quarta-feira, 26 de março de 2014
Artigo no Alerta
Total – www.alertatotal.net
Por Rômulo Bini Pereira
Anualmente, no mês de maio, órgãos da imprensa
mundial rememoram o bárbaro assassinato, em 1978, de Aldo Moro, que fora
primeiro-ministro da Itália. Esse crime foi perpetrado por membros das Brigadas
Vermelhas, organização terrorista que preconizava a luta armada para a tomada
do poder constituído.
Essas brigadas e o grupo alemão
Baader-Meinhof serviram de modelo para inúmeros grupos terroristas do mundo,
inclusive brasileiros.
Nas histórias italiana e alemã, são
relembrados todos os atos consumados pelas citadas organizações terroristas
como sinal indelével para que seus cidadãos não deixem cair no esquecimento o
mal que eles fizeram em seus países, nos quais não houve anistia.
Em nosso país, a promulgação da Lei da
Anistia, que chegou a trazer a esperança da reconciliação dos brasileiros, representou,
à época, um passo fundamental para a normalização democrática. Essa lei, ao
colocar um ponto final no conturbado período de nossa história, evitou
confrontos fratricidas de consequências imprevisíveis.
Entretanto, em maio de 2012, por decisão da
presidente Dilma Rousseff, foi instalada a Comissão Nacional da Verdade, hoje
disseminadas pelos Estados e até municípios sob o argumento de que o Brasil não
quer revanchismos, mas tem o direito de conhecer a sua "nova
história".
O foco principal dessas comissões é o
regime militar (1964-1985). Nos seus trabalhos, fica patente que a história é
um item secundário, prevalecendo uma deliberada e vingativa campanha contra as
Forças Armadas, particularmente, o Exército, e em consequência um revanchismo
crescente. As comissões transformaram-se em autênticas delegacias
especializadas, não lhes faltando uma assessoria permanente do grupo Tortura
Nunca Mais, órgão de verdadeira natureza policialesca.
As apurações conduzidas vão gradativamente
elevando ao patamar de herói brasileiro o "combatente" que enfrentava
os militares. É o caso de Carlos Marighella, comunista e terrorista assumido,
autor do "Manual do Guerrilheiro Urbano" (cópia de manuais
estrangeiros e espécie de bíblia do terrorismo brasileiro), um
"herói" em evidência e que já possui bibliografia, nome de rua,
escola e em breve um filme heroico. É o Guevara tupiniquim!
A controversa opinião propalada por um
conhecido periódico a respeito da revolução de 1964 representa de modo claro as
mudanças que vão caracterizando essa "nova história" [Em 31 de agosto
de 2013, o jornal "O Globo" publicou o editorial "Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro"].
Contudo, o que causa espécie é o fato de
esse periódico ser o órgão de mídia brasileira que mais se beneficiou dos
avanços tecnológicos e do suporte financeiro que recebeu do regime que agora
desdenha; fatos de amplo conhecimento da sociedade brasileira. Eis, pois, uma
questão que tais comissões poderiam aclarar para a "nova história".
Analistas isentos não conseguem expor suas
ideias e opiniões a respeito dos governos militares. Se fazem qualquer
referência favorável, são de imediato considerados pela intelectualidade como
de direita, golpistas ou fascistas. É o revide costumeiro dos homens
ideologicamente envolvidos com a esquerda brasileira. Para eles, são "21
anos de escuridão", chavão que já evolui para "21 anos de
trevas", que serão "iluminados" pela "nova história".
A geração que viveu esse período conturbado
talvez tenha que desaparecer para que, no futuro, outros possam estudar e
analisar com isenção a revolução de 1964. Nos dias atuais, conduzida por
intelectuais ideologicamente comprometidos e por muitos que participaram de
grupos terroristas, a história está sendo reescrita de cima para baixo, onde a
neutralidade é uma falácia, com clara predominância do revanchismo e da emoção.
Não será uma "nova história", mas
uma mentira histórica.
Rônulo Bini Pereira, General de Exército na
reserva, foi chefe do Estado Maior do Ministério da Defesa (2004). Artigo
originalmente publicado na Folha de S.Paulo em 24 de Março de 2014.
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