paulo em 2007. Acesso em 03/06/2014).
[2] General de Exército Walter Pires de Carvalho Albuquerque – antigo Ministro do Exército.


Luiz Eduardo Rocha Paiva, General na reserva, é Professor Emérito e ex-Comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.

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