quinta-feira, 27 de março de 2014

ÀS PORTAS DA DESAGREGAÇÃO FINAL

Carlos Chagas 
 

 
Publicado: 20 de março de 2014 às 7:48 Diario do Poder
 
O país parece haver chegado ao limite. Não há uma cidade, uma região ou um estado onde a população tenha deixado de manifestar  sua indignação diante da má prestação de serviços públicos, de episódios de violência policial contra pessoas, de corrupção  envolvendo recursos públicos ou atividades  privadas e até de deficiência no funcionamento das instituições nacionais.

Trata-se de um fenômeno novo em nossa realidade, iniciado em junho do ano passado com as primeiras manifestações populares de protesto e multiplicado até hoje,  trazendo em seu bojo excessos, violências e confronto entre o cidadão comum e a autoridade pública.

Tornou-se rotina assistir o povo ir para a rua, interromper o tráfego, erigir barricadas, queimar lixo, pneus e material de toda espécie, protestando porque uma bala perdida tirou a vida de um inocente, uma patrulha policial exorbitou de suas obrigações, uma determinada linha de ônibus ou um trecho do metrô não funcionou.  Ou uma quadrilha apropriou-se de seus direitos elementares. 

Em ritmo  maior ou  menor,  segmentos cada vez maiores impõem sua resistência diante da  má qualidade das obrigações que o Estado deveria prestar às custas de extorsivos impostos e taxas cobrados em ritmo sempre maior.

Claro que em meio a essas manifestações infiltram-se bandidos empenhados em  depredar, invadir e até matar. Para não falar que o crime organizado aproveita-se de cada episódio para tirar partido da impotência  do poder público em garantir a lei e a ordem, ampliando sua ação  perversa e deletéria.

Do que se fala hoje é da evidência de um sentimento de basta,   de chega,  levado dos corações de cada um para  a explosão de todos.

Tome-se Brasília, nas duas últimas semanas. Rodovias interrompidas, ônibus saqueados e incendiados, trabalhadores  impedidos de locomover-se, famílias obrigadas a refugiar-se, autoridades públicas desmoralizadas e sitiadas em locais onde seu resgate torna-se mais humilhante do que a impotência demonstrada em manter a lei e a ordem. A hora é do “cada um por si”, diante da falência do poder público.


Indaga-se onde tudo isso vai dar. A resposta surge clara: no caos. Na  impossibilidade de continuar indefinidamente o processo de desagregação social corroendo os princípios básicos  da convivência civilizada. Em pleno Século XXI retornamos à barbárie, da qual escapam apenas os privilegiados, por ironia os maiores responsáveis pela débâcle que nos assola.

Até justiça pelas próprias mãos começou a ser feita pelos incapazes de conter a própria indignação.

Devem tomar cuidado os chamados poderes constituídos, em pleno processo de desagregação. Já não conseguem mais preservar a autoridade, sequer os locais onde se encastelam. Não é de hoje que as multidões tentam invadir os palácios, depois de haver tomado conta das ruas.

O pior é que agem assim sem ideologia, sem partidos políticos, muito menos sem planos, propostas  e programas definidos. São impulsionadas pelo descrédito no que existe à sua volta  e pelo desespero de não poder  erigir alternativas. Não demora chegará a desagregação final.

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