Delegado titular da 18ª DP (Praça da Bandeira), Fábio Barucke, afirmou que já tem o nome de um integrante da Fifa supostamente envolvido em um esquema que facilitava a obtenção de ingressos da Copa para uma quadrilha de cambistas; segundo ele, o nome teria sido fornecido pelo advogado paulista José Massih, que tenta ter o benefício de delação premiada; ex-técnico Dunga prestará depoimento como testemunha
De acordo com o delegado, o nome teria sido fornecido pelo advogado paulista José Massih, que almeja obter o benefício de delação premiada (colaborar com as investigações e, em consequência, ser de alguma forma beneficiado). O ex-técnico Dunga prestará depoimento como testemunha.
O delegado afirmou que vai continuar investigando para se certificar de que o nome fornecido pelo advogado corresponde à pessoa correta. Barucke informou, também, que um chinês, hospedado em São Paulo, junto com o integrante da Fifa estão entre os sete procurados pela polícia. Suspeito de faturar até R$ 1 milhão por jogo, o grupo está sendo desarticulado pela Polícia Civil. Um ingresso, por exemplo, estaria custando R$ 35 mil.
Quem também prestará depoimento é o ex-técnico da Seleção Brasileira Dunga. Por meio de escutas telefônicas, a polícia constatou que o ex-jogador tem uma ligação estreita de amizade com o argelino naturalizado francês Mohamadou Lamine Fofana. Ele é apontado como um dos chefes do bando.
Abaixo, reportagem da agência Reuters sobre o caso:
Polícia identifica envolvimento de funcionário da Fifa em venda ilegal de ingressos
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A polícia do Rio de Janeiro já identificou a participação de um funcionário da Fifa que facilitaria a ação dos suspeitos detidos nesta semana acusados de venderem ilegalmente ingressos da Copa do Mundo, informou o delegado responsável pelo caso nesta quinta-feira.
O grupo pretendia faturar cerca de 200 milhões de reais no Mundial do Brasil, segundo a polícia. "Por enquanto, o que dá para dizer é que uma pessoa na Fifa... dava facilidades à quadrilha", afirmou o delegado responsável pelo caso, Fábio Barucke, a jornalistas no Rio de Janeiro.
A polícia já tem o primeiro nome do integrante da Fifa, que aparece em escutas telefônicas. Um relatório com o nome dele e trechos das conversas será entregue à entidade ainda nesta quinta para facilitar a identificação.
O "intermediário" da Fifa está no Brasil acompanhando a Copa do Mundo, segundo a polícia. "Ele é um estrangeiro que se prepara para deixar o país logo após o fim da Copa e está no Copacabana Palace onde está parte da Fifa", declarou Barucke, sem dar mais detalhes.
As investigações apontam que ele tinha acesso ao quartel-general da entidade em um hotel de luxo na zona sul do Rio de Janeiro, usava um cartão de estacionamento da Fifa para ter acesso a estádios e áreas reservadas. Teria ainda contatos dentro da entidade que lhe permitiam obter ingressos para serem negociados.
A porta-voz da Fifa, Delia Fischer, disse nesta quinta que a entidade vai se reunir com as autoridades e aguarda receber mais informações sobre as investigações antes de se posicionar.
"Há muitos rumores em torno disso. Teremos uma reunião com eles (autoridades). Precisamos receber as informações. E como vocês sabem, frequentemente é muito fácil chegar a uma conclusão sobre quem é a Fifa e qual entidade está lá. Muitas vezes as pessoas chegam à conclusão de que é a Fifa e talvez não seja da Fifa", disse ela.
"Vamos esperar pelas informações das autoridades e então chegar a uma conclusão.
Veremos e agiremos de acordo... Não podemos comentar até termos mais informações."
Os ingressos apreendidos com os suspeitos na operação policial --batizada de Jules Rimet em referência ao troféu da Copa até 1970-- eram de patrocinadores, organizações não-governamentais (ONGs) e seleções do Mundial, inclusive a brasileira.
O grupo tinha ainda, segundo a polícia, contato direto com a Match, agência de turismo oficial da Fifa. "Há indícios e citações comuns de envolvimento de algum membro da Fifa. A Match está sendo investigada.
E terá que esclarecer como repassava para o Fofana, os ingressos", disse Barucke, referindo-se ao franco-argelino Fofana Lamine, preso pela polícia na terça-feira.
Segundo a polícia, Fofana tinha acesso livre aos eventos da Fifa e negociava bilhetes para áreas nobres dos estádios da Copa, como camarotes. "Só com um grupo de franceses ele faturou 500 mil reais", disse o delegado a jornalistas.
Segundo Barucke, a polícia tem cerca de 50 mil escutas telefônicas sobre a ação da suposta quadrilha e apenas metade desse material foi analisado pelos investigadores.
EX-JOGADORES
Em algumas dessas gravações aparecem ex-jogadores da seleção brasileira conversando com Fofana ou com membros do grupo acusado de negociar os ingressos.
Entre eles estão Carlos Alberto Torres e Jairzinho, que estiveram no tricampeonato de 1970, Dunga, campeão mundial em 1994 nos Estados Unidos, Junior Baiano e até o irmão de Ronaldinho Gaúcho, o empresário Roberto Assis.
"Se algum jogador cedeu ingresso para a quadrilha vai ser indiciado pelo mesmo crime. Tem ingressos da seleção brasileira e tentamos identificar mais duas seleções", afirmou o delegado.
Esses ex-atletas são considerados testemunhas do inquérito policial aberto para investigar o caso, e devem ser convocados para prestar depoimento em breve.
A polícia do Rio de Janeiro quer pedir a prisão preventiva dos 11 detidos na operação de terça-feira e ainda pretende pedir a prisão de mais sete pessoas suspeitas de integrar o grupo.
(Por Rodrigo Viga Gaier)
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