DERRUBANDO MITOS
PPCUB, Tombamento e UNESCO
(25/03/2014)
Texto de: Dra. Vera Ramos - Arquiteta e Urbanista
Diretora de Patrimônio Cultural do Instituto Histórico e Geográfico do DF
1) Brasília ainda não tem um Plano de Preservação.
Ao contrário de constantes declarações, Brasília já nasceu com um Plano de Preservação.
A concepção da cidade foi traduzida em um projeto urbano e explicitada
no Relatório do Plano Piloto de Lucio Costa, que é a sua Memória
Descritiva. Esse é seu Plano de Preservação. Sendo assim, cabe ao PPCUB
respeitar e detalhar a legislação de proteção, corrigir desvirtuamentos e
resgatar conceitos e valores. Deve também sintetizar e atualizar as
normas de uso e ocupação do solo de alguns setores, quando necessário e
com base em profundos estudos técnicos e de preservação. Entretanto,
apesar de conter dispositivos relativos à preservação, o PPCUB apresenta
propostas sem qualquer fundamentação técnica, que podem acarretar
grandes transformações nas características fundamentais de Brasília.
2) O Tombamento engessa.
Tombamento
significa reconhecimento de valor. É conquista e não castigo! Preservar
é respeitar o passado, com o olhar voltado para o futuro e para a
qualidade de vida da população.
Portanto,
a preservação não exclui o desenvolvimento, mas impõe certos limites
para não descaracterizar o plano urbanístico, que está protegido em três
instâncias: tombamento distrital, tombamento federal e inscrição na
Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. O tombamento do Conjunto
Urbanístico de Brasília é diferente: tem caráter urbanístico e é muito
mais flexível que o tombamento arquitetônico tradicional. Não é a
arquitetura dos edifícios que deve ser preservada, mas sim o urbanismo
da cidade. Poucos edifícios têm sua arquitetura protegida. Quem afirma
que o tombamento de Brasília engessa, está desinformado ou tem má fé.
3) O PPCUB foi o projeto mais discutido com a sociedade.
Nas Audiências Públicas, as
informações sobre o conteúdo do PPCUB foram genéricas e limitadas a
questões pontuais, trazidas pelos presentes. A sociedade não foi
informada de forma didática sobre as principais alterações propostas.
O PPCUB é um documento complexo, prolixo e polêmico, composto pelo
Projeto de Lei, 72 Planilhas e 10 Mapas anexos. As versões apresentadas
em 2012 e 2013 receberam pareceres técnicos contrários e inúmeras
críticas da sociedade, que se mobilizou ao tomar conhecimento do PPCUB
pelas redes sociais e pela mídia. Houve também questionamentos judiciais
e o PPCUB não foi votado pela Câmara Legislativa. Agora, em 2014, em
meio a muitos atropelos, foi feita nova revisão e o GDF adota
procedimentos que desrespeitam os trâmites e ritos legais para tentar,
mais uma vez, a aprovação do PPCUB.
4) A UNESCO exige que o PPCUB seja aprovado.
A UNESCO não exige que o PPCUB seja aprovado, pois da forma como está não atende e até contraria suas recomendações.
A Missão da UNESCO que aqui esteve em 2012 verificou uma série de
problemas no PPCUB e apresentou recomendações, incluindo sua revisão.
Nesse sentido, o Comitê do Patrimônio Mundial tem cobrado anualmente do
Governo Brasileiro o cumprimento dessas recomendações.
Seguem algumas das recomendações da UNESCO:
Seguem algumas das recomendações da UNESCO:
Ø “Assegurar
que as características originais, o espírito e a escala do projeto
original desenhado por Lucio Costa, que garantiram a inscrição na Lista
do Patrimônio Mundial, são contemplados no Plano de Preservação do
Conjunto urbanístico de Brasília (PPCUB);
Ø Aplicar
legislação para proibir a construção de novos edifícios em áreas non
aedificandi definidas pelo Plano Piloto, e para manter as
características de cada escala urbana;
Ø Desenvolver uma estratégia global para o transporte público;
Ø Preservar o caráter de Brasília como uma Cidade Parque;
Ø Definir conclusivamente as restrições para que novos edifícios não surjam na Orla do Lago;
Ø Proibir inteiramente a construção de edifícios residenciais na Orla do Lago;
Ø Garantir acesso público ilimitado aos espaços naturais e verdes da Orla do Lago;
Ø Submeter
as propostas de infra-estrutura no Estádio e seus arredores para
avaliação pelo Centro do Patrimônio Mundial e os órgãos consultivos,
antes de qualquer intervenção;
Ø Estabelecer
um sistema de gestão operacional e eficiente (...) a criação de uma
estrutura central de gestão, o esclarecimento de papéis e
responsabilidades das autoridades administrativas envolvidas e a
alocação de recursos necessários para sua operação adequada aos níveis
local, regional e nacional;
Ø Fazer
uma revisão seguindo como orientação fundamental a proposta feita por
Lúcio Costa para o Plano Piloto, conforme expressa em seu Relatório e no
documento Brasília Revisitada;
Ø (...)
Deve haver uma proposta de normas claras que não deixem espaço para
interpretações subjetivas sobre questões essenciais para a conservação e
preservação do Plano Piloto e suas escalas (bucólica, monumental,
residencial e gregária), particularmente em relação às formas e índices
de ocupação do solo, tipos de uso, volumes e alturas permitidas;
Ø Concluir
a revisão do Plano de Preservação de Brasília (PPCUB) com a garantia de
que as disposições adequadas sejam incluídas para conservar e proteger
os atributos do sítio do Patrimônio Mundial. "
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