José Agripino Maia coordena a campanha de Aécio Neves; confiança nas alianças.
O balanço das convenções
partidárias feito pelo PSDB já contabiliza o apoio do PMDB ao candidato Aécio
Neves em cinco Estados. O último a aderir à campanha tucana foi o ex-governador
do Espírito Santo Paulo Hartung. Há outros três Estados em que o PMDB, partido
oficialmente coligado ao PT, está junto com o PSDB e o DEM, mas o palanque é
considerado "aberto" e nele cabem tanto aliados de Aécio como os da
presidente Dilma Rousseff.
Desde o governo Fernando Henrique
Cardoso, esta é a primeira vez que um candidato do PSDB a presidente consegue
reunir um arco de apoio tão amplo. Em 1994, FHC se elegeu numa coligação com o
PFL e o PTB; quatro anos mais tarde somaram-se à chapa da reeleição o PMDB e o
PPB. Em mais de um ano de trabalho, Aécio conseguiu costurar suas diferenças
com o PSDB de São Paulo e unir um partido que desde 2002 se apresenta dividido
nas eleições presidenciais. Também atraiu seu parceiro mais tradicional, o
Democratas, junto com a maioria do PSD - siglas originárias do antigo PFL.
Na reta final da campanha, Aécio
rachou o PMDB. O candidato do PSDB também terá o apoios no PP, como o da
senadora Ana Amélia, candidata bem situada nas pesquisas ao governo do Rio
Grande do Sul, do PSC (Sergipe) e até do PCdoB, o mais tradicional aliado do PT
nas eleições presidenciais, numa aliança de ocasião no Maranhão. PSDB, DEM e
PMDB estão juntos com Aécio no Rio, Bahia, Espírito Santo, Ceará e Piauí. No
Pará, Goiás e no Rio Grande do Norte compõem "palanques abertos".
De longe, a impressão que as
alianças em torno de Aécio passa é a de uma reaglutinação das forças de
oposição à direita. De perto fica evidente que se trata de uma articulação que
nada tem de ideologia. No futuro, essas forças podem até servir de embrião para
um partido de centro que não o PSDB, mas no momento o que elas têm em comum não
é o antipetismo (muitos estavam no 'Volta, Lula'), mas a reação à mudança da
tática eleitoral do PT.
Até a eleição presidencial de
2010, o PT sempre deu prioridade à disputa do poder federal. Na eleição de
2014, o objetivo evidente do partido é fincar raízes também nos maiores
colégios eleitorais. Se a tática der certo, reduzirá significativamente o
espaço das outras siglas, especialmente da maior delas, o PMDB.
"Rompeu-se o acordo tácito
em que o PT ficava com o poder federal e o resto recebia apoio para ficar com
prefeituras, Estados e deputados", diz o filósofo Marcos Nobre. "Ter
candidatos competitivos em grandes Estados significa também fazer bancadas maiores,
melhorar a posição do PT no Senado". A formação de grandes bancadas pode
dar ao PT, nas eleições de 2014, por exemplo, o comando do Congresso, hoje
controlado pelo PMDB, que detém as presidências do Senado e da Câmara.
Para conseguir reunir esse arco
de apoio político, Aécio, inicialmente, teve de atrair as diversas facções do
PSDB. Nas últimas eleições presidenciais, desde 2002, sobretudo nas duas
candidaturas do ex-governador de São Paulo José Serra, o candidato do principal
partido da oposição sequer conseguiu alinhar as próprias fileiras. Exemplo
sugestivo é o da eleição de 2002, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva.
Serra foi ungido candidato após
uma feroz disputa interna com o então presidente do PSDB, Tasso Jereissati, mas
logo foi abandonado pelo governo e pelo partido. Em todas as suas instâncias. O
próprio Tasso declarou apoio à candidatura de seu conterrâneo e hoje adversário
político Ciro Gomes, que em 2002 concorreu à Presidência pelo PPS.
Atualmente, Tasso é favorito na
disputa por uma cadeira no Senado, segundo as pesquisas. Mas hesitou até o
último minuto em ser candidato. O ex-senador tem um histórico cardíaco que
recomenda cuidados com a saúde e uma bem sucedida carreira empresarial a ser
preservada. Só virou candidato devido a um apelo pessoal de Aécio. Com ele na
chapa, a candidatura do senador Eunício Oliveira (PMDB) ao governo do Ceará
ganha mais musculatura - e com ela a campanha tucana, que tem como um dos
objetivos dividir as forças de Dilma no Nordeste.
Quem acompanhou a campanha
eleitoral de 2010 registrou que o senador José Agripino Maia (RN), presidente
do DEM, não pediu votos na propaganda partidária para José Serra, muito embora
o partido tivesse entrado com o candidato a vice-presidente na chapa do PSDB.
Hoje, Agripino não só está cem por cento engajado na candidatura de Aécio
Neves, como é o coordenador geral da campanha.
O senador atribuiu parte do
mérito pelos apoios conquistados ao fato Aécio ter começado a trabalhar cedo.
"Ele conversa comigo há mais de um anho", diz. E ao jeito mineiro do
candidato de fazer política. "É onde entra o mérito dele, Aécio é
simpaticão, é muito transado, ele foi construindo relação", diz. "Com
Ana Amélia foi no Senado. Dava pra ir discutindo, acomodando, ajustando".
Foi também no Senado que Aécio construiu amizade com Aloysio Nunes Ferreira,
cuja escolha para vice na chapa é decisiva para a convivência do candidato com
o PSDB de São Paulo.
Graças a essas conversas foi
possível juntar no mesmo palanque, no Rio de Janeiro, o PMDB e o ex-prefeito
Cesar Maia, o que antes parecia inconcebível. O apoio do PSB ao PT apenas
precipitou a aliança, "encheu um copo que já estava quase cheio" pelo
apoio de Lula à candidatura de Lindbergh Farias (PT) e pela indefinição ou
estímulo de Dilma a outros candidatos. "Essas coisas foram se somando e
ele administrando com maestria isso".
Em 2002 o PMDB também tinha uma
aliança nacional com Serra. A dissidência pemedebista, que depois se alastrou
por várias seções do partido, começou à época justamente pelo Rio de Janeiro e
pelo mesmo Jorge Picciani que agora patrocina a chapa "Aezão" - a
aglutinação dos nomes de Aécio com o de Luiz Fernando Pezão, candidato do PMDB
ao governo do Estado.
Na Bahia, PSDB, DEM e PMDB estão
juntos na candidatura de Aécio, algo também inimaginável pelo menos até o
segundo turno da eleição para prefeito de Salvador, em de 2012, vencida por ACM
Neto. A própria candidatura do empresário Paulo Skaf ao governo de São Paulo,
apresentada pelo PMDB como simpática à presidente, encerra uma reação ao
expansionismo do PT.
"Na linguagem corrente, o PT
'quer todo o poder', quer 'hegemonia', não quer 'dividir'. Claro que é difícil
saber se uma tática como essa irá funcionar", diz Nobre. Segundo o
filósofo, o aumento da bancada do PT na Câmara e uma diminuição da bancada do
PMDB faria com que "houvesse um partido com cerca de 90 deputados e uma
série de partidos médios (PMDB, PSDB, PP, PSD etc), o que representaria enorme
vantagem para o PT". (Link Valor Econômico)
Nenhum comentário:
Postar um comentário