Falta de regras freia a construção civil, o que
provoca baixa no setor. Empresários aguardam definição
patricia.fernandes@jornaldebrasilia.com.br
Nos últimos dois anos, segundo o Sindicato da
Indústria da Construção Civil (Sinduscon-DF), houve uma baixa de,
aproximadamente, 45% no número de obras autorizadas no Distrito Federal.
O esfriamento é refletido na contratação de
funcionários.
Segundo a entidade, o DF fechou 2013 com duas mil
pessoas desempregadas no setor.
O impasse se resume, em parte, em duas
siglas: Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos) e Plano de
Preservação do Conjunto Urbanístico (PPCub). Ambas vão definir parâmetros para
novas construções na capital e estão em discussão para que os projetos de
lei sejam encaminhados à Câmara Legislativa, para só então serem – ou não
– aprovados.
Desgaste
De acordo com o vice-presidente do Sinduscon-DF,
João Accioly, a falta de regramento provocou o desgaste do setor. Segundo ele,
o desaquecimento vem atingindo as construtoras de todos os portes. “É preciso
saber qual a regra do jogo. A dúvida vai tornando as obras inviáveis”, afirma
Accioly.
Segundo ele, a nebulosidade prejudica todas as
partes envolvidas. “Quando a regra é obscura, nós ficamos sem saber. Os riscos
de erros, intencionais ou não, são elevados”, salienta. Para Accioly, a
regulamentação tem papel central na melhoria do cenário. “Com a aprovação do
PPCub e da Luos, a insegurança jurídica diminui. Estamos numa situação crítica
que precisa ser solucionada”, diz.
Ajustes
Mesmo reconhecendo as limitações dos
projetos, o vice-presidente do Sinduscon ressalta a necessidade de lutar contra
o tempo. “As propostas podem ser aperfeiçoadas, mas, sem dúvida, está melhor do
que a realidade que vivemos hoje. Alguns pontos podem ser ajustados depois”,
declara.
Ritmo tem diminuído
A visão do Sindicato da Construção Civil
(Sinduscon) vai ao encontro do que sentem os profissionais do setor. Segundo
operários ouvidos pela reportagem, com a lentidão no surgimento de obras, o
ritmo de trabalho tem recuado nos últimos anos.
“Antes o profissional era disputado pelo mercado,
agora a oferta é muito pequena. Trabalhamos alguns meses e não sabemos como
será o seguinte”, afirma o operário José Filho Silva, 30 anos.
Com oito anos de experiência no segmento, ele
confessa que a falta de estabilidade profissional tem sido motivo de
preocupação. “Tenho uma esposa e dois filhos para criar. Um deles acabou de
nascer. Preciso de trabalho para garantir o sustento”, pontua.
Otimismo
Apesar dos anseios, o operário revela que a crise
ainda não faz parte de sua realidade. “A gente sabe que existe crise, vemos os
patrões e os próprios colegas falarem, mas ainda não fiquei sem emprego”,
destaca.
Para o futuro, as previsões do operário são
otimistas. “Não posso desacreditar. Acho que a situação pode sempre melhorar.
As obras vão aumentar e não vai falta emprego pra gente”, pontua José Filho
Silva.
Trabalhadores estão preocupados
Com 42 anos de experiência na construção civil, o
operário Daniel Pereira Santos, 60 anos, revela ter presenciado um período em
que faltava mão de obra para atender a demanda. Hoje, segundo ele, a realidade
é diferente. “A queda é bem visível.
Antes havia obras espalhadas pela cidade e nós,
trabalhadores, éramos disputados”, diz.
Segundo Daniel, o mercado encontra-se em situação
de razoabilidade e precisa de mudanças para voltar ao ritmo esperado. “A minha
aposentadoria chega daqui a cinco anos, talvez essas mudanças não cheguem até
mim, mas torço pelo futuro dos colegas”, conta.
Situação inversa vive Rodrigo Jesus Santos, 19
anos, recém-chegado ao setor. Segundo ele, a baixa ainda não o ameaçou
diretamente. “Vejo o que os meus colegas falam e fico preocupado. Mas como
estou há apenas um ano e meio trabalhando com isso, ainda não deu pra sentir”,
relata. Porém, ele diz que já pensa em mudar de ramo. De acordo com Rodrigo, a
renda de R$ 1,2 mil por mês tem sido suficiente para garantir o próprio
sustento.
Comércio desativado
A falta de regulamentação também atinge outros
setores da economia. Segundo o presidente da Associação Comercial do DF, Cleber
Pires, a queda do comércio é notória.
“No DF existem mais de 10 mil lojas fechadas. São
diversas dificuldades para conseguir alvará, além dos problemas de segurança”,
pontua. Desse total, 19% estão no Plano Piloto, segundo o presidente. “Isso
corresponde a cerca de 2 mil empresas desativadas. Precisamos alavancar o
comércio”, argumenta.
Ele destaca que a definição de diretrizes claras
ajudarão na ascensão do setor comercial do DF.
De acordo com o economista Pedro Aguiar de Melo, o
crescimento da construção civil é prejudicado pela falta de vontade política
dos envolvidos. “Aprovar um projeto é uma árdua batalha. Há um excesso de
burocracia e de entraves. Já vi casos em que projetos ficaram esperando anos
para serem aprovados”, diz.
Segurança
Com a aprovação das legislações, o economista
espera que haja mais motivos pra comemorar. “Haverá mais segurança para as construtoras
e também para os agentes fiscalizadores. Com a confiança dos
consumidores, haverá um reaquecimento do setor”, pontua.
Saiba Mais
A votação do Plano de Preservação do Conjunto
Urbanístico de Brasília (PPCub) acontece hoje, às 9h, após dois adiamentos, na
sede da Secretaria de Habitação, localizada na Quadra 6 do Setor Comercial
Sul.
Com a retirada do restante do PPCub da pauta, o
Conplan passou a analisar e a votar tanto os destaque dos conselheiros às
emendas do Executivo à Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos), quanto as próprias
emendas.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
Comentario
Se o raciocino é esse devemos tambem
cometer mais crimes para dar emprego aos policiais? Ficar mais vezes doentes para dar
emprego aos medicos e hospitais? Ter mais acidentes de transito para dar emprego às
concessionarias?
Não estaria havendo uma inversão de
valores nesse raciocínio?
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